Capítulo 04

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Simone sabia que a conversa a seguir seria tensa, e não somente pelo teor das mensagens enviadas por Leila, mas porque no fundo, entendia que agiu de forma errada. Respirou fundo antes de abrir a porta, e até segurou a respiração por alguns segundos enquanto entrava no local. O clima do pequeno apartamento que compartilhavam já estava pesado. O gatinho preto deitado de forma preguiçosa aos pés da namorada irritada, dormia inocente, sem imaginar a discussão que seria travada ali. Engoliu em seco antes de pronunciar algumas palavras:

— Ei amor, cheguei, Podemos conversar agora?

Simone aproximou-se da namorada, de forma cautelosa, queria começar para demonstrar arrependimento. Leila era uma mulher de temperamento forte, mas não do tipo barraqueira, que gostava de causar e torcia para entrar em discussões. Em dois anos de namoro, esta era a primeira vez que estavam discutindo de forma direta. Claro, apesar de evitarem brigas maiores, sempre recebia uma chamada de atenção aqui e ali, ou por causa de sua amizade com Soraya, ou pela forma como cumprimentava a dona da padaria, a caixa do supermercado e qualquer outra mulher que estivesse sendo atirada demais.

Leila não moveu um músculo de sua fisionomia fechada. Apoiou a xícara de café que segurava de forma teatral no apoio disposto no sofá. Simone quase sentiu agonia na demora para o objeto atingir a superfície do móvel.

— Que bom que você chegou — Finalmente falou, dissolvendo um pouco da ansiedade que a outra mulher sentia.

Entendendo a fala da namorada como uma permissão para aproximar-se, Simone caminhou até lá, ajoelhando-se de frente para Leila. Não de forma dramática, mas daquele jeito descontraído e encantador que só a morena tinha.

— Le, eu sei que dei mancada. Não deveria ter dormido lá sem ter te avisado. Nada que eu fale será capaz de justificar, então, me desculpa. As meninas, a So precisavam de mim e eu acabei me deixando levar, o sono me pegou e...

— Eu significo alguma coisa para você, Simone? — Interrompeu de forma direta.

— Mas é claro, que pergunta Le. Estamos morando juntas, compartilhamos uma vida.

— Mas você está sempre fugindo daqui para ficar na casa da Soraya, que aliás, te ajuda com esses dramas infundados. Ela é uma mulher adulta, precisa aprender a lidar com as próprias questões sem depender emocionalmente de você, meu amor. Você não consegue ver o quão tóxica é esta amizade?

Simone encolheu-se. Leila não entendia, Soraya era sua melhor amiga desde sempre. Não era como se a loira precisasse dela, mas eram parte da vida uma da outra.

— Le, não é que ela precise, eu só gosto de estar. Tem as meninas também, elas ficam preocupadas, já perderam tanto.

Leila escorre pelo sofá, tão depressa que em segundos estava sentada ao lado de Simone no chão.

— Será mesmo que você quer, meu bem? Ou você ainda tem alguma esperança de que... — Respirou fundo e continuou: De que vocês voltem a ficar?

Simone sentiu-se estranha com aquela insinuação. Não, sabia que ela e Soraya como casal era algo que jamais aconteceria. Afastou-se da namorada como forma de protesto. Se amaldiçoou por um dia ter contato para Leila que elas ficaram algumas vezes.

— Não é nada disso, pelo amor de Deus, sei separar o que aconteceu da amizade que temos e construímos ao longo dos anos.

— Ei, não precisa ficar assim. Eu só me preocupo porque você é constantemente usada pela Soraya, Si — Agora Leila a acariciava, forçando um contato que há segundos Simone tentera cortar, se distanciando.

— Ela não me usa, pelo amor de Deus, Leila — Levantou-se e Leila a seguiu.

— Tudo bem, se você diz... Estou te dizendo essas coisas porque vi que ela terminou o noivado e... toda vez que isso acontece, ela corre pra você, até achar um outro idiota.

— Não gosto que você fale assim da minha amiga, Leila. É maldoso e desrespeitoso.

— Tudo bem, tudo bem. Não quero te aborrecer com isso. Te perdoo por ter feito essa cachorragem comigo, mas Simone, que quisermos que este casamento dê certo, você vai precisar impor limites. Não dá mais para viver lá quando dá na telha. Converse com Soraya, explique sobre nós, fala que está tentando reconstruir a sua vida e que é difícil assim. Eu ainda aturo muito, sério, se fosse outra já teria te deixado, como todas deixam né, Sisa.

— Está bem, eu vou impor limites. Me desculpe mais uma vez. Eu preciso de um banho, pensar. Hoje tem a festa de casamento da filha do prefeito, preciso ir pra lá. Conversamos depois, ok?

Simone seguiu para o banheiro e Leila sorriu, vitoriosa.

Simone seguiu para o banheiro e Leila sorriu, vitoriosa

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