Cap. 7 | Trabalho como Babá, Ilusões e a Manhã Seguinte. (Part. 2)

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Samanun Anatrankul;

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Samanun Anatrankul;

Desde o momento que recobrei a consciência e me levantei, minha cabeça não desempenhou outro papel que não o de uma câmara de tortura. As lembranças da noite anterior voltaram aos poucos, me matando lentamente de vergonha e arrependimento. Os sintomas conhecidos da ressaca – para a minha surpresa – estavam presentes também, e me esmurravam a cada movimento que precisava dar ao preparar o café da manhã – que, por sinal, conclui em pouquíssimo tempo ter sido uma péssima ideia. E tinha de lidar com o meu estômago se embrulhando por muito pouco, as vezes me levando para o banheiro. Um completo inferno.

— Bom dia. — Minha atenção sai das louças e talheres, que organizava sobre a bancada de mármore preta, assim que a voz de Mon invade fortemente meus ouvidos. — Precisa de ajuda?

Minhas sobrancelhas se uniram inconscientemente e meus olhos quase se fecharam, reagindo a pontada aguda que sua voz alta causou dentro da minha cabeça. Assim que notei a expressão que se formava, tentei relaxar e sorri para ela. Não era meu melhor trabalho, mas acredito ter sido convincente o suficiente para esconder qualquer sintoma que demonstrasse o caos interno que me encontro. Essa estratégia tem sido útil durante todos os pequenos minutos que interagimos desde que a vi acordada.

— 'Tá tudo sob controle. — Olho por cima do ombro, analisando a bagunça na pia e fogão, os pequenos resquícios de farinha e ovos por todos os cantos. Quando voltei a olhar para Mon, ela comprimia os lábios, contendo o que acredito ser uma risada. Bom. Isso é definitivamente bom. — Tudo bem, sei que não parece estar, mas já terminei de preparar o café. Vou arrumar a bancada e podemos comer.

Ela negou com a cabeça e soltou uma lufada de ar mais forte pelo nariz, se dirigiu ao lado oposto ao meu na ilha, e se sentou na banqueta. Debruçando seu corpo sobre a mesa, alcançou os talheres no centro e começou a me ajudar na arrumação.

Senti meu peito se aquecer a vendo em um momento tão simples como arrumar uma mesa para tomar café de manhã. Pode ser idiota, bobo, ou cotidiano demais para alguns, mas para quem passou a semana sendo evitada como uma praga, isso é um tremendo de um avanço.

Com tudo devidamente posicionado, começamos a nos servir em silencio. Minha mente formulava várias frases e perguntas diferentes, necessitada pelo início de um assunto qualquer, mas todas acabavam demarcadas como uma péssima ideia no fim das contas. A quietude que estávamos era diferente, era leve; ela parecia leve. Não tinha aquela carranca ou mau-humor. Era silencioso de uma forma boa. Não estava disposta a arriscar isso com uma tentativa – muito possivelmente falha – de dar começo a uma conversa.

Entre garfadas e goles de café, meus olhos desviaram algumas vezes para ela – foi o que me restou. Não fui pega em nenhuma delas, era rápida e discreta, mas atenta o bastante para chegar à conclusão de que não estávamos em situações tão diferentes assim. Assisti Mon abrir levemente os lábios inúmeras vezes, como quem está prestes a dizer algo, e então os morder, se contendo. Quando tentava disfarçar e desviava meus olhos dela, ainda sim podia sentir seu nervosismo através de seus pés, que balançavam no apoio de metal da banqueta e produziam ruídos altos para meus ouvidos captarem. Seus olhos, tão agitados quanto suas pernas, vagavam da mesa, onde estava toda comida preparada, para a janela, observando o temporal que se formava lá fora, e então caíam sobre mim — mas esse pode ser apenas impressão ou um desejo interno meu, já que seus olhos eram tão velozes quanto os meus.

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