#02

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Eu sonhei com o meu pai.

Eu sonho com o meu pai frequentemente. Uma vez ele até me deu uma dica que me ajudou a resolver um caso.

Eu gostaria de ser uma pessoa supersticiosa para acreditar que ele vem do além para se comunicar comigo, mas eu não consigo, eu sei que aquela dica que ele me deu estava ali, guardada no meu subconsciente, e meu cérebro apenas a projetou para mim em um sonho.

O sonho dessa noite foi confuso e curioso, eu sequer me lembro dele detalhadamente, eu só sei que meu pai estava lá e isso é o suficiente para me fazer acordar com um humor bom. Eu sinto saudade dele, sonhar com ele me ajuda a lidar com isso.

Eu ainda estou na cama agora, encarando uma televisão desligada, não consigo parar de pensar coisas como "caramba, eu realmente saí do meu país", "meu Deus, eu estou muito longe de casa", "olha só eu respirando um ar que não é coreano".

Rio com minhas próprias idiotices.

Quem pode me culpar? Viajar para um lugar tão longe é algo novo para mim, ainda estou processando a situação.

Em meio aos meus devaneios, eu escuto um barulho vindo de outro cômodo. Confesso que meu coração gela e eu fico com medo, sem saber o que esperar. Essa ilha, até onde eu sei, é apenas da família Cassano, então ninguém tentaria me matar aqui, não é? Mas se não há problemas, então por que eu tenho dois seguranças comigo me vigiando?

Lidar com tantos assassinos me tornou uma pessoa paranoica. Eu tive minha casa invadida três vezes nos últimos tempos por pessoas dispostas a se vingarem de mim por causa de coisas que aconteceram dentro dos tribunais. Eu tive a sorte de não ter sido pega em nenhuma dessas vezes, sempre consegui pedir ajuda antes, mas ficar na minha casa se tornou angustiante com o tempo, eu estava sempre pensando que estava correndo perigo, qualquer barulho me apavorava, isso incentivou a desenvolver a minha ansiedade.

O barulho continuou por uns dois minutos até que cessou, eu esperei um tempo até sair do quarto, a sala está limpa e vazia, mas quando chego na cozinha, imediatamente entendo a situação. Não era uma invasão domiciliar, era apenas alguém na cozinha, cozinhando para mim. Nesse ponto, a pessoa já se foi, mas a comida ainda estava ali, pronta para eu comer, e mais um bungeoppang foi deixado, eu interpretei isso como um gesto um tanto carinhoso, apesar do barulho e de terem entrado sem me avisar ter sido um ato muito questionável.

Antes de comer, vou ao banheiro e faço as minhas higienes, o relógio me diz que agora são duas horas da tarde, eu realmente dormi muito, sinto que estou até meio zonza, e pela primeira vez em muito tempo os meus músculos se sentem muito mais descansados. Em contrapartida, meu rosto está tão inchado que parece uma lua, meus olhos mal se abrem, eu me pego fazendo careta para o espelho porque estou estranha, eu só espero que isso passe até a hora que eu precisar sair de casa.

•••

Ding dong

A campainha toca.

ㅡ Oh, então vocês sabem o que é uma campainha... ㅡ Comento ironicamente comigo mesma, me referindo ao episódio de mais cedo. ㅡ Será que é a tal moça? Está no horário, são cinco e dez da tarde. ㅡ Cantarolo.

Ando até a porta e a abro, me deparo com uma mulher que parece ser coreana, fico em silêncio a encarando, porque eu não sei se ela fala algo além de italiano.

ㅡ Olá, senhorita Hong. É um prazer finalmente conhecê-la. ㅡ A mulher diz muito gentilmente, e para a minha felicidade ela fala coreano.

ㅡ Olá. ㅡ Sorrio. ㅡ Qual é o seu nome?

ㅡ Sou Francesca Bianchi, mas pode me chamar de Fran. O sr. Cassano falou muito de você.

ㅡ Ah... ㅡ Rio, tímida. ㅡ Eu espero que ele tenha falado bem.

Malta | VincenzoOnde histórias criam vida. Descubra agora