prólogo

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Yelena Costa quer se matar.

Ela, de certa forma, não vai, mas quer.

Poucas coisas naquele momento podem impedi-la de fazer isso, mas a mais importante delas, contudo, é que isso vai ter que ficar para depois. É hora de sacar.

Ela firma o pé no chão, fazendo um pequeno semi-circulo com a planta do pé e se inclina. Uma mão arremessa a bola para cima e a outra a rebate com a raquete. O set recomeça.

Durante a partida, ela para de pensar que morrer seria uma boa ideia. Assim como um resto de comida no prato, ela passa um papel filme sobre a ideia e guarda na geladeira da sua mente e foca em enfiar a bola no rosto da adversária e incapacitá-la para sempre.

Alguém fala algo em voz alta. Ela vê de relance a mãe gesticulando alguma coisa do camarote e o técnico a xinga. Algo acontece.

Quando a bola chega ao alcance da sua raquete, ela se prepara para mais um arremesso profundo e violento. Uma mecha de seu cabelo cacheado se solta do coque severo e pula sobre seus olhos, mas nada é capaz de impedir sua concentração ao rebatater.

A bola amarela cruza o ar com a velocidade superior a do som, sendo ferozmente arrebatada pela adversária.

Ao avançar para esquerda e rebater, Yelena pisa no chão e sente uma dor lascinante. Contudo, nada naquela dor desconhecida a impede de rebater de volta e marcar um ponto.

A partida acaba. Yelena vence. Ela sente o rosto se contorcer e o corpo não a obedece.

Ela quer e precisa dar um passo para frente, para comprimentar a adversária que agora a aguarda do outro lado da rede com um olho inchado, a mão estendida e uma vísivel pouca vontade de ser uma perdedora simpática.

Yelena não consegue mover o pé. Seu rosto se torna um lençol amassado e de alguma forma, ela tem força para se abaixar e olhar para o próprio pé.

Seu tenis branco no pé direito está vermelho e empoçado. Alguma coisa pegajosa está a impedindo de se mover e um pânico começa a crescer em seu peito: ela está imóvel.

Então ela insiste mais um pouco e dá um passo adiante. Seus olhos ficam pretos e a cortina se abaixa. Ela não ouve mais nada.

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