#01

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Meus pés doem e eu sinto o peso do mundo em minhas costas.

Meu chaveiro tem poucas chaves, mas meu cérebro cansado não me permite raciocinar direito, me levando a perder a paciência quando coloco a chave errada na maçaneta pela segunda vez.

ㅡ Que ódio! ㅡ Exclamo encarando aquele maldito chaveiro.

Como me resta apenas uma chave, eu finalmente consigo abrir a porta, adentrando a minha casa. Eu não me lembro bem qual foi a última vez que consegui chegar em casa antes das nove da noite e isso está me matando. Eu sei que esse é o preço a se pagar por decidir ir contra o mal. A verdade é que fazer parte do mal, ou apenas ignorá-lo, é muito mais cômodo e fácil, porque quando você está contra as pessoas corruptas e más, precisa estar sempre um passo a frente, precisa prever todas as armadilhas que encontrará pelo caminho, para assim conseguir se proteger, entretanto, tudo isso exige muito esforço mental e físico.

Deixo meus sapatos na entrada da casa e respiro fundo, sentindo o alívio de poder descer do salto após um longo dia. Observo minha casa. Uma verdadeira bagunça. Eu não encontro tempo ou vontade para limpar qualquer coisa que fosse.

Os últimos meses têm sido realmente difíceis. Eu fiquei tão cansada que há quase um mês eu passei mal, desmaiei e fui parar no hospital, fiquei por lá por um dia inteiro fazendo exames porque os médicos não achavam uma razão para o meu quadro clínico, até que um deles teve a brilhante ideia de me perguntar sobre a minha rotina diária de trabalho. O resultado? Fui encaminhada para um psicólogo, porque a razão do meu colapso não era física, e sim psicológica. Eu tive uma crise de ansiedade que, de acordo com minha terapeuta, tinha se iniciado graças a um burnout.

Eu trabalhei tanto que meu corpo não aguentou e cedeu.

No início eu acreditei que aquilo tudo era apenas uma história para boi dormir, mas depois de um tempo eu percebi que realmente precisava de uma pausa.

Hoje estive no tribunal, finalizei mais um caso, o último caso que a Jipuragi aceitou desde o meu episódio com ansiedade, porque decidi que eu tirarei férias. Eu e o sr. Nam merecemos isso, então fechamos o escritório por algum tempo. É um privilégio que podemos ter, já que, graças ao ouro tirado do Geumga Plaza, dinheiro não é mais uma preocupação para nós dois.

Deitada no meu sofá, eu encaro o teto enquanto reflito. Eu não me lembro qual foi a última vez que tirei férias. Trabalhar na Wusang era como ser explorada, eles não se importavam com nada além do lucro, então não tive folgas enquanto trabalhava lá. Ďepois de deixá-los, enfrentei o caso Babel, que foi um evento quase traumático, exigiu muito esforço. A verdade é que eu deveria ter tirado um tempo para mim logo após aquele período, mas acabei engajando em todos os casos possíveis que me prometiam derrotar pessoas sem caráter. No fim, eu acho que quis compensar os anos que passei do lado errado, trabalhando na Wusang.

Quando cheguei à conclusão que daria uma pausa, apenas uma coisa se passou pela minha cabeça: uma ilha perto de Malta, que é um refúgio para quem está cansado de lutar e um lugar de cura.

Sinto meu coração disparar apenas ao pensar nisso. Eu vou para Malta. Eu vou reencontrar Vincenzo após seis meses sem vê-lo.

Ter contato com Vincenzo é uma tarefa difícil, ele é bom em desaparecer do mapa. Durante o primeiro ano, tudo que recebi foram cartões postais com pequenas frases, aquilo era o bastante para me acalmar, porque enquanto ele me mandava cartões, eu sabia que ele estava vivo e bem, porém, desde seis meses atrás, quando ele visitou a Coréia do Sul, esses cartões não são o suficiente para sanar a necessidade que eu tenho de Vincenzo Cassano.

Um sorriso se esboça em meu rosto sem que eu ao menos o perceba. Não consigo pensar em Vincenzo sem lembrar do beijo que demos no nosso último encontro. Eu gostaria de morar naquela memória para sempre. Suas mãos grandes em meu rosto e o corpo dele tão perto, enquanto eu sentia sua boca na minha, e a frase que ele me disse depois...

Malta | VincenzoOnde histórias criam vida. Descubra agora