Alto!

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Assim que o despertador de Luci tocou, me acordei rapidamente. Há alguns dias estou acordando atrasada e hoje decidi que isso vai acabar. Sigo para o banheiro, tomando um banho para começar o dia bem.

- Luísa. - Luci me chama. - Olha o que chegou! - disse, contente.

- O que é isso? - pergunto, saindo do banheiro enrolada em uma toalha.

Luci abre a sacola com o uniforme de esgrima que chegou para mim. Há uma máscara, uma luva e uma espécie de macacão branco, que parece ser pesado.

- Eu adoro esgrima! - Luci diz, me mostrando todo o uniforme.

Enquanto caminhamos pelos corredores, pude ouvir o barulho das espadas se encontrando, mostrando que os outros já devem estar começando.

- O quanto essa aula parece ser uma má idéia? Sei lá, entregar armas para menores infratores e órfãos enfurecidos com a vida. - digo a Luci enquanto entramos na sala.

- Atrasadas! - um homem de mais ou menos, uns quarenta e cinco anos diz, caminhando em nossa direção. - Alessandro. - se apresentou, pegando em minha mão. - Sou o professor de vocês. Já fez alguma aula de esgrima antes? - perguntou.

- Luísa. - retribui seu aperto de mão. - Nunca. - digo, observando os outros ao meu redor.

- Fica aqui um pouco, observando os seus colegas. Você vai entender na prática. - ele diz, apontando umas cadeiras para nós duas.

Alessandro escolheu Cam e Uriel para começarem. Eles colocam as máscaras e vão ao centro da sala, se encarando como dois cães raivosos.

- En garde! Prêt? Allez! (Em guarda! Prontos? Vão!) - Alessandro dá os comandos e eles obedecem.

O barulho das espadas se cruzando meu causa arrepios. Os movimentos são rápidos e posso jurar que vejo faíscas saindo. Nunca vou conseguir fazer isso, pensei comigo mesma. Cam, com toda sua arrogância, venceu os rounds.

- Tom. Luísa. Ao centro. - ele diz.

- Eu? - perguntei, assustada.

- Tem outra Luísa na turma? - perguntou, zombando de mim. Pude ver Tom dando risada e confesso que isso me deixou bem irritada.

Me dirijo ao centro, seguida por Tom, que coloca sua máscara no mesmo momento que eu. Mesmo com a tela de proteção, consigo enxergá-lo bem, me encarando, nervoso.

- En garde! Prêt? Allez! - ouço, mas antes que eu possa pensar em reagir, sou atingida pela espada de Tom, que toca em meu colete.

- Bom, isso foi bem rápido. - o professor diz, fazendo a turma toda rir. - De novo. En garde! Prêt? Allez!

Dessa vez sinto algo diferente, como se o meu corpo soubesse exatamente o que ele iria fazer e onde ia tentar me tocar. Começo a desviar e impedir suas investidas, fazendo todo mundo ficar confuso com a minha "habilidade" repentina.

- Não está tão ruim para a sua primeira vez. - ouço Luci falar logo atrás de mim.

Tom me olha diferente, me encarando confuso a cada movimento que faço, me protegendo e também atacando. A adrenalina do momento, o barulho das espadas, os olhos de Tom sobre mim e o calor que a roupa trás, me deixam tonta e eu começo a ter visões, iguais as que tive quando desmaiei em seus braços.

Em uma época muito distante, em meio a uma batalha, Tom e eu, lutando juntos contra outro grupo. Havia fogo, poeira e gritos. As espadas faziam o barulho familiar enquanto Tom e eu nos olhamos.

Nossa partida foi ficando cada vez mais acirrada. Os outros alunos ficaram de pé, impressionados com a nossa desenvoltura, mas Alessandro sabia o quanto a esgrima pode ser perigosa.

- Alto! (Comando da esgrima que pede para que os adversários parem, quando os golpes são perigosos) - ele pedia, mas Tom e eu estávamos irreversíveis, nenhum dos dois queria parar.

- Alto! Vocês dois! - insistiu, em um tom de voz mais agoniante.

Tom tentava me atacar a todo custo, me fazendo andar para trás. A sala parecia estar diminuindo, como se só tivesse nós dois aqui.

Meu último flash me mostrava a batalha quase perdida, havia sangue e mortos. Querida, Tom gritou assim que o adversário cravou sua espada em minha barriga, igual Tom havia acabado de fazer, tocando sua espada no meu colete, me fazendo cair no chão com tamanha força.

Com o impacto da queda, acabo batendo a cabeça na quina dos degraus da sala. Ele tira sua máscara rapidamente, vindo ao meu encontro, com seu rosto coberto por suor e preocupação.

Ele tira minha máscara, passando a mão em minha cabeça. Posso ver o sangue em suas mãos, que provavelmente deve estar jorrando de mim.

- Luísa. - chamou, nervoso. - Fala comigo, por favor.

- Está tudo bem. - respondo, ainda tonta com o impacto. Seus olhos cruzam com os meus, como se ele procurasse por algo dentro de mim ou se quisesse me lembrar/dizer algo.

- Licença, licença. - Alessandro diz, adentrando a pequena roda de alunos que se formou ao meu redor. - Vamos levá-la à enfermaria. - disse e sinto alguém me pegando no colo. Depois disso, desmaio, caindo em uma cama de escuridão e vozes.

"- Não dou uma semana. - Uriel diz, guardando seu uniforme no armário.

- Mas e a questão do batismo? - Angel diz, observando-o.

- Os detalhes não importam. Tom sempre fica obcecado por algo, tentando se apegar a alguma coisa, mas nunca faz diferença. - Uriel respondeu, fechando o armário com força. - Precisamos relaxar e aceitar que a Luísa vai morrer e que não há nada que eu, você, o Tom ou a Senhorita Sophia possam fazer para impedir. - disse, saindo dali, deixando Angel sozinha com suas esperanças."



Bom pessoal, eu não faço a mínima ideia de como descrever um round de esgrima, por isso eu vou postar um edit MARAVILHOSO no ttk, para vocês terem uma noção de como foi essa aula. Espero que gostem 🤍✨

ᴀɴᴊᴏs ᴄᴀíᴅᴏs Onde histórias criam vida. Descubra agora