tenniscourt

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Yelena agradecia profundamente sua versão do passado que escolheu parar de tomar café. Fosse por influência do seu psiquiatra, ou porque alguém a traumatizou dizendo que café deixava os dentes escuros. Naquele estado de ansiedade que se encontrava, se ela ingerisse a mínima gota de cafeína, seu corpo se partiria ao meio.

Ela encarava Geneva drenando um copo cheio de café enquanto comia um croissant como se fosse sua primeira refeição em dias, coisa que Yelena apostava que era verdade. Como era bom ser jovem.

Ela se sentia nadando em uma poça crescente de ansiedade. As palavras arremessadas de Geneva sobre o câncer de sua mãe, a visita dos pais, a própria aparição de Geneva e a constatação que ela cheirava a maconha e cigarro eram demais para uma manhã recém iniciada. Pelo amor de Deus, não eram nem dez horas.

— Não vai comer nada?

— Sem fome.

— Você não quer pedir um copo de Whey protein? Creatina? Essas merdas?

— Sem. Fome. — Yelena repetiu. Ela sentiu o celular vibrar. Era um endereço. — Um hotel? Sério?

— O que, você achava que mamãe iria visitar seu estúdio estúpido? — Geneva sorveu mais café. Aquele tom irônico era tão típico da irmã mais nova que Yelena nem se surpreendia mais.

— Minimamente, sim. — Yelena bloqueou a tela do celular.

Estavam em uma das várias cafeterias do bairro de Yongsan. Pelo horário, poucas pessoas transitavam, além de estudantes apressados e pessoas vestidas formalmente. Pareciam ocupadas demais para notar Yelena e Geneva em seus trajes atípicos. A mais nova, de uniforme, a mais velha, de moletom.

— Você não vai mesmo me contar quem é o cara?

Yelena se surpreendeu ao notar o brilho nos olhos da irmã. No fundo, eles tinham um pouco de inôcencia e curiosidade.

— É um cantor. Ator. Ou pelo menos era. Hoje ele é ilustrador.

— Você tá dando uns pega nele?

Yelena não deixou o riso escapar, o que resultou em um som parecido com o nariz sendo assoado.

— Você estuda na Inglaterra, menina, por que está usando esse linguajar?

— Duzentas mil libras por ano e eu não posso falar cacete e buceta?

Yelena enfiou as mãos no rosto.

— Geneva.

— Ele não me viu se é isso que você está preocupada. Eu estava entrando no prédio e ele deixou a porta aberta pra mim. Foi muito educado. Só achei estranho que ele tava chorando. Um homem gostoso daqueles...

— Você tem 16 anos, garota

— Não sou criança e eu faço 17 semana que vem.

Semana que vem. 26 de Novembro. Era o aniversário de Geneva. Desde quando o tempo passava tão rápido? Subitamente Yelena se sentiu mal por esquecer o aniversário da irmã.

— Eu sei.

— Você tinha esquecido, né?

Eu sou uma péssima irmã.

— Não...

— Você é uma péssima irmã.

A inocência e curiosidade de Geneva desapareceram bruscamente. Ela jogou os cabelos volumosos sobre o ombro e recostou na cadeira, encarando Yelena com raiva.

— O que você fez que deixou ele chorando?

Ainda tinha mais essa. Yelena não tinha processado a informação na primeira vez. Kim Sang. Bêbado. Chorando. Bom Dia.