Nos vemos por aí

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--Sério? - pergunto inocente.

--Sim. - responde abaixando os óculos mais uma vez e me direcionando um olhar predador, o mesmo que mostrou para William antes, mas dessa vez pude jurar que alguma coisa estava diferente, era como se eles quisessem me falar alguma coisa, algo que eu não conseguia decifrar, eram perigosos de se olhar, de se encarar, um frio percorreu minha espinha, um arrepio, não um arrepio de medo, não foi isso que senti olhando para seus olhos, e pude jurar que não era isso que ele queria que eu sentisse mesmo.

Não soube quanto tempo fiquei o olhando nos olhos, hipnotizada, só me toquei que estávamos nos encarando quando um sorriso rebelde tomou conta de seu rosto e ele desviou o olhar para algo do outro lado da rua, em seguida, o som de uma buzina conseguiu por completo me tirar do transe que o dourado de seus olhos haviam me colocado.

--São seus pais? - pergunta apontando com o queixo para aquela direção enquanto retoma os óculos a sua posição original.

Virei-me um pouco contrariada por não querer desviar o olhos de seus, a fim de checar e me surpreendi com o fato de meus pais terem chego tão rapidamente.

--São eles sim... - foi então que me dei conta - Você não bebeu né? É seguro para você dirigir até sua casa?

--É sim! - ele sorri de canto - Eu não bebo, obrigada pela preocupação, baixinha.

--Deu de me chamar assim agora?

--Sim! - afirma sem rodeios.

--Claro, - ironizo, rodando os olhos em minhas órbitas - Até mais então, Bad Boy! - me despeço rindo e colocando meu celular no bolso pronta para ir em direção ao carro, mas quando coloquei a mão dentro da minha blusa encontro a nota de 50 reais que ele havia me dado mais cedo. - Nossa, já ia me esquecendo.. - retiro a nota e a entrego - obrigada por antes... E por agora...

Ele demora um pouco para pegar o dinheiro, mas assim que o faz o enfia em um bolso da jaqueta de couro e destranca o capacete que todo esse tempo estava trancado em sua moto. "Garoto esperto", pensei.

--Nem precisa agradecer, amigos são pra essas coisas. - comenta abaixando o óculos uma última vez para me direcionar uma piscadinha - Acho que você deveria ir agora, seu pais estão te esperando.

--Nossa! Tem razão, - "Caramba, quase me esqueci deles!" - até mais!

Despeço-me e saio apressada para chegar até o carro e abrir uma das portas traseiras para adentrá-lo.

--A conversa estava boa? - pergunta Lilyth, minha mãe, do banco da frente assim que bati a porta, não consegui ver seu rosto de um dos espelhos, mas apostava que sua expressão era uma mistura de incerteza e desconfiança com uma pitada de alegria.

--Querida, não provoque... - repreende Mason, meu pai, rindo enquanto colocava o carro em movimento novamente.

Aposto que ambos estavam morrendo de vontade de me encher de perguntas sobre o rapaz misterioso que chamei de amigo e que fez com que eles tivessem de me esperar, o que era muitíssimo raro, pois a maioria das vezes o que eu mais queria era fugir para dentro do carro de meus pais assim que eles chegassem para me buscar.

--Podem parar vocês dois. - repreendi, já sabendo o que estava prestes a começar.

--Eu não disse nada de mais! - Minha mãe tenta se defender.

--Mas estava pensando! - Afirma meu pai achando graça.

--Mason! - ela o repreende, dando um tapa em seu ombro, o que não serviu de nada, ele ainda continuava rindo.

--Vocês dois são impossíveis - não me contenho e rio abertamente - parecem duas crianças.

--Seu pai que é um bobão!

--E sua mãe, a emocionada. Eu disse a ela que você é uma mulher difícil de agradar, mas ela insiste em dizer que tem um bom pressentimento sobre o seu "amigo".

