(Sábado)
O som barulhento do meu celular me faz acordar assustada, tudo foi apenas um sonho, ou melhor, um pesadelo.
Pego o aparelho em cima da cômoda que fica ao lado da cama, saio do quarto para não acordar Terê.
ㅡ Alô? Oi pai! Tudo sim e com o senhor? ㅡ me sento no sofá da sala.
ㅡ Semana que vem? Claro! Estaremos esperando, beijo ㅡ a ligação se encerra, deixo o celular no sofá e me levanto.Vou até a cozinha e coloco a chaleira no fogo, abro a janela para a luz do sol entrar.
Imagens do sonho passavam como borrões, encaro o muro úmido, choveu essa noite?
Tudo parecia tão real, cada detalhe, como se realmente eu tivesse passado por tudo aquilo.
Encolho minha perna para alcançar meu calcanhar, totalmente normal, faço o mesmo com a outra perna, nenhum ferimento.
ㅡ Era seu pai? ㅡ esse homem aparece do nada!
ㅡ Bom dia! Era, por quê? ㅡ sua cara está séria.
ㅡ Por nada, vou buscar pão ㅡ fala sem humor ou carinho na voz, e saiu.
Enquanto eu o esperava, fiquei pensando no motivo dele agir de forma tão indiferente, ele não é assim.
Quando voltou com o pão, continuava com aquela cara amarrada, e não me olhava nos olhos.
ㅡ Vai me dizer o motivo de estar assim? ㅡ pergunto cruzando seu caminho e obrigando ele encarar meu rosto.
ㅡ "Assim" como? ㅡ que brincadeira sem graça é essa? Penso ficando irritada.
ㅡ Não vai falar?
ㅡ Preciso? Você não me falou nada sobre seu pai vim ㅡ fico surpresa.
ㅡ Ele me ligou agora perguntando...
ㅡ E você nem pensou em me perguntar se devia ㅡ me corta.
ㅡ Não achei que tivesse problema... ㅡ faz um som parecido com o do cachorro, rosnar.
ㅡ Tá ㅡ saiu da cozinha me deixando sozinha.
Abro o salão com a cabeça presa em nossa "conversa", estava tudo estranhamente calmo até pessoas usando branco passarem por minha calçada.
ㅡ Bom dia, Rita? ㅡ uma senhora de olhar triste me cumprimenta.
ㅡ Bom dia, sou eu ㅡ me entrega um folheto com a foto de uma criança.
ㅡ É meu neto, está sumido desde a festa de ontem ㅡ argumenta se segurando para não chorar.
ㅡ Se o vê-lo ou souber noticias, entre em contato conosco, por favor ㅡ se mistura com as outras pessoas que rezavam em voz alta.O nome do menino é João, tem seis anos e foi visto pela última vez perto da fogueira que foi feita no centro da praça que é perto de minha casa.
Enquanto passava tinta no cabelo de uma cliente, eu escutava as outras comentarem sobre o sumiço do menino.
ㅡ Ora, que tipo de mãe deixa o filho sem sozinho em uma festa a noite?! ㅡ uma critica.
ㅡ Mas aqui é pedaço do céu, o máximo que acontece de ruim é o sumiço de galinhas! ㅡ a outra argumenta.
ㅡ Mesma assim, sabem como as crianças são, piscou, eles aprontam ㅡ uma terceira comenta.
ㅡ Eu acho que ele está bem ㅡ a moça na qual estou pintando seu cabelo tenta ser positiva.
ㅡ A família do menino viraram a noite procurando, e nada ㅡ a terceira comenta lamentando.
ㅡ Disseram que... ㅡ para de falar do nada quando escuto um som de sino balançando.
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Fígado
Short StoryA vida de Rita teve uma grande reviravolta quando é quase atropelada por um caminhão em um dia de forte ressaca, pensou que nunca mais veria o motorista que a ajudou. Mas o mundo é pequeno, e ela o reencontra em uma festa aleatória, dando início ao...