Feliz aniversário, Luísa!

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Enquanto ele caminha em direção ao prédio do reformatório com seus passos apressados, posso ver Daniel no topo mais alto de uma das torres, observando nós dois aqui embaixo. Tenho a sensação de que ele e Cam estão sempre por perto, esperando algo acontecer e isso realmente me deixa desconfortável, como se eu estivesse sendo observada o tempo todo.

Aproveito o silêncio do meu quarto para estudar aritmética, já que Luci está na biblioteca com Tody. Enquanto estou jogada na cama, afogada em meus livros, ouço algumas batidas na porta. Assim que abro, me deparo com Daniel parado em minha frente, segurando um cupcake em suas mãos e uma pequena velinha brilhante enfeitando o topo do pequeno bolo. Como ele sabe disso?

- Assopra. - pediu, olhando no fundo dos meus olhos. Obedeço-o, assoprando com todo o ar de meus pulmões. - Feliz aniversário, Luísa. - me desejou, usando a sua voz mais grave.

- Como você soube? - pergunto, ainda surpresa por ele saber sobre o meu aniversário.

- Você fez um pedido? - perguntou, mudando de assunto.

- Não posso contar ou então não vai virar realidade. - digo a mesma coisa que cresci ouvindo no orfanato.

- Ah, tudo bem. Eu já sei o que você pediu. - disse, me olhando como quem sabe demais.

- Ah, é? Então o que foi que eu pedi?

- Respostas. - o que ele diz me pega de surpresa e eu começo a entender que ele ouviu a minha conversa com Tom. - Você quer a verdade. Me encontra nos arcos, às 20:00 e eu te conto tudo que você precisa saber.

Como já é de seu feitio, após dizer todas essas coisas, ele simplesmente vai embora, me deixando confusa, cheia de perguntas.

- Coloca uma roupa legal. Hoje é dia de festa. - Ele grita,  enquanto segue andando pelos corredores.
Estou começando a ter certeza de que estou cercada por loucos.

Mais tarde, ouço um barulho estranho no corredor e logo em seguida algumas batidas na porta do meu quarto. Quando abro a porta, não vejo nada, olhando para os dois lados. Para minha surpresa, veja uma bolsa preta na porta do meu quarto, como uma espécie de presente.

Pego o pacote em minhas mãos, observando o pequeno bilhete escrito a mão que diz: Pelos seus 18 anos. Como Daniel é a única pessoa que sabe do meu aniversário, entendo que o presente também foi obra sua.

Tiro da bolsa um vestido branco, rodado e estampado com pequenas florzinhas. Existem pregas e babados no decote e o tecido é leve, quase transparente. Que bom gosto.

São quase 20:00 quando estou pronta e com medo de errar no visual, decidi usar o vestido que ele mesmo me deu de presente.

 Os Arcos são uma espécie de calabouço, como passagens secretas que foram usadas para sabe-se lá o que e que hoje são usadas apenas pelos jovens infratores fugirem para beber e se drogarem

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Os Arcos são uma espécie de calabouço, como passagens secretas que foram usadas para sabe-se lá o que e que hoje são usadas apenas pelos jovens infratores fugirem para beber e se drogarem.

Em uma das saídas, posso vê-lo encostado em uma moto alta e preta. Usando uma jaqueta de couro e por baixo posso ver uma regata branca, que combina com seu tom de pele claro, como a de um anjo.

- Que gata! - diz, me dando a mão e me fazendo dar uma voltinha.

- Uau. - digo, admirando a grandeza da moto. - É sua?

- Só por hoje. - disse, tirando sua jaqueta.

- E como conseguiu? - pergunto, desconfiada.

- É um talento do Uriel, tudo que quiser, ele consegue pra você. - respondeu, colocando a sua jaqueta sob meus ombros.

- Vou me arrepender disso?

- Só tem um jeito de você descobrir. - ele diz, maliciosamente.

