Hater - Princesa Leonor

Capítulo 09

Cheguei no dormitório, fechei a porta, e me joguei na cama.

Eu estava, pela primeira vez, completamente sozinha naquele quarto.
Estava sozinha em um cômodo daquela Academia Militar, sem a preocupação com o tempo.
Havia acabado de falar o que queria para aquele garoto irritante.
E ainda havia feito com que ele fosse punido por isso.

Suspirei, de puro alívio.

"- Você jantou cedo, e ainda teve a sobremesa! Falou como uma rainha! Bem feito pra aquele idiota! Arrasou, irmã!" - Sofia estava extremamente animada.

Animada por eu ter colocado o garoto em seu lugar, mas, também, por ter presenciado tal coisa...
Um dos medos que tivemos quando eu fui para a UWC, foi de nos afastarmos, e perdermos coisas da vida uma da outra.
Ao ouvir o ocorrido com Juan...ela se sentiu incluída na situação.
Ela se sentiu comigo, por ouvir aquilo.
E eu me senti com ela, sabendo que, em todo o momento, ela estava escutando tudo por ligação.
Precisávamos disso.
Precisávamos nos sentir juntas, já que, em tese, realmente deveriamos estar...

"- Foi tão bom ver a cara de surpresa dele...e me senti tão bem fazendo isso...me sinto bem mais leve! "- falei, sorrindo.

"- Viu? Pelo menos, você pôde colocar o garoto no lugar dele! Lindo, né? Ele parecia tanto querer ser importante e especial..."

"- Que agora é o único fazendo 1000 flexões! "- falamos em unissom, começando a rir logo em seguida.

Entretanto, logo essas gargalhadas deram lugar ao choro.
Estávamos frustradas com a falsa expectativa de que estariamos juntas, e com raiva pela mentira dos nossos pais.

"- Por que eles não falaram que tentariam? Por que tinhan que garantir! Aquele abraço não foi de despedida, Leonor..." - minha irmã dizia, em meio ao choro.

Eu não disse nada para consolá-la.
E ela não queria ouvir consolo.
Ambas só queriamos...desabafar.
E foi isso o que fizemos.
Ela desabafou comigo, e eu fiz o mesmo.
Não desabafei apenas sobre a mentira dos nossos pais, mas, também, sobre o treinamento militar, e como essa falsa ilusão acerca da ida para a casa me fazia sentir incapaz de suportar tudo isso...
Eu contava em estar em casa hoje...
Fazia parte do meu plano para sobreviver aos próximos meses aqui e, agora...me sentia perdida e desacreditada.
E eu nem podia ouvir conselhoe dos meus pais, porque, no momento, eles faziam parte dos motivos pelos quais eu me sentia tão...mal.

Depois de chorar, reclamar sobre nossos pais e falarmos sobre como odiavámos minha formação militar, Sofia e eu nos sentiamos mais leves - estariamos melhor ainda, se pudéssemos nos abraçar....
Nada foi dito acerca de como ela iria embora sem se despedir de mim, ou como eu suportaria a minha formação.
Entretanto, pelo simples fato de termos passado 40 minutos conversando abertamente, sem a preocupação com tempo, ou pessoas me ouvindo...

Sinceramente, não queria desligar aquela ligação.
Não queria lanchar, ou interagir com qualquer outra pessoa, sem ser Sofia.
Entretanto, eu não comer significaria que minha irmã também faria o mesmo, então, fui ao refeitório...
Além disso, encontramos um ótimo motivo para sair do dormitório, que nos fez encerrar a ligação rindo, e não chorando.
Eu precisava ver o que Juan fazia, e como estava...

Quando cheguei no refeitório, todos olharam para mim com curiosidade.
Apenas ignorei, e recusei educadamente o convite de 3 grupos diferentes, para que eu fosse me sentar com eles.
Embora já estivesse me sentindo melhor...não me sentia bem o bastante para ficar rindo com outras pessoas...
Não sei explicar...eu só...
Já que não posso estar na companhia de quem eu realmente queria, eu só...queria ficar sozinha, sabe?
Por isso, me sentei em uma mesa vazia no canto de uma janela e, de lá, podia ver Juan, nitidamente exausto, parecendo fazer um esforço tremendo para as flexões.
Dei um leve sorriso de triunfo, e estava prestes à mandar mensagem para Sofia, contando sobre a cena, quando ouço passos se aproximando.