IV

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O resto da noite passou como um borrão. Todos estávamos bêbados demais, exceto Pedri, que decidiu ser o nosso motorista da noite. Consigo me lembrar de breves momentos: Dançar com Ferran enquanto Balde nos gravava e ria, tirar uma foto com Pedri no bar, mas principalmente, lembro de como Gavi me puxou para um canto da boate em um determinado momento e me beijou mais intensamente do que nunca.

E então, eu acordei na minha cama, ouvindo um barulho na cozinha. Estava vestindo nada além da minha camisa favorita do Barça e uma calcinha de ursinho. Eu podia sentir os efeitos da ressaca, minha cabeça doendo forte e meus músculos doloridos.

Calcei uma pantufa e andei devagar até a cozinha, tentando me acostumar com a luz até que tudo ficou mais claro, inclusive o barulho. Pedri estava na minha cozinha, fazendo o café da manhã.

- Bom dia, festeira.

- Nem fudendo.

- O que? Não gosta de ovos no café da manhã?

- Você nunca entrou na minha casa.

- Tem sempre uma primeira vez pra tudo. Senta, vamos comer.

Ele simplesmente arrumou a mesa como se não já tivesse me explicado um milhão de vezes que não entrava na minha casa para que os vizinhos não o vissem.

Sentei em frente à ele, ainda desconfiada, mas faminta. Então o encarei enquanto comia.

- Você ficou loucona ontem, sabia? Tive que te trazer pra casa à força.

- Desculpa. Não tava acostumada a beber tanto.

- Tudo bem. Eu que te levei lá. E eu te trouxe.

- Onde você dormiu?

Ele apontou para o sofá.

- Não é tão desconfortável quanto parece.

- Você não precisava. Alguém pode te ver-

- Deixar você aqui sozinha estava fora de questão.

Por que? Era o que eu queria perguntar. Por que você não pôde me deixar sozinha? Por quê fez o café da manhã. Por que me levou naquela festa? Só que mais do que medo de fazer as perguntas, eu tinha medo de ouvir as respostas.

- Mas e então? Você gostou do pessoal lá?

- Ah, o Balde e o Ferran são incríveis.

- E o Gavi?

Quase engasguei com a comida. Eu podia muito bem ainda estar confusa da ressaca, mas me lembrava perfeitamente de como a língua de Pablo Gavi estava entrelaçada na minha na noite anterior.

- Ele é legal.

Pedri não parecia ter percebido o que aconteceu entre nós e eu agradeci a deus por isso. Sabia bem o quão protetor ele ficaria se soubesse.

Ele tomou mais um gole de café e eu finalmente reparei na roupa que vestia: uma regata simples, mas que deixava à mostra os bíceps bem treinados. Ele nem sempre foi assim: costumava ser um menino magricelo e dentuço quando criança. Ser um jogador de futebol famoso tinha transformado ele no sonho de qualquer garota.

- Oli?

- Hm?

- Eu fiquei feliz. Por ontem. A gente nunca sai assim. Foi legal quebrar um pouco as regras.

- Eu sempre disse a você que não teria problema me levar aos lugares! Seu culer teimoso.

- Podemos sair assim mais vezes. Claro que nem todo momento e não pra qualquer lugar, mas... gosto de ter você por perto e você sabe disso.

- Ficando sentimental, González?

- Não enche.

Ele se levantou e me deu um abraço tímido.

- Preciso ir. Não faça nenhuma loucura hoje.

- E nem você.

[...]

Infelizmente, beijar um jogador bonito e famoso não mudava muita coisa na minha vida: eu ainda era obrigada a assistir filmes em preto e branco dos anos 50 para fazer um trabalho de faculdade.

Cursar cinema nem sempre foi o meu sonho. Tudo começou quando eu assisti A Fantástica Fábrica de Chocolate (sim, aquela com o Johnny Depp). Havia algo de familiar e reconfortante para mim nesse filme, algo que me fez reassisti-lo um milhão de vezes.

E então, quando cheguei na adolescência, comecei a ver alguns vídeos do youtube que comentavam sobre filmes. Um deles me chamou a atenção, o título era: "A Fantástica Fábrica de Chocolate: O maior triunfo ou o maior fracasso de Johnny Depp?" Respirei fundo e dei play no vídeo, apenas para me deparar com dois críticos de cinema apontando para todos os erros do filme.

Aquilo me deixou furiosa. Ainda assim, assisti o vídeo todo, pois queria ver que argumentos eles tinham. Passei o resto do dia resmungando para a minha mãe, falando sobre como esses críticos de cinema não fazem ideia do que falam. Mas tudo que eles disseram continuava martelando na minha cabeça, até que pouco a pouco eu entendi.

Apesar dos erros, aquele era meu filme favorito. Mas sem os erros, seria o meu filme perfeito. Foi então que decidi: eu faria o filme perfeito.

Mas escrever um trabalho sobre a genial abertura de Cidadão Kane enquanto uma equipe de construção usava uma britadeira na calçada do meu prédio não era exatamente o que eu tinha em mente quando decidi cursar cinema.

As ideias vinham e iam embora, passageiras e rasas e nenhum pensamento coerente se formava por tempo suficiente para criar uma boa frase. A ressaca não ajudou: parecia que a britadeira estava na minha própria cabeça e nem toda a dipirona do mundo faria ela parar.

E então, aconteceu. A tela do meu celular se iluminou, mostrando que eu havia recebido uma mensagem de um número novo.

Oi, cineasta.

Gelei. A foto de perfil era de ninguém mais ninguém menos do que Pablo Gavi. Fiquei por alguns minutos encarando aquela mensagem, pensando no que fazer, quando outra veio no lugar dela.

Você pode guardar um segredo?

Era a minha deixa.

Oi, Golden Boy.
Qual é o segredo?

Eu não parei de pensar em você hoje.

Cuidado, eu posso pensar que você tem um crush em mim.

E se eu tiver?

Pedri seria totalmente contra. Ele faria da minha vida um inferno se soubesse. Mas quando se prova da liberdade uma vez, dificilmente se quer parar.

Só acredito se me beijar de novo.

Visca Barça, Love PedriOnde histórias criam vida. Descubra agora