All I Wanted - Cruz & Aaliyah

Part I - Think of me when you're out there.

Virginia - EUA

Quatro meses depois

— Tchau, professora!

— Até mais, Lucca!

-•-

Os socos no saco de pancada não poderiam ser mais certeiros. Direita, esquerda, direita. Os olhos de Cruz estavam focados como se seu pior inimigo estivesse em sua frente. Ela jamais admitiria os flashes do rosto de Aaliyah que surgiam no fundo de sua mente. Era o combustível para Cruz continuar socando aquele saco de pancadas até não aguentar mais.  O suor descia pelo seu rosto, a lembrando de que em breve precisaria de água. Ou não. Talvez treinasse até a exaustão.

Descanso era uma sensação desconhecida por Cruz. Ela não sabia como funcionava isso muito bem. Quando tivera descanso em sua vida mesmo? Uma vez, talvez. Em Nova Iorque, há quatro meses. A última vez que ela se permitiu fechar os olhos de noite sem se preocupar em sacar uma arma a qualquer momento ou acordar absurdamente cedo para treinos quase irreais.

Porém as coisas mudam.

O barulho da chave na porta incomodou Cruz por algumas semanas. E se alguém estivesse a ouvindo ou observando? Bem, ela não saberia dizer. O hall estava sempre vazio, era o cenário perfeito para ela pagar pelo que cometeu. Porém, de repente, isso não se tornou incômodo do mesmo jeito. Em certos momentos ela desejou que alguém viesse. Alguém bom o bastante para tirar seu rastro daquela cidade, daquele país. E enquanto esse alguém não aparecia, ela entrou em seu apartamento ainda escuro e começou a tirar os sapatos logo na entrada. Depois a mochila desceu de suas costas e o crachá que estampava seu rosto e seu falso nome caiu sobre a mesa, até que ela finalmente acendeu a luz. E seu coração não poderia esperar pelo susto que tomou. Ao mesmo tempo, porém, ela sentiu nada além de desdém. Impressionante sentir desdém em sua forma mais pura.

— Que porra você quer?— disse ríspida. Mesmo quatro meses depois sua voz continuava ressentida como se estivesse vivendo aquela noite.

— Precisamos de você.— Joe, que estava sentada à espera de Cruz, disse sem rodeios.

— Se me lembro bem, eu fui desligada.— Cruz continuou fazendo suas coisas como se Joe não estivesse bem no meio de sua sala. Ela queria ignorar a mulher.— Mas acho que você sabe bem disso. Você deu o comando.

— Você queria desistir.— Joe tentou justificar.— Dar o comando, alegar que você não estava plena de suas faculdades mentais foi o jeito de impedir que você—

— Não venha falar como se quisesse me proteger ou ajudar.— Cruz virou-se para Joe.— Sabemos o que eu sou para você. Uma ferramenta, uma arma. Nada nada além.

— Não vou desmentir suas crenças a meu respeito, Manuelos.— Joe suspirou e aproveitou para olhar ao redor. Não valia a pena.— Você gosta disso tudo?— seus olhos percorreram pela sala pequena, porém aconchegante, que dava acesso à cozinha e ao quarto; ao fundo do pequeno corredor na lateral oposta à cozinha o banheiro era visível.

— É um jeito de recomeçar.

Afinal, o quanto de um "recomeço" Cruz realmente era permitida ter?

— É isso que você busca? Um recomeço?

Cruz sabia que Joe era contra sua desistência da operação desde o início. Ou melhor, desde a noite em que ela disse estar se apaixonando por Aaliyah. Aquela noite mudou tudo. De repente estar naquela operação não tinha mais sentido. Ela não tinha capacidade o bastante para sentir coisas e fingir que não sentiu.

— Você não pode questionar a maneira que eu escolhi passar por isso.— sua voz fraquejou como se ela sentisse, mesmo sutilmente, a rejeição de Joe.