Água.

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Cada acontecimento aqui, me faz ter a certeza de que esse lugar não é para mim. Tudo me leva a crer que eu não deveria estar aqui, mas todas as vezes que vejo Tom ou que tenho esses flashbacks, essa certeza se esvai por terra.

Depois de ontem a noite, com toda aquela confusão, achei que fosse melhor ir embora e foi o que eu fiz. As informações que Cam sabia sobre mim me deixaram extremamente nervosa, já que essas coisas são de conhecimento apenas da direção do reformatório.

A dúvida sobre Luci me vem à mente, já que ela mesmo faz questão de dizer que tem acesso a todos os dados e informações dos internos. Não consigo acreditar que ela teve a coragem de fazer algo assim comigo.

Antes que ela acorde, me levantei primeiro, procurando por um lugar onde eu possa me esconder de tudo e de todos. Uma vez Luci me contou sobre uma piscina aquecida que havia aqui e eu decido que é para lá que eu vou.

Nunca vi essa área, mas não demora muito até que eu ache. A névoa que sai da piscina, me mostra que a água está quentinha, pronta para mim. Observo bem ao meu redor, confirmando que estou sozinha.

Tiro minhas roupas, ficando apenas com o maiô que vesti por baixo. Antes de pular, coloco apenas a ponta do meu pé na água, verificando a temperatura. Quando mergulho, tenho a sensação de estar sendo abraçada pela água, que me envolve calorosamente.

Em um dos meus vários mergulhos, acabo esbarrando em alguém. Não me lembro de ver alguém chegando ou entrando na piscina. Voltando à superfície, procuro por ar e o rapaz faz o mesmo. É ele.

- Desculpa. - Tom pediu, balançando a cabeça para que a água de suas tranças saia.

- Tudo bem. - digo, encarando-o.

Essa é a primeira vez que ficamos tão próximos e sozinhos. Ele está sem camisa, exibindo seu corpo, mas a minha atenção vai diretamente para a corrente que ele usa no pescoço.

Como curiosa que sou, pego o pingente em minhas mãos, observando o "L" dentro de um brasão. Mais uma vez, tenho uma das minhas visões com ele.

Dessa vez estamos muito bem vestidos, em uma época que eu não saberia dizer. Ele está em pé ao meu lado, enquanto estou sentada em uma poltrona. Minha visão está diretamente apontada para seu colar.

"Olhem aqui, por favor." O pintor diz, chamando nossa atenção. Estávamos pousando para um quadro.

- O que foi? - ele pergunta, me tirando da visão.

- Nada. - digo, balançando a cabeça em negativa. Porque todas as vezes que estou com ele, tenho essas visões? - Eu só não consigo... Superar. - continuei.

- O que? - perguntou, olhando em meus olhos.

- A sensação de que te conheço.

- A gente já falou sobre isso. - ele diz, forçando um sorriso.

- Já... Mas não acredito em você. - respondi. - Tem alguma coisa entre a gente. Eu sei que você sente também. - digo. Tom imediatamente quebra nosso contato visual, tentando fugir de mim.

- Tá bom, chega. Você tem razão, eu deveria ter falado antes. - começou a falar. - Eu sei que não tenho sido muito legal com você...

- É, você tem sido um babaca. - interrompi.

- É, eu sei. Mas te garanto que não foi por nada que você tenha feito... É que... Tem uma garota.

- A Angel? - as palavras saem de minha boca, antes mesmo que eu possa raciocinar direito.

- O quê? - ele pergunta, como se fosse uma possibilidade ridícula. - Não. É outra garota. Não estamos mais juntos, mas... Ainda a amo. - Tom coça a cabeça, como se tentasse pensar. - Eu só queria dizer que...

- Que você é complicado e eu deveria me afastar de você? - completei a frase para ele.

- É... Tipo isso. - respondeu, me lançando um sorriso amarelo.

- Mas não é tão simples. - digo, olhando em seus olhos. - Não dá para dizer a alguém o que sentir.

- Eu queria que as coisas fossem diferentes. - ele diz, com a voz embargada. Antes que ele demonstre seus sentimentos, Tom simplesmente sai de perto de mim, mergulhando de novo.

- Não vai... - peço baixinho, mas seria impossível que ele me ouvisse.

Tom sai do meu campo de vista, nadando lindamente. O jeito como ele nada, faz a água que respinga, formar uma espécie de asa atrás dele. Ele realmente parece um anjo... Um anjo rebelde, eu diria.

Agora que ele saio, sinto que não tenho mais motivos para estar aqui e decido ir embora. Com sorte, talvez eu consiga assistir às duas últimas aulas.

Enquanto caminho de volta para meu quarto, tenho a sensação de que Cam está me observando, a cada passo que dou, em cada lugar que eu vou e a sua figura nos últimos andares me mostra que eu estava certa.

Não faço ideia de porque ele me trata assim, já que eu não me lembro de ter visto ele além daqui. Eu claramente me lembraria, é um rapaz, de quase dois metros de altura e totalmente gótico, impossível de esquecê-lo.

ᴀɴᴊᴏs ᴄᴀíᴅᴏs Onde histórias criam vida. Descubra agora