Em meados de 1800.

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- Nunca consegui acreditar na história de que existem almas gêmeas, que duas pessoas foram feitas para se amarem além de outras vidas, mas o que sinto é tão real. Minhas visões são tão reais que parecem imagens de vidas passadas, todas elas conectadas a Tom de alguma forma, mas ele insiste em tentar me afastar. Daniel e Cam também parecem esconder alguma coisa. O que você acha? - pergunto a Luci, enquanto tiro o vestido que ganhei.

- Bom, eu acho você uma chata por não ter me contado que era o seu aniversário. Mas estou disposta a relevar esse detalhe porque essa história é um máximo. - Luci diz, extremamente empolga com a história que acabei de lhe contar. Sua reação me faz bufar, por estar cansada de ser incompreendida.

- Acredita em vidas passadas? Reincarnação? - pergunto tentando saber até onde ela acredita em mim.

- Não. Não mesmo. - respondeu, abraçando seus joelhos.

- Eu também não acreditava, mas deve ter algum tipo de explicação, Luci.

- Hm... - expressou sem muita reação. - Talvez eu possa te ajudar.

- E como pode fazer isso? - pergunto.

- Precisamos de uma ajudinha. - ela disse, levantando-se de sua cama.

Seguimos de pijama pelos corredores, usando apenas uma lanterna para iluminar os corredores que estão vazios por conta do horário, tomando todo cuidado para não acordar ninguém.

Parando do lado de fora de uma das torres, Luci procura por algo no chão, me deixando confusa.

- Pode me explicar o que estamos fazendo aqui?

- Espera. - disse, enquanto jogava uma pedrinha em uma janela específica. Para minha surpresa, Tody aparece na janela, com uma expressão confusa, típica de quem foi acordado.

- Como sabia que esse era o quarto dele? - pergunto e ela apenas sorri, me dando a resposta que imaginei.


- Eu estou trabalhando em um programa de reconhecimento facial. Mas o mérito não é só meu. Foi desenvolvido além dos muros de Sword and Cross, eu só fiz alguns ajustes. - Tody diz assim que entramos na sala de informática/biblioteca.

- Ele é tão modesto. - Luci diz com admiração em sua voz e os dois trocam olhares doces.

- Trouxe a foto que te pedi?

- Ah, eu roubei uma do formulário dele. - minha colega responde, orgulhosa de si mesma.

Aos poucos o rosto de Tom surge na tela do computador antigo, seguido por micro pontinhos em seu rosto.

- Olha, isso vai demorar. - ele me informou.

Dizem que depois de passar por um trauma, qualquer barulho que possa relembrar o ocorrido, nosso cérebro fica em alerta. Com enorme desprazer, tenho a impressão de que ouvi o estalar de algo queimando.

O barulho das chamas realmente toma por completo a minha atenção e eu até tento ir atrás e ver de onde vem o som que para mim é perturbador.

- Luísa, temos o resultado. - Tody me chama e eu acabo retornando.

O programa finalmente abre, mostrando todos os resultados da pesquisa feita. Fotos, arquivos, imagens de pinturas são os que mais nos chamam atenção. O rosto de Tom estampado em retratos antigos, em meados de 1800.

- Uou. - Tody diz, completamente surpreso. - Deve ser algum parente. Olha o nome igual.

- É ele mesmo. - Luci diz, cobrindo sua boca com uma das mãos.

Assim que Tody rola mais um pouco, podemos ver uma pintura onde claramente pode-se ver os nossos rostos; Tom e eu. A visão que tive desse momento retorna e dessa vez posso ouvi-lo dizer claramente: Eu te amo, Luísa.

- Imprime. - peço. Após alguns segundos totalmente fixada naquela imagem de nós dois, procuro por uma solução óbvia. - Tody, eu espero que você tenha alguma resposta.

- Não tenho nenhuma, Luísa.

Me roubando desse momento sem explicação, ouço mais uma vez o barulho de fogo. Dessa vez está mais alto, mais forte e eu decido seguir o som. Pego a lanterna que Luci trouxe consigo, indo em direção ao fim da biblioteca.

Não há fogo, não há calor e muito menos algum tipo de clarão. Como algo sobrenatural, o teto simplesmente é consumido por chamas enormes, que queimam em instantes todo o terceiro andar da biblioteca.

- Luísa! - A voz rouca de Tody chama por mim, enquanto procuro uma saída.

Os livros que estavam nas estantes mais altas começaram a cair como meteoros, dificultando qualquer possibilidade de fuga para mim. Por último, um dos corrimões feitos de madeira maciça dos andares superiores cai a poucos centímetros de mim, me fazendo desmaiar com o susto.

Havia fogo, havia calor e havia ele. Me carregando em seus braços, voando comigo e me tirando daquele inferno. Agora era frio, madrugada escura, mas ainda tinha uma luz. O clarão das suas asas que brilhavam tão forte quanto a luz do sol em um domingo tranquilo. Eu senti que podia descansar. E enfim, repousei.

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⏰ Última atualização: Dec 05, 2023 ⏰

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