Daniel.

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Como já era de se esperar, acabo me atrasando para as primeiras aulas. Assim que entro na sala, posso ver Tom e seu grupinho ali, afastados de todos os outros da turma.

As aulas passam rápido e somos liberados para fazer uma pausa. Enquanto todos seguem em direção a saída, espero Tom nos corredores.

- Tom. - chamo, assim que ele passa reto por mim.

- Oi. - ele responde, sem olhar para mim.

- Eu não consegui te agradecer por ontem a tarde. - digo, procurando assunto.

- Não precisa. - respondeu, voltando a caminhar. Não posso deixá-lo fugir de mim mais uma vez, sigo caminhando atrás dele.

- Bom, obrigada mesmo assim. - peço, tentando acompanhar seus passos. - Tem uma coisa que eu estou meio constrangida de te perguntar...

- Então não pergunte. - disse, me interrompendo.

- Eu já comecei, então vou perguntar. - digo, mantendo firme a minha postura. - Você me parece famíliar. Como se eu te conhecesse de algum lugar. É possível? - pergunto, confusa.

- Não. - engoliu seco. - Eu me lembraria. - continuou.

- Mas eu não consigo parar de pensar que... - sou interrompida mais uma vez.

- Eu preciso ir, Luísa. Depois a gente se vê. - respondeu, lançando um olhar para Cam, que o esperava no fim do corredor. Perdi essa batalha.

Devido a minha falta de amigos, decido sair da sala e me isolar do restante. Quando abro a porta enorme que me liberta do castelo, vejo o rapaz de cabelos loiros, com quem acho que Angel tem um caso.

- Seus dias não estão sendo tão bons, novata. - Ele diz, ficando em pé para falar comigo. - Já está planejando uma fuga? - brincou.

- Estou considerando. - respondi, dando risada.

O jeito como ele chegou e falou comigo me deixou animada, já que apenas Luci e Angel foram simpáticas comigo desde que cheguei aqui.

- Café da manhã? - me ofereceu, mostrando um café expresso e um sanduíche embalado.

Caminhamos alguns metros e sentamos em uma espécie de ponte para conversar. Ele é muito cavalheiro, limpou até um pequeno espaço para que eu pudesse me sentar.

- Onde conseguiu esse café? - perguntei, estranhando.

- Bom, eu pedi na sala dos professores. O café daqui é maravilhoso. - respondeu, dando um gole no seu.

- Pediu? - perguntei, cerrando os olhos, pois eu já sabia que estava mentindo.

- Talvez eu tenha roubado. - ele diz, dando risada.

- Você não tem cara de quem faz isso. - digo, dando risada junto com ele.

- É o que dizem. - respondeu.

- E você não concorda?

- Bom, eu só sei do que eu gosto. - disse.

- E não liga de quebrar as regras para conseguir. - afirmei.

- Se o risco vale a recompensa. - ele dá uma mordida no sanduíche que estava em minhas mãos, me olhando de um jeito diferente. - Não vejo pôr que não. - continuou.

- E você? Ninguém vem parar em Sword and Cross por boas causas. Tem uma rebelde aí dentro? - perguntou, encostando seu dedo indicador no meu peito.

- Não, sou apenas uma órfã. - respondo.

- Não... - ele diz, balançando a cabeça em negativa. - Tem mais alguma coisa aí.

- Como assim? - perguntei, confusa.

- Você parece ser o tipo de pessoa que prefere fazer o que mandam, e não o que quer. E então, você é um problema. - disse, me olhando como quem quer me comer com os olhos.

- E você acha que me conhece? - perguntei, arqueando a sobrancelha.

- Bom, eu sei do que eu gosto. - repetiu a sua frase, enquanto mordia meu sanduíche mais uma vez.

Durante o restante da nossa conversa, Daniel me deixou bem claro o que ele queria. Sempre estava me acariciando, me encarando de um jeito diferente, se aproximando mais. Por um breve momento, nós ficamos cara a cara, nossas bocas a poucos centímetros de distância e eu quase o beijei. Mas aí, o sinal tocou, me avisando que a pausa já tinha acabado.

- Acabou o tempo. - digo, ficando de pé e pegando minha mochila no chão.

Enquanto ele me leva de volta à sala, conversamos sobre uma tal festa.

- Uriel vai fazer uma festa na sexta. Nada demais. - ele diz. - Pode levar quem você quiser. A gente costuma relaxar um pouquinho no fim de semana.

- Ah, é? - digo. Ele me deixa na porta da sala e simplesmente dá meia volta. - Não vai assistir essa aula? - perguntei ao ver a Senhorita Sophia na sala.

- Ah, eu já ouvi tudo isso. Conheço bem a história. - respondeu, saindo do meu campo de vista . Ok.



Quando volto ao dormitório depois de jantar, vejo Luci em sua cama, lendo. Não lhe vi durante o dia todo, já que nossas aulas não eram as mesmas e também porque eu matei aula pela primeira vez.

- Não te vi o dia todo. - ela diz, largando o livro.

- Acredita que matei aula hoje? Pela primeira vez! - falo, toda boba.

- Luísa, não acredito que fez isso. - disse, surpresa.

- Eu conheci o Daniel. - digo, toda boba.

- O irmão da Angel? - perguntou.

- Eles são irmãos?

- Claro, Luísa. Eles são incrivelmente iguais, parecem dois anjos. Por isso são chamados como os "dos céus".

- Então isso faz todo sentido. Eu achei que fossem namorados, já que estão sempre juntos. - digo, seguindo para o banheiro tomar um banho.

Todos os dias aqui parecem extremamente longos. Sem celular, sem amigos, apenas as aulas e os livros me ajudam a passar o tempo. Todas as noites eu vejo Tom nos jardins, mas hoje ele está desenhando. Fico me perguntando porque ele é tão sozinho, por que quase nunca está com alguém ou porque e o que ele tanto desenha nesses papéis... Como eu queria poder desvenda-lo.

ᴀɴᴊᴏs ᴄᴀíᴅᴏs Onde histórias criam vida. Descubra agora