Péssima Ideia...

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Foi a última coisa que disse antes de me empurrar na direção do grupo de jogadores no canto na festa, fazendo-me andar exatamente na direção deles, ou seja, se eu desviasse agora, pela segunda vez, com certeza as pessoas iriam perceber, mas a cada passo a vontade de sair correndo era maior e única coisa que me dava certo conforto era o peso da corrente contra minha pele. Toquei o pingente delicadamente, talvez procurando mais daquela sensação boa de conforto que senti ao falar com o esbarrador perfumado, que só me dei conta ter esquecido de perguntar o nome assim que cheguei ao grupo onde William se encontrava.

--Oi... William - chamei dando um toquinho no seu ombro.

Nesse momento ele se vira para mim franzindo o cenho e me olha de cima a baixo, os três que conversavam com ele interrompem o assunto de que falavam e repetem o ato, avaliando-me. Se não fosse o incentivo do esbarrador perfumado eu com certeza inventaria uma desculpa e fugiria nessa instante, mas já que estou na chuva, vou me molhar...

--Ah... Eu queria falar com você...

--E você seria? - pergunta ele ainda me avaliando e bebendo de sua cerveja.

--Acho que você não se lembra de mim, mas estudamos juntos no último ano do ensino médio.

--Desculpa gata, mas realmente não lembro... - disse sem tirar os olhos dos meus, me deixando um pouco desconfortável com o contato visual direto, o que não era difícil para pessoas como ele, mas para pessoas como eu sim, e para piorar assim que a pronúncia da palavra "gata" saiu de seus lábios pude ouvir risos vindo de seus três mosqueteiros... Ou deveria chama-lo "mosquiteiros", afinal, não eram dignos do outro título.

--Você me ajudou muito, principalmente na educação física... É por esse motivo qu-

--Ih ala, William arrasando corações até das nerdolas! - comenta um dos gêmeos, Phill, que gerou um amontoado de risos, não só deles, como também das pessoas que estavam perto o suficiente a nossa volta, até mesmo William estava rindo... Eu precisava dar o fora dali, acabar logo com aquilo e sumir.

--Não liga pra ele gata, é um besta que não fica de boca fechada. Você dizia?

--Dizia que tô afim de você... - disse sem pensar mais.

--Não é que o filho da mãe acertou?! - completou Peter em alto e bom som que foi acompanhado por mais risadas.

Eles eram o que? Crianças? Não acredito que me submeti a isso, queria ir em bora, sair dali o mais rápido possível e nunca mais aparecer na frente de ninguém dessa faculdade por um bom tempo, isso se eu não virasse piada entre eles e o que acabou de acontecer se espalhasse pela faculdade e eu virasse piada não só entre eles, como também nos corredores. Sim, eu sou do tipo de pessoa que pensa logo no pior cenário possível, já sofri muito na mão das pessoas por isso sempre penso na situação da forma mais pavorosa possível, é meio que inconsciente agora.

Estava prestes a sair dali quando alguém passou o braço por cima dos meus ombros me puxando para si.

Perfume amadeirado...

--Tá bom baixinha você venceu. - disse o esbarrador perfumado, sua voz divertida e grave acima da minha cabeça me acalmou de alguma forma que não sei explicar, enquanto me mantinha junto a ele como se dissesse que eu não estava mais sozinha estendia uma nota de cinquenta reais em minha direção.

--O que é isso? - perguntou William se referindo ao cara grande de jaqueta de couro ao meu lado e a nota que o tal me oferecia descaradamente.

--Estou pagando uma aposta. - afirmou de forma tão natural que cheguei a me questionar se tínhamos realmente apostado algo e eu não estava me recordado, mas entrei na sua onda pegando o dinheiro que me oferecia. - Apostei que ela não conseguiria mentir para alguém. Ela me provou o contrário... - disse a última parte enquanto apertava meus ombros de forma a me balançar um pouquinho, como se estivesse brincando comigo.

--E vocês são?... - apontou William, seu dedo indo de mim para o esbarrador perfumado de forma a perguntar a nossa relação, e toda a calma que o cara ao meu lado havia me passado foi ocupada por vergonha e receio de pensarem que eu e ele estávamos "juntos".

--Alguém de quem você não deveria dar risada - o poder de sua frase se intensificou quando o mesmo abaixou o óculos que minutos antes fazia questão de manter sobre os olhos, revelando um belíssimo e feral par de olhos âmbar, tão vivos que pareciam brilhar, um verdadeiro "gato preto" em forma de homem.

Nunca na minha vida vi algo como aqueles olhos, aquela cor, que parecia iluminar seu rosto, era por isso que os mantinha escondidos? Como eu, que havia conversado razoavelmente bem com ele, não tinha visto nem ao menos uma frestinha daquelas íris?

- Vamos - disse soltando meus ombros e pegando em minha mão para me tirar de perto do grupo de caras que pareciam tão impressionados quanto eu.

O segui tentando me manter o mais próxima possível enquanto ele marchava atravessando a multidão que não sabiam se encaravam ou davam passagem ao, agora sem óculos, esbarrador perfumado, cujo nome ainda era uma incógnita, assim como tantas outras coisas a seu respeito.
Ele me guiou para fora da festa, até a rua em frente a casa e só então colocou os óculos novamente.

--Você tá bem? - perguntou enquanto soltava minha mão, e checava se a rua estava segura a aquela hora da noite. - Tem alguém que possa vir lhe buscar?

--O que? - eu ainda estava em transe, mal processando suas palavras.

--Ah, você quer ficar na festa? - disse se virando para mim e rindo abertamente - Sem problemas, volto pra lá com você!

--Não! - quase gritei no impulso de impedi-lo de me arrastar de volta para aquele lugar - Vou ligar para alguém... - apressada pego o celular que estava esse tempo todo em um dos bolsos internos da jaqueta verde escura que estava usando.

--Ok... eu até se ofereceria carona mas... Acho que você não iria aceitar...

--Não mesmo! - confirmei no impulso novamente para só depois de alguns segundos me dar conta do que eu havia dito, me virando para ele de imediato na intenção de me desculpar

--Garota esperta... - comentou ao abaixar o óculos e revelar o olho com o qual piscava para mim.

Aquilo me desconcertou tanto que parei de digitar o número da minha mãe ao telefone. Se divertindo e vendo o efeito que aquilo havia me causado, um sorriso se abriu no canto dos seus lábios enquanto comentava:

--Já ligou pra sua carona?

--Ah... - voltando para a órbita completo a ligação rapidamente quase me atrapalhando com os números e coloco o celular sobre o ouvido.

Uma voz doce atendeu do outro lado da linha alguns toques mais tarde.

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