Como já era de se esperar, acabo me atrasando para as primeiras aulas. Assim que entro na sala, posso ver Tom e seu grupinho ali, afastados de todos os outros da turma.
As aulas passam rápido e somos liberados para fazer uma pausa. Enquanto todos seguem em direção a saída, espero Tom nos corredores.
- Tom. - chamo, assim que ele passa reto por mim.
- Oi. - ele responde, sem olhar para mim.
- Eu não consegui te agradecer por ontem a tarde. - digo, procurando assunto.
- Não precisa. - respondeu, voltando a caminhar. Não posso deixá-lo fugir de mim mais uma vez, sigo caminhando atrás dele.
- Bom, obrigada mesmo assim. - peço, tentando acompanhar seus passos. - Tem uma coisa que eu estou meio constrangida de te perguntar...
- Então não pergunte. - disse, me interrompendo.
- Eu já comecei, então vou perguntar. - digo, mantendo firme a minha postura. - Você me parece famíliar. Como se eu te conhecesse de algum lugar. É possível? - pergunto, confusa.
- Não. - engoliu seco. - Eu me lembraria. - continuou.
- Mas eu não consigo parar de pensar que... - sou interrompida mais uma vez.
- Eu preciso ir, Luísa. Depois a gente se vê. - respondeu, lançando um olhar para Cam, que o esperava no fim do corredor. Perdi essa batalha.
Devido a minha falta de amigos, decido sair da sala e me isolar do restante. Quando abro a porta enorme que me liberta do castelo, vejo o rapaz de cabelos loiros, com quem acho que Angel tem um caso.
- Seus dias não estão sendo tão bons, novata. - Ele diz, ficando em pé para falar comigo. - Já está planejando uma fuga? - brincou.
- Estou considerando. - respondi, dando risada.
O jeito como ele chegou e falou comigo me deixou animada, já que apenas Luci e Angel foram simpáticas comigo desde que cheguei aqui.
- Café da manhã? - me ofereceu, mostrando um café expresso e um sanduíche embalado.
Caminhamos alguns metros e sentamos em uma espécie de ponte para conversar. Ele é muito cavalheiro, limpou até um pequeno espaço para que eu pudesse me sentar.
- Onde conseguiu esse café? - perguntei, estranhando.
- Bom, eu pedi na sala dos professores. O café daqui é maravilhoso. - respondeu, dando um gole no seu.
- Pediu? - perguntei, cerrando os olhos, pois eu já sabia que estava mentindo.
- Talvez eu tenha roubado. - ele diz, dando risada.
- Você não tem cara de quem faz isso. - digo, dando risada junto com ele.
- É o que dizem. - respondeu.
- E você não concorda?
- Bom, eu só sei do que eu gosto. - disse.
- E não liga de quebrar as regras para conseguir. - afirmei.
- Se o risco vale a recompensa. - ele dá uma mordida no sanduíche que estava em minhas mãos, me olhando de um jeito diferente. - Não vejo pôr que não. - continuou.
- E você? Ninguém vem parar em Sword and Cross por boas causas. Tem uma rebelde aí dentro? - perguntou, encostando seu dedo indicador no meu peito.
- Não, sou apenas uma órfã. - respondo.
- Não... - ele diz, balançando a cabeça em negativa. - Tem mais alguma coisa aí.
- Como assim? - perguntei, confusa.
- Você parece ser o tipo de pessoa que prefere fazer o que mandam, e não o que quer. E então, você é um problema. - disse, me olhando como quem quer me comer com os olhos.
- E você acha que me conhece? - perguntei, arqueando a sobrancelha.
- Bom, eu sei do que eu gosto. - repetiu a sua frase, enquanto mordia meu sanduíche mais uma vez.
Durante o restante da nossa conversa, Daniel me deixou bem claro o que ele queria. Sempre estava me acariciando, me encarando de um jeito diferente, se aproximando mais. Por um breve momento, nós ficamos cara a cara, nossas bocas a poucos centímetros de distância e eu quase o beijei. Mas aí, o sinal tocou, me avisando que a pausa já tinha acabado.
- Acabou o tempo. - digo, ficando de pé e pegando minha mochila no chão.
Enquanto ele me leva de volta à sala, conversamos sobre uma tal festa.
- Uriel vai fazer uma festa na sexta. Nada demais. - ele diz. - Pode levar quem você quiser. A gente costuma relaxar um pouquinho no fim de semana.
- Ah, é? - digo. Ele me deixa na porta da sala e simplesmente dá meia volta. - Não vai assistir essa aula? - perguntei ao ver a Senhorita Sophia na sala.
- Ah, eu já ouvi tudo isso. Conheço bem a história. - respondeu, saindo do meu campo de vista . Ok.
Quando volto ao dormitório depois de jantar, vejo Luci em sua cama, lendo. Não lhe vi durante o dia todo, já que nossas aulas não eram as mesmas e também porque eu matei aula pela primeira vez.
- Não te vi o dia todo. - ela diz, largando o livro.
- Acredita que matei aula hoje? Pela primeira vez! - falo, toda boba.
- Luísa, não acredito que fez isso. - disse, surpresa.
- Eu conheci o Daniel. - digo, toda boba.
- O irmão da Angel? - perguntou.
- Eles são irmãos?
- Claro, Luísa. Eles são incrivelmente iguais, parecem dois anjos. Por isso são chamados como os "dos céus".
- Então isso faz todo sentido. Eu achei que fossem namorados, já que estão sempre juntos. - digo, seguindo para o banheiro tomar um banho.
Todos os dias aqui parecem extremamente longos. Sem celular, sem amigos, apenas as aulas e os livros me ajudam a passar o tempo. Todas as noites eu vejo Tom nos jardins, mas hoje ele está desenhando. Fico me perguntando porque ele é tão sozinho, por que quase nunca está com alguém ou porque e o que ele tanto desenha nesses papéis... Como eu queria poder desvenda-lo.
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ᴀɴᴊᴏs ᴄᴀíᴅᴏs
Mystery / ThrillerUma adaptação do filme Fallen, onde conto a história de Luísa, que acaba de chegar a um reformatório assim que seu antigo internato foi vítima de um incêndio inexplicável. Luísa acaba conhecendo Tom, por quem se apaixona, antes mesmo de descobrir qu...