Eu desacreditei. Acho que estava recebendo a maior proposta da minha vida e não sabia o que dizer. Eu deveria ter previsto... mas aí não teria emoção.
- Sim. Minha fiel vidente, ou em outras palavras, uma consultora de confiança. - Ele suspirou profundamente. - Marisa, - ele parecia estar suplicando voltando a debruçar os cotovelos sobre a mesa e entrelaçando os dedos. - Preciso de alguém como você na minha vida. - Ele piscou longo com tristeza. - Eu sinto que posso confiar em você, e isso nunca acontece. São tão poucas pessoas...
Ele abaixou a cabeça.
Mais uma vez uma onda de pena preencheu meu peito. Ele não tinha ninguém, eu sentia isso, mas também sentia que isso poderia ser um caminho tortuoso com diversos percalços.
- Eu aceito.- Agi por impulso, mas algo me dizia que eu precisava ajudá-lo, segui minha intuição.
Ele levantou a cabeça com um sorriso modesto e eu senti como se tivesse dado esperança para um inocente garotinho.
- Jura? Não acha bizarro? É que eu acho que é meio estranho.
- Faz sentido dado ao que estou vendo nas cartas, à sua família e ao que você me contou. Eu sinto que posso confiar em você também, mesmo com medo.
- Eu juro que jamais farei mal a você...
- Não é de você que tenho medo.
Eu não sabia o nome da sua noiva mas já me causava aflição pensar. Não sei como ele esconderia esse tipo de relação ou "trabalho" em que eu e ele teríamos.
- Ela não é louca. - Disse ele baixo entre dentes com um sútil raiva que me intrigou. - Eu não vou mais tomar seu tempo.
- Não quer saber mais?
- Você esqueceu do nosso acordo? Você será minha contratada. Talvez falte um pouco de formalidade, - refletiu olhando para um canto no chão - farei um contrato, podemos negociar...
Talvez ele não estivesse planejado essa conversa mas a ideia parecia que sim.
- Espere. - Pedi a ele, levantando minhas mãos. - Não pense nisso agora.
- Me passa o número da sua conta. - Ele pareceu ficar nervoso e ansioso.
- Calma, Pablo.
- Eu estou com pouco tempo. - Disse ele olhando para o relógio de pulso e pegando o celular do bolso.
- Certo, te passarei.
Me levantei novamente com pressa, fui até minha bolsa que estava na mesa ao lado do bebedouro - sentindo novamente timidez pelo jeito que eu estava vestida - peguei meu celular e voltei para mesa.
- Seu vestido é muito bonito. - Elogiou ele com um tom tímido na voz.
- Ah. - Senti meu rosto queimar. Penso que não é uma boa ideia vê-lo novamente vestida assim, ou eu ia acabar me irritando com tantos elogios ou simplesmente os banalizando. - Obrigada. - E me sentei.
Mostrei o celular para ele com minha conta e o observei fazendo a transmissão. Eu sinceramente não sabia como cobrar ou o que dizer. Meu preço era fixo e uma hora e meia poderia durar a sessão.
- Me diga seu número para contato.
Eu disse a ele, e logo peguei meu celular verificando a quantia que ele havia depositado : eu fiquei em choque. Não fazia sentido e eu me senti até mal, talvez fosse a quantia de um ano de trabalho ou dois.
- Porque esse valor exorbitante!?
- Você vale um preço que jamais poderei pagar, você sabe disso, não é? Salvou a vida do meu tio.
- Não salvei, foram apenas os exames preventivos que o salvaram.
- Foi a sua dedicação. Seu dom, e isso vale algo.
Vale algo, mas não era com dinheiro. O que eu pedia em troca ao universo era proteção, apenas proteção da minha vida e de todos que eu amava e o máximo de pessoas à minha volta.
- Sim. Muito obrigada. - Agradeci de cabeça baixa olhando para a tela do meu celular me sentindo confusa.
Eu vi ele se levantando e eu o acompanhei.
- Bom... - Disse ele colocando a mão nos bolso tirando o óculos e guardando o celular. - Eu posso te pedir uma coisa, mas por favor, se você se sentir desconfortável eu nunca mais apareço, não tem problema. - E colocou o óculos.
- Diga.
- Eu gostaria de um abraço.
Eu entendi e aceitei.
Eu me dirigi para a porta e ele também. O olhei com uma certa timidez, dada a nossa diferença de altura, mas tomei iniciativa de dar um abraço nele que foi retribuído com carinho. Parecia muito fraternal mas a parte do perfume me pegou. Sua cautela em deixar as mãos sobre o ponto mais alto das minhas costas foi algo que me conquistou junto à distância do nosso corpo, foi um abraço formal. Achei sensato e muito gentil.
O larguei acanhada sem olhar seu rosto, afinal ele já estava novamente com óculos e isso me desconcertava. Abri a porta e ele saiu primeiro e eu logo após. No corredor o barulho do meu salto fazia eu me sentir patética diante da grandeza de quem eu tinha atendido.
Eu não sabia exatamente o que ele fazia, mas com certeza ele era importante.
Na frente da porta ele parou e se virou. Rita estava no balcão com os olhos um pouco arregalados, provavelmente curiosa.
- Bom dia, Marisa. - E olhou para a minha funcionária . - Bom dia para as duas. Desejo boas vendas e - voltou a olhar pra mim estendendo a mão em cumprimento - uma excelente semana de trabalho.
Eu o cumprimentei e ele se foi, saindo tranquilamente pela porta comigo o seguindo pelo olhar.
Sentia que aquele homem tinha relação ao sentimento esperançoso que eu estava sentindo de manhã. Algo iria mudar na minha vida, nos meus caminhos e destino, e eu só podia esperar ele aparecer novamente guardando o seu retorno ou ligação ansiosa - isso com certeza aconteceria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vidente do chefe
Romance[Revisão com algumas mudanças] "Marisa vive uma singela vida como cartomante, sendo uma humilde vendedora de artigos místicos em sua loja. Sua vida começa a tomar um rumo totalmente diferente quando um misterioso homem pede sua ajuda e apresenta a e...