— Para nós é uma honra tê-la em nosso país!
A estática vibrou pelo ouvido de Yelena, num inglês limpo e sem sotaque. Ela sorriu, olhando na direção das luzes ofuscantes atrás da câmera onde o diretor a indicava.
— Eu estou amando estar aqui! Eu amo a Coreia.
Os apresentadores sorriram e bateram palma entusiasmados.
— Olhem como ela é bonita!
O couro da poltrona branca retesou quando Yelena o apertou após ouvir um dos comentaristas dizer isso, mas seu sorriso não enfraqueceu. A única comentarista mulher o ignorou e salvou Yelena.
— Mas diga, senhorita Costa, quais são os planos para a próxima season? Esperamos que goste do nosso país.
— Já estou amando, Jung-ha* — Yelena fez questão de tentar usar o honorífico, mas tinha medo de soar desrespeitosa — E pretendo ficar aqui até o final da próxima season. Estou trabalhando em um projeto misterioso — Foi possível ouvir um grande oooh dos comentaristas — eu juro que em breve eu comento mais! Mas sim, ficarei aqui por algum tempo.
— Esperamos te ver na quadra em breve! E você, Sang, é apreciador de tênis?
Grata por não ter sido mais o foco das atenções, Yelena soltou um suspiro discreto e voltou os olhos para os outros convidados.
Um homem famoso - o qual ela não se lembrava o nome - estava sentado ao lado dela. Do outro lado estava um piloto da formula 1 e uma modelo russa. Ela não entendia muito bem como aquele programa escalava tantas pessoas diferentes ao mesmo tempo, mas confiou no talento da sua agente quando aceitou o convite para aparecer ao vivo na TV coreana.
Naquele momento, quem falava era um homem muito bonito, como Yelena observou de primeira. Ele tinha olhos negros expressivos, ainda que estreitos, que se focavam diretamente no entrevistador, como se fosse o único dono de sua atenção. Ele era alto e com ombros tão largos que ocupava todo o encosto da poltrona. Yelena não se culpou em ficar olhando-o por muito tempo enquanto ele falava rapidamente em coreano. A tradutora fazia seu trabalho pelo fone de ouvido, mas as palavras passavam muito rapido, não acompanhavam o pensamento de Yelena.
A câmera voltou para Yelena e a tradutora falou:
Perguntaram se você concorda com ele.
Yelena sorriu.
— Não, nenhum um pouco.
A plateia, os entrevistadores e os convidados riram. Todas as câmeras se voltaram para Yelena, que sentiu as maçãs do rosto pegando fogo.
A única face voltada para ela que não ria era do homem dos ombros gigantes, que estava sério.
— Você não concorda que o esporte é tão importante quanto a arte? Acha que é mais importante?
Mais comtários e risos. Yelena tentou se recompor.
— Não, me perdoe, acho que estava com delay na tradução eu concordo sim, talvez a arte seja até mais importante que o esporte. — Ela falou, mas sentia que não era ouvida. Seu inglês começou a sair enfraquecido, cheio de sotaques — Porque quando você se machuca você se torna um péssimo atleta, mas um ótimo artista. E nossos corpos tem data de validade, os sentimentos nem tanto.
O rosto do homem de ombros largos ainda a encarava com uma profundidade estranha. Ele estava tentando dizer algo? Os comentaristas ainda riam ou soltavam mais um longo ooooh e alguém começou a encerrar o programa.
Yelena ainda permaneceu sentada, sem se dar conta do que estava acontecendo. Em algum momento, uma maquiadora sorridente se aproximou dela e indicou a saída.

VOCÊ ESTÁ LENDO
tenniscourt
RomanceTenniscourt - Yelena Costa não quer morrer. Yelena é feita de suor, ritalina e lágrimas. Além de ser a tenista mais promissora do Brasil, ela é uma das maiores influencers do esporte e marca presença nas festas das maiores marcas da moda. Após um ev...