No verão de 1998, as aulas haviam sido interrompidas prematuramente por conta da greve dos professores. Que lutavam por um reajuste salarial digno. Era um setembro de muito sol, poucas nuvens e tranquilidade na cidade de Monte Cruz.
-você acha legal toda essa paralisação?, tenho a sensação que estamos ficando pra trás- Natanael perguntou, fitando os olhos do garoto mais jovem a sua frente.
-vai me dizer, que você agora se importa com as aulas de química e matemática Nat?- gargalhou Thiago -você só se importa com seu time de futebol, e o campeonato de intercalasse- a frase foi seguida por um balançar de ombros.
Natanael Fortunato, cursava o terceiro ano do ensino médio, e era o goleiro no time principal de futsal. No auge dos dezessete anos, era um garoto alto, e robusto e de pele escura. Seu sorriso encantador e a forma como se vestia, sempre encantavam todas as garotas da turma, até mesmo as mães dessas garotas. Tinha um ótimo senso de humor e zero inimizades, desde dos alunos, até os funcionários da escola. Sua maturidade era destacada entre todos os outros garotos, principalmente entre o time de futsal. Ele trabalhava durante as tardes semanais, ajudando o pai na mercearia. E todo dinheiro que recebia era investido em melhorias na sua moto, que era seu xodó. E por mais estereotipado pelas pessoas de fora. Ele era um aluno dedicado, não chegava a ser o aluno nota dez, mas sempre se esforçava a aprender. Odiava pensar em depender de recuperação.
-primeiro- disse Natanael. Colocou suas mãos na cintura de Thiago e o puxou para perto, contra seu corpo. Fazia muito calor no parque naquela manhã, e estavam em uma área cercada por enormes árvores. Era segunda-feira, poucas pessoas transitavam pelo local, nesse horário -não é futebol, e sim futsal- ele sussurrou enquanto colava os lábios no ouvido do mais novo -segundo, você deve tá morrendo de saudades de mim.
Thiago sentiu seu coração acelerar, conforme a distância entre os dois diminuía. Ele passou a língua pelos lábios e fechou os olhos. A voz do garoto a sua frente tinha um poder tão forte sobre ele, um poder bom. Ele queria estar ali pra sempre.
Estava cursando o segundo ano do ensino médio. Ele precisava ficar na ponta dos pés para alcançar o rosto de Natanael. Seu cabelo batia no ombro, longos fios loiros, que estavam reunidos em um pequeno rabo de cavalo.
Sempre se perguntou, oque exatamente havia despertado tanto interesse do goleiro do time da escola nele. Não faria tal pergunta, claro, pois tinha um certo receio que o todo encanto acabasse. Faziam 6 meses que os dois estavam se relacionando, de forma secreta, longe dos olhos de todos. Nenhum dos dois pareciam se importar tanto com isso, ou pelo menos nunca deixaram transparecer tal preocupação. Tentavam aproveitar ao máximo o momento único deles. Era perfeito.
Thiago enfiou as mãos por dentro da regata do moreno, e deslizou pelas costas definidas e quentes. Isso lhe causou um pequena excitação que pareceu não incomodar Natanael. Pelo contrário, ele apertou ainda mais a cintura do mais novo.
-do que adianta?, ver você todos os dias na escola, se eu não posso te tocar assim- sussurrou Thiago contra o peito do mais velho.
-eu já estou no último ano, logo estarei livre- respondeu Natanael e afastou o rosto. Estava fitando os pequenos olhos azuis a sua frente -você sabe como o pessoal da escola é, e ainda tem o meu pai ele...
Thiago ficou na ponta dos pés e interrompeu a fala com um beijo. Suas mãos foram subindo e descendo, arranhando as costas do mais velho.
Natanael sorriu por ser pego de surpresa, mas retribuiu o beijo com mesma intensidade.
-eu sei, mas eu sinto que minha carência só aumenta quando estou longe de você- Thiago falou entre o beijo. Seus lábios desceram para o pescoço do moreno e, não importava a temperatura, o suor, nada importava.
Natanael sorriu sentindo sua nuca arrepiar e olhou para cima, fitando o seu azul.
-eu sei, é só questão de tempo até as coisas darem certo...logo seremos apenas eu e você, sem ninguém para apontar a porra do dedo.
-eu mal posso esperar meu amor- arfou Thiago.
O moreno franziu o cenho, e colocou as mãos nos ombros do mais novo, fazendo os beijos no pescoço pausarem por hora.
-oque foi ?- perguntou atordoado. Estava se sentindo tão leve e feliz, perdido naquele prazer que só conseguia sentir quando estava com Natanael.
-você me chamou de amor- acusou o moreno, mais confuso do que chateado.
-você prefere oque ?, filho da puta?, eu posso tentar se quiser- Thiago sorriu, e precisou conter a gargalhada. Pois o garoto de um metro e noventa estava revirando os olhos como uma criança mimada.
-idiota- Natanael disse, mas a essa altura já estava sorrindo junto com o mais novo. E pra ele aquela risada era linda, a melhor coisa de se ouvir.
-eu preciso ser sincero com você- Thiago colou novamente seu corpo contra o de Natanael. Ficou na ponta dos pés, e encarou aqueles lindos olhos escuros, eram como espelhos que mostravam apenas escuridão. Uma beleza sombria e tentadora.
Nesse momento o moreno percebeu, desvendou em menos de segundos oque aquele olhar azul queria dizer.
-você vai dizer que me ama.
-como você sabia?.
-por que eu também amo você.