--Ah fala sério, Mason, até parece que você não tem olhos, o rapaz é lindo, e aparentemente tem um bom papo. Não é mesmo minha filha?

--Ah... - eu não sabia o que responder, eu e meus pais nunca havíamos conversado sobre... garotos... Claro que eles sempre me explicaram certas coisas sobre puberdade, hormônios e relações, mas nunca havíamos falado de alguém tão especificamente assim.

--Viu, ela está sem jeito, aposto que eu estou certa!

--Ah... - meu pai suspira desolado - Minha menininha... Eu estou ficando velho mesmo...

--Gente! - Exclamo - Agora não é hora para isso! Como eu disse antes, ele é só meu amigo, ou nem isso, afinal eu o conheci HOJE. Nem ao menos me lembrar de perguntar o nome dele, eu me lembrei...

--Droga! - exclamou meu pai num rompante, pude ver minha mãe dando um pulinho no assento a se lado.

--O que foi Mason? - perguntou, seu tom um tanto indignado pelo susto que meu pai havia lhe dado.

--Como vou saber quem é o meliante que está sendo "amiguinho" da minha filhinha agora?

--Pai! - "Ele fala como se eu fosse uma criancinha..."

E assim foi até chegarmos em casa. Se esperá-los chegar foi rápido, ir com eles de volta nunca foi tão demorado.

Assim que cheguei minha mãe se ofereceu para me fazer um sanduíche natural com peito de frango e aceitei sem pestanejar, não havia comido nada naquela "festa" e estava exausta, depois dessa noite minha bateria social demoraria uns dias para carregar novamente.

Segui então até o banheiro para me livrar da mistura de aromas nada agradáveis que sentia estar impregnados em mim, mas quando puxei a camiseta pela cabeça, a fim de me livrar da peça, ouvi um som de tilintar no piso. "A CORRENTE DO ESBARRADO PERFUMADO!" Não acredito! Eu havia me lembrado de devolver o dinheiro pois este estava no meu bolso, então me esqueci completamente dela em meu pescoço, e aparentemente ele também havia esquecido...

Abaixo-me e pego a corrente do chão a fim de colocá-la em cima da pia do banheiro, mas um entalhe em seu pingente me chama a atenção, o desenho de um... Gato? Não, parecia mais uma pantera, feira em traços simples e sem muitos detalhes, afinal o pingente não era muito grande. "Será que o Bad Boy é gateiro? Ou só um amante de animais selvagens? Acho a segunda opção mais plausível".

Rindo de meu próprio pensamento descanso a corrente na pia para terminar de me despir e finalmente tomar meu banho, meu estômago roncava e eu não via a hora de poder comer algo quando terminasse de tirar esses cheiro de morte que estava totalmente grudado em mim.

Depois de comer na companhia de meus pais, que também não haviam jantado ainda, escovei os dentes e fui para cama, minha cabeça estava pesada, e o silêncio acolhedor do meu quarto tomou meu corpo de tal maneira que me fez suspirar, eu realmente não servia para festas, estava confirmado. Deitei-me na cama e olhei para o criado mudo ao meu lado, onde descansava a corrente do "esbarrador perfumado", cujo nome me era uma incógnita e estava me matando de curiosidade.

Haviam tantas perguntas em minha mente: Quem ele era? Como se chamava? Por que cargas d'agua ele me ajudou?

Bufei.

Olhando pela janela a luz amarelada do poste roubou minha atenção, seus olhos eram tão claros como aquela luz? Não, acho que eles eram ainda mais iluminados, como se pudessem clarear uma escuridão inteira que nem eu mesma sabia que existia dentro de mim.

Meu estômago doeu...

"Que tipo de sentimento confuso é esse?"

Isso estava me dando ansiedade...

"Por que esse cara mexeu tanto comigo?"

Perdida em pensamentos não demorou muito para que eu adormecesse sem tirar seus intensos olhos da minha imaginação.

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