Subo na moto, girando a chave e ligando-a, completamente fascinada pelo ronco do motor. Solto um sorrisinho ao sentir uma adrenalina diferente.

- Sobe.

- Nem fudendo. - ele ri. - Eu piloto.

- Quer mesmo começar a noite dizendo não pra garota? - perguntei, usando todo o meu poder de persuasão.

- Tá bom. - disse, levantando as mãos como quem se rende.

Ele sobe na garupa, muito próximo ao meu corpo e praticamente enfia seu rosto em meu pescoço, como se quisesse sentir o meu cheiro.

Mesmo sem nunca ter andado de moto, sinto como se eu soubesse exatamente o que estava fazendo. O vento frio da noite, a adrenalina passeando pelas minhas veias, as luzes da cidade e o sorriso dele que dava pra ver pelo retrovisor me deixava ainda mais encantada.

Paramos em uma boate de rock, onde o Black metal era o único gênero musical que tocava. É a primeira vez que estou em uma boate, a primeira vez que estou ouvindo esse tipo de música, uma noite de primeiras vezes.

- O que estou fazendo aqui com você? - pergunto assim que sentamos em uma das mesas, em uma área mais reservada.

- Estamos comemorando.

- Você é bom nisso. - digo.- Todas as vezes que eu te faço uma pergunta, você arranja um jeito inteligente de não me dar a resposta.

- Não, isso não é verdade. - ele diz, bem próximo ao meu ouvido, para que eu possa ouvir.

- Ok, vou te dar um exemplo: onde você nasceu? - pergunto.

Ele olha para mim por uns três segundos e não responde, simplesmente me dá um beijo, o que me faz rir.

- Viu? Porque não me conta nada sobre você?

- Nós estamos nos divertindo. Não quero estragar isso. - ele disse, olhando para a minha boca.

- É tão ruim assim que não pode me contar?

- Eu prefiro isso aqui. - foi a última coisa que disse, antes de me dar outro beijo. Dessa vez, além de um selinho. Seus lábios envolvem os meus e sua língua está sedenta, procurando pela minha.

- Você me prometeu respostas. - digo, assim que ele se afasta de mim.

- Qual é, Luísa? É o seu aniversário. - fugindo como sempre, ele insiste em me beijar. - Eu sei que tem outra coisa que você também quer.

Seu charme, seu rosto angelical e seus lindos olhos azuis me fazem perder a linha de raciocínio e eu simplesmente me entrego aos seus beijos, até que somos interrompidos.

Sem nenhuma chance de preparo ou aviso, Tom simplesmente aparece, puxando Daniel de meus braços e socando seu rosto com toda força que tem, fazendo com que ele caia no chão.

- Que porra é essa? - Daniel diz, se levantando, tentando entender o que era e quem era.

- Eu te avisei pra ficar longe dela! - Tom rosna por entre os dentes.

- Tom! O que você tá fazendo? Para! - digo, sem entender nada.

- Porque eu faria isso? Porque você gosta muito dela? - Daniel diz, em um tom de deboche.

- Não, porque eu sei do que você é capaz! Ainda está com Lúcifer, admita! - Tom diz, empurrando Daniel.

- Então conta pra ela, Tom. Conta tudo pra ela! - Daniel diz, retribuindo os empurrões.

- Não precisa me contar! Eu não sei o que está acontecendo entre vocês, mas isso não tem nada haver comigo. - é a última coisa que grito, antes de sair daquele lugar.

Agradecendo por ter ficado com as chaves da moto, sigo de volta para o reformatório, acelerando o máximo que posso nessa madrugada escura e fria em que foi meu aniversário.


Sentiram a minha falta? Porque eu senti muito a de vocês. 🤭🤍🤍
Agradeçam muito a nossa amiga Lohany, que me fez voltar a escrever.
Hany, você tem um lugar em meu coração. 🤍

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