Capítulo 04

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- Filha, você tem certeza? Aula de duas línguas diferentes, uma depois da outra? E também...- minha mãe tentava, pela décima vez, me convencer de modificar a ordem das minhas aulas.

- Deixa assim mesmo! - falo pela décima vez, com irritação.

- Só estamos tentando tornar as coisas mais fáceis para você, Leonor. - meu pai adverte. - sabemos que está complicado pra você, mas não significa que seja fácil pra gente ver você assim, filha! - ele diz, e eu automaticamente me atento em Sofia. Podia ver que ela estava com vontade de chorar, embora quase não estivesse aparecendo na tela.

Eu dou um suspiro pesado, tentando diminuir a vontade de chorar.

- Eu sei disso...- falo, quase como um sussurro. - eu só...não muda nada. O que importa inverter a ordem? Eu vou continuar sem tempo ao menos pra respirar! E eu ainda tenho que resumir tudo aquilo! - digo, com raiva e indignação, virando a câmera para a pilha de livros e papelarias em minha escrivaninha.

Existiam 12 livros com a grossura de bíblias em minha mesa, além de diversas papeladas que formavam espécies de fichas e apostilas.
Quando eu entrei no dormitório, e me deparei com as pilhas, que ocupavam metade da mesa...eu senti um desespero crescente e, ao pressionar minhas unhas contra a palma da mão, me recordei de que segurava um cronograva em uma das mãos.
Então, decidi que seria melhor ver como seria minha rotina, a partir da próxima quinta-feira.
Disse à mim mesma: "pior que isso, não pode ficar."
E...bom, eu estava errada...
Achei que fosse impossível, mas meu desespero e terror triplicaram quando eu li meu cronograma, vendo que meus horários estavam lotados até o jantar.
Exceto aos sábados, quando meus horários seguem iguais aos do restante de meus companheiros, e o que tivernos no dia depende do que planejarem, nos dias de semana, eu iria literalmente ter um dia cheio, as únicas pausas- se é que podemos chamar assim - sendo para que eu pudesse tomar banho e me alimentar...

- Filha...vai ser muito duro. Você vai precisar ser muito forte para conseguir dar o seu melhor, mesmo tendo aulas seguidas...mas, precisa pensar pelo lado positivo. Você está se desgastando agora, para ter 2 anos à menos de Formação Militar! Você é forte, e sei que conseguirá atingir todos os objetivos, mantendo o ânimo e trabalho duro. - meu pai fala, tentando me consolar.

- E, pelo menos, aos sábados, seu cronigrama seguirá igual ao de todos! E...em vários dos fins de semana, quando não tiver nada pra fazer, virá pra casa! - minha mãe diz, tentando transmitir ânimo, embora pudesse sentir que ela estava frustrada e angustiada.

- Isso se eu conseguir sobreviver até os sábados......- murmuro.
Vi que minha irmã estava pronta para desabar em lágrimas, e meus pais à ponto de darem início à mais discursos de consolação e motivação.
Antes de tudo isso, porém, eu respirei fundo, tentando expulsar aquela persistente vontade de chorar. - Tenho que ir. O jantar já deve ser servido, e os soldados parecem odiar atrasos. - digo.

Eu voltei ao hall, onde todos estavam, sentindo meu corpo pesado.
Parecia que eu iria desabar à qualquer momento...no sentido físico e emocional.
Avistei alguns de meus colegas, e decidi ir até ele.
Entretanto, eu não caminhava sozinha...

- Normalizarem sua presença aqui, é um absurdo! - ouço uma voz provocativa atrás de mim, que já conhecia muito bem.
Vendo que eu não me dei ao trabalho de olhar para trás, o garoto irritante apressa os passos, para ficar ao meu lado. - tiveram obras aqui pra sua chegada...seu dormitório está em um lugar estratégico, com inúmeros soldados e seguranças da sua família instalados ao redor... e ainda dizem que o tratamento é igualitário...- ele solta uma risada de desprezo, e eu respiro fundo para me manter calma, e não descontar toda a minha raiva nele. - Como é? Ter tudo o que você quer, na hora que quer? Como é passar por cima dos outros? Aposto que você nem se importa mais, né? Em saber que tá roubando oportunidades alheias?

Hater - Princesa LeonorOnde histórias criam vida. Descubra agora