Capítulo 3: Novos aliados

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Roma

Eu a encarava. Dedilhava com os olhos seus lábios grossos e a pele ressecada. Tinha beleza demais para uma mulher de guerra, e acredite, ela tinha esse porte. Enquanto Diana talvez tenha ficado curiosa com a falta do meu braço.

— Tempos difíceis, imagino. – Sorriu com cordialidade. Ela ergueu o braço decepado. Não éramos diferentes neste aspecto.

— Pare de importunar a Grozny, Diana. – Henrique tentou me proteger, com certa ironia.

— Podemos entrar? – Diana pediu. Atrás dela havia a sombra de outras pessoas.

— Primeiro preciso saber, por que vieram para cá? — O silêncio respondeu o perigo e a tensão que pairou no ar. Os meninos não queriam encrenca, mas mal conseguiam tomar as rédeas para me parar.

— Eu acredito que você, como atual líder do Rio de Janeiro, tenha compreendido o nível de perigo que o Brasil está passando nesse momento. — Diana não recuava. — Sei que essa é sua cidade, e sei que o inimigo é seu irmão. Viemos prestar apoio.

— Posso recomendá-la algo diferente? — Ela acenou para minha pergunta, tentando cordialidade — Vão embora, antes que morram.

Pude ver certa movimentação tensa nas sombras que a rodeavam por trás. Mas Diana os interrompeu com um erguer da mão.

— Eu estou levando esses idiotas comigo, por que eles têm algo a cobrar de Heliel. — Continuei a falar — Mas Heliel é um problema meu. — Olhei as sombras — Já tive uma equipe antes, e todos morreram nas mãos dos meus irmãos. Não quero ter que carregar mais pessoas fracas.

— Roma! — Henrique tentou me chamar, mas Gael o segurou no braço.

— Peço desculpas por tentar uma conversa feliz de primeiro momento. — Diana sorriu. — É minha mania ruim devido aos anos de diplomacia. Mas a gente não veio a passeio. — Ela me encarou, gentil. — Eu já recebi sinalizações de outras nações acerca da intervenção de Heliel. O país vai passar por uma guerra global se necessário. — Ela tinha imponência. — Esses idiotas aqui atrás de mim, estão dispostos a morrer para que isso não aconteça.

Eles tinham a honra de entrar sem que precisassem da minha autorização. Estavam encapuzados, como se estivessem em fuga. De fato, estavam. Menos Diana.

Fui até a janela, olhar para fora. Admito que o momento me deixou desconfortável. Me recordei do primeiro dia como protetora. Outro grupo, a mesma merda de sempre. Eles começaram a tirar a roupagem que os escondiam. Eles falaram com Henrique e Gael. Se enturmam com mais facilidade do que eu acreditei acontecer.

Diana pegou duas latinhas de cerveja na geladeira, e as trouxe para mim. Ficamos ali olhando para fora. Em silêncio, enquanto os outros conversavam. Falavam sobre como está o resto do Brasil, e as dificuldades que tiveram para chegar no Rio.

— Daqui dá para ver a Lapa. — Diana apontou. — A última vez que vim aqui, Caleb me levou para lá. Fomos num bar de cachaças, e foi a única vez que fiquei bêbada. Nunca mais.

— Ele adorava ir lá. — Respondi. — Sempre detestei o bafo de cachaça.

— Como estão as coisas por aqui? — Diana deixou o tom mais sério. Por algum motivo, era fácil de falar com ela. — O resto do país está numa falsa pacificação. Heliel tem usado de Slaafs e meio-Slaafs para constituir uma milícia de caça aos magos.

— Ele está matando os magos?

— Os que se opõem a ele. — Ela bebeu um gole de cerveja. — Como uma caça às bruxas. O Rio de Janeiro tem se tornado o único local seguro para eles.

Era confuso. Constantemente sofríamos alertas de aparição de Slaafs nos limites do estado. Era um cerceamento, que tinha seu efeito, ainda que parecesse uma guerra fria.

— Você falou sobre uma guerra mundial. — Dei deixa para me dar mais informações.

— Os Estados Unidos estão querendo tomar posse do Brasil. A França e a Rússia também.

Puta merda...

Não era como se isso conflitasse com meus planos. Eu só queria a cabeça de Heliel, mas era difícil até mesmo imaginar ele conseguindo se proteger de tantos países. Existiam magos extremamente poderosos. As armas bélicas, como eu também fui chamada.

Fiquei em silêncio. Contemplava as falas de Diana enquanto tomávamos cerveja. Até que as nuvens no céu começaram a escurecer demais. Elas faziam movimentos que eram discordantes da natureza. Giravam num epicentro, mas sem começarem um ciclone. Logo, uma iluminação preta começou a aumentar em seu meio. Tinha a aparência de uma boca, com mandíbulas afiadas. Ela sorria para nós.

— Que lindo, ver tantos magos poderosos reunidos. — A voz era tão imponente que silenciou a conversa atrás de nós. — Os Grozny sempre foram bons em criar exércitos. Desculpe incomodar a reunião de vocês. Eu sou Calúnia, e tenho uma mensagem de Heliel à população carioca. "Entreguem Christian, ou a cidade se tornará um cemitério."

— Quem é Christian? — perguntei por alto, até que olhei para o barulho de metal ao lado.

Diana havia esmagado a latinha de cerveja, estava com sentimentos aflorados que não havia mostrado até o momento.

— Sou eu. — Ele se apresentou atrás de mim.

Os cabelos brancos combinavam com a pele pálida. Mas admito que a imersão dos olhos azuis assustava. Ele era um pouco mais alto que eu, e tinha presença enquanto caminhava para próximo de nós.

— Por que eles te querem?

— Heliel deve ter mexido em nossos relatórios. — Diana me olhou.

— A decisão é totalmente democrática — Calúnia pontuou. — Até lá, se divirtam com meu vômito.

O Slaaf começou a fazer força, como se estivesse enjoado. Até que o som de uma garganta preenchida ressoou, e a boca dele abriu. O líquido vermelho do vômito era gosmento, e levava nele criaturas demoníacas. Parasitas das piores formas.

Slaafs, que acumulou dentro da boca.

Por fim, Calúnia arrotou.

— Adeus, senhorita Grozny.

O sumiço da boca de Calúnia foi acompanhado pelos berros dos Slaafs expurgados. Centenas deles infestaram o centro da cidade. Era a declaração da guerra.

"Eu vou te matar Heliel." Afirmei com o fechar da mão.

— Vamos! — Chamei a todos. — Precisamos proteger a cidade!

DEUSES DE SANGUE - VOLUME 2Onde histórias criam vida. Descubra agora