São João

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(Sexta-feira)

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(Sexta-feira)

Depois que minha Terê nasceu, meu marido me convenceu de sair de São Paulo para irmos morar em sua cidade natal.

Pedaço do céu, uma cidade do tamanho de um bairro, tão afastada que a rodovia ainda é terra batida.

Apesar de seu minúsculo tamanho, é bastante movimentada por ser considerada histórica e também por ser rodeada de pequenos sítios e fazendas.

Especialmente hoje, está mais movimentada que o normal e não só porque é sexta, é o dia da festa mais esperada no ano na pequena vila, São João.

Graças ao meu interesse na área da beleza e alguns anos trabalhando como ajudante, abri meu pequeno e humilde salão que ganhou uma boa fama bem rápido.

Mal tive tempo de me sentar para ver vídeo no Tik Tok, e para mim, isso é maravilhoso, nunca gostei de ficar parada.

Estava quase finalizando o cabelo de uma cliente, quando uma mulher alta e muito bonita entra em meu salão.

ㅡ Bom dia! Você é a Rita?

ㅡ Bom dia! Eu mesma.

ㅡ Seu horário está muito apertado? Gostaria de arrumar meu cabelo para a festa.

ㅡ Nada! Aqui é igual coração de mãe, sempre cabe mais um ㅡ argumento.
ㅡ Venha! Se acanhe não, pode se sentar ali ㅡ aponto com a escova para uma das cadeiras afofadas encostadas na parede verde.

Após encarar a mulher, eu encaro meu reflexo no espelho, cabelo preso em um coque, olhos fundos por conta das noites mal dormidas, rosto esquelético...
A comparação é pior que veneno.

Balanço minha cabeça afastando esses pensamentos, voltando o foco em meu trabalho.

Quando a última cliente saí, desço a porta de aço para travá-la, apago as luzes e passo pela porta que dividi o salão com minha casa.

Sinto cheiro de queimado vindo da cozinha e corro até lá: ㅡ Josué! ㅡ meu marido passa por mim andando de pressa com uma panela na mão.

Fico parada no meio da fumaça vendo ele ir para o quintal, escuto minha neném chorar, deve estar com fome dado a hora.

Vou até nosso quarto que por sorte é afastado da cozinha, acendo a luz e vou até o berço de madeira.

ㅡ Oi mocinha! ㅡ digo sorrindo vendo aqueles olhões arregalados.
ㅡ Sua sorte que não depende do papai para papar ㅡ dou risada a pegando no colo.

Percebi que está mais pesada que o normal, apalpei seu bumbum:
ㅡ Cagona ㅡ me encara como se entendesse fazendo beicinho de choro.                                                ㅡ Oh... É não, mamãe está brincando.

Coloco seu corpinho em cima do trocador e faço tudo bem rápido, jogo a fralda suja dentro da lata de lixo que fica no chão.

ㅡ Pronto, hora do papar ㅡ sinto meus peitos vazarem molhando o pano da minha roupa.

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