— Não. Eu não estava nervoso de vir até aqui. Estava nervoso sobre a opção que você tinha de abrir a porta ou não — Ele forçou um riso pelo nariz — Que bom que abriu.
— Me mostre sua cicatriz. — Yelena pediu. Percebeu que sua voz começava a vacilar.
Ele se virou, da maneira que conseguiu, para mostrar a nuca. Yelena tentou não ficar chocada, mas a imagem a fez sentir um aperto no coração.
A nuca de Kim Sang era cortada verticalmente por uma cicatriz grossa, nodosa e vermelha. A vida parecia pulsar ali, terrívelmente exposta. Yelena sempre esteve cercada de atletas e pessoas que acabavam se machucando feio, mas aquela era a primeira lesão gravemente feia que ela via de perto.
— Eu sei. É horrível. — Ele se virou, voltando a olhar para ela de frente. — Você tem algo para beber?
— Eu não bebo.
Ela percebeu ele ficando mais inquieto.
— Doi?
Ele desviou o olhar, como se desviasse da pergunta dela e se levantou, andando até o casaco que havia deixado no suporte ao lado da porta. Yelena observou ele vasculhar os bolsos até tirar um cantil de metal.
— É como você disse, sinto mais frio na nuca agora. Tive que investir em cachecois.
Yelena escondeu um sorriso, imaginando ele usando três cachecois ao mesmo tempo.
— Eu preciso comprar mais cachecois. Não tenho roupas de frio.
— O frio aqui é cruel. Você precisa se preparar.
— É por causa disso que você bebe?
Kim Sang, que estava de costas para ela segurando seu cantil, parou.
— Não bebo. — Ele murmurou, antes de levar o objeto até a boca, em câmera lenta.
Ela observou Kim virar o conteúdo na boca, enquanto o pomo de adão se movia rapidamente na garganta pálida e exposta. No fundo, ela se questionou se aquela lentidão dos gestos dele era uma forma de relutância. Será que ele não queria estar bebendo?
Kim, quando acabou de beber, cambaleou e teve que se apoiar no balcão, derrubando as decorações de Yelena.
Ela correu até ele, tentando apoiá-lo.
— Que merda é essa?
Kim era muito pesado e seus ombros da largura da porta eram impossíveis de segurar.
— Eu não paro de repetir o seu nome quando estou sozinho. Eu fico falando Yelena Costa. Yelena Costa. Yelena Costa.
Yelena o guiou até o sofá mais próximo da porta, da maneira que conseguiu, onde ele caiu de uma vez, de bruços, com os pés para fora do sofá. Até aquele momento, ela não tinha percebido que ele estava tão bêbado.
— Yelena Costa.
— Pare.
— Não gosta quando eu falo?
— Não quando estiver bêbado.
Ele virou a cabeça para encará-la. Yelena sentou-se novamente no tapete, em frente a ele. Uma vontade súbita de tocá-lo surgiu nela.
— Eu falo errado? Me ensine falar certo.
— Não. — ele falava muito bem, entoando um S prolongado. Yelena o imitou — Yelena Cosssta. Só me faz sentir atraída por você.
Já que ele estava bêbado e provavelmente não iria se lembrar do que estava falando, ela se sentiu a vontade para ser sincera.
— Então vou falar sem parar. — Ele riu. — Yelena Cosssta.

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tenniscourt
RomanceTenniscourt - Yelena Costa não quer morrer. Yelena é feita de suor, ritalina e lágrimas. Além de ser a tenista mais promissora do Brasil, ela é uma das maiores influencers do esporte e marca presença nas festas das maiores marcas da moda. Após um ev...