Roma
Gael havia me curado. Suas habilidades como um novo Rei-Slaaf haviam ampliado muito. A equipe queria vir junto comigo. Ninguém havia realmente confiado no Lobo, tão menos na equipe dele. "Não poderiam." Sinto que os levar ia ser admitir que ia ataca-lo pelas costas a qualquer momento.
Não era hora para ter mais guerras no Rio de Janeiro.
A B.M.O.E, a corporação passou por novo regimento, e muitos novos policiais se tornaram. Eles não me encaravam com desdenho, mas também não havia felicidade. Honra. Admiração. Eram homens e mulheres cansadas da guerra. Uma guerra que toda minha família estava envolvida.
Eles secretamente me odiavam. A família Grozny passou do amor nacional a maior desgraça existente. "Foda-se eles." Assim pensei. "A mesmo descontentamento que possuem comigo não é apenas pela minha família." Caminhei para dentro do batalhão, sem pedir autorização a recepção, eles não tinham forças para me contestar. "Eles me odeiam pois sabem que eu sou mais forte que todos aqui."
Devia ser essa a sensação que Caleb possuía no peito, e que meu pai também sentiu. Peguei o elevador, até o lugar que deveria chegar.
Parei no quinta andar, próximo daquela porta de madeira. Distinta de todas as outras de vidro fosco. A sala do esquadrão zero. O ambiente composto dos policiais que não tinham magia, ou que eram mal vistos pela corporação. A sala dos açougueiros do Barão. Abri a porta, e sentado na antiga cadeira de Pavlov, estava ele.
— Não ouvi nenhum aviso da sua chegada. — Reclamou. — Quando a polícia se tornou tão incompetente?
O novato e Ícaro também estavam lá. Eles tomavam café na mesa da cozinha. Um espaço pequeno, mas aconchegante. Olharam para mim de canto de olho, mas sabiam que não deviam interferir na conversa.
— Eu sou a maga mais poderosa do Rio. Eles não sentem que precisam me anunciar. — Respondi. — Diferente de você, e do Ícaro. Todos sentem minha chegada.
Lobo descansou no acento, e colocou uma das pernas sob a outra. O coldre o apertava no peito, mas dessa vez, não precisava ter medo de tomar uma bala. Ele olhava no fundo da minha alma.
— Seu irmão tem feito um belo trabalho fora dessas regiões. — Lobo comentou.
— Imaginei que lá fora estivesse um caos. — Comentei. — Todos os magos que vêm para cá comentam do desespero.
— Ele tem caçado alguns magos que são contrários as suas políticas. E até uns revolucionários rebeldes. — Novato foi até o Lobo, e entregou uma caneca de café. — Para os demais. O Brasil se tornou um paraíso. Empregos em alta, salários altos, por conta do medo dos Slaafs, grupos criminosos têm sido extintos.
— Ele criou um paraíso no meio das trevas. — Conclui.
— Está havendo uma alta imigração de haitianos e latino-americanos para cá. — Lobo virou o braço para trás. Tateava com os dedos na mesa para pegar algo. Até que puxou um envelope. — Toma. — Tomou um gole. — Eu me pergunto, fora nosso objetivo, de caçar a cabeça de quem fez mal ao nosso colega. Por que deveríamos te apoiar a mudar esse quadro?
Eu abri o envelope. Era um relatório da polícia federal sobre as operações militares instruídas a mando de Heliel. Havia missões feita para caçar inúmeros magos, políticos, pessoas importantes no quadro social. Todos que eram contra sua forma de pensar, eram ligeiramente caçados. Torturados, e mortos.
Nos relatórios, existia minha foto. A foto de todos os meus aliados. Com métodos de ataque, tortura e fraquezas. Além disso.... Muito além disso. — A polícia federal matou os amigos deles? — Perguntei ao Lobo.
— Sim. Junto aos Slaafs.
— Por que?
— Queriam descobrir o paradeiro deles a qualquer custo. — Lobo comentou. — Como tiveram de sair de lá desesperados, não tiveram espaço para proteger seus familiares.
— Esses são os avós da Diana?
— Torturados. A pele foi arrancada e jogaram sal por cima. A sessão demorou 30 horas.
Mudei a folha. Meu rosto começou a ficar envergado. Ódio. Tudo que podia sentir ali era ódio.
— Esses são... — Fiquei confusa.
— Ezequiel era palhaço para pacientes de um hospital de câncer. — Respondeu. — Os funcionários mais próximos tiveram seus membros esquartejados e queimados para cicatrizarem as feridas. Morreram após 4 horas de sessão.
Eles. Eles foram caçados por conhecerem os magos? Heliel estava destruindo qualquer um que desse empecilho em seus objetivos.
— Eles sabem disso?
Lobo negou com o balançar da cabeça. — Provavelmente sim. Talvez vieram para cá já sabendo destas informações. — Me encarou. — Antes de serem magos, são todos policiais. Talvez por isso não demonstrem a dor.
— Mas antes de serem policiais... São humanos.
— Ainda sim. Existe um povo feliz lá dentro. O que você acredita que eles vão fazer caso nós lutemos contra o atual governo?
— Isso não é governança. É uma monarquia. — Apontei. — Os magos que são contra Heliel possuem origem, e tenho certeza que não são das famílias renomadas. — Amassei o papel na mão. — Esse filho da puta é apenas um Neonazista de merda.
Caminhei para próximo do Lobo, e estendi minha mão para apertar a dele. Como forma que sinalizaria nossa trégua.
— Eu vou mata-lo. É esse o meu trabalho. — Afirmei.
Lobo soltou um sorriso que ultrapasso os lábios. — Você fala que nem ele. De fato, ele deve ter lhe treinado bem. — Lobo apertou minha mão.
— Existe ainda o problema do Barão. — Ícaro pontuou.
— Os revolucionários e até mesmo alguns cidadãos tem sido modificados para Slaafs. Sejam eles presos ou inimigos do Estado. Barão tem controlado essas tropas por todo país. É a nova polícia.
— Como chegamos até ele? — Perguntei.
— Minas Gerais. — Novato respondeu. — O paradeiro do Barão é uma incógnita. Mas existe um mago das antigas que tem controlado as rotas do Nordeste para ele. Se ganharmos Minas Gerais, podemos aniquilar o poder deles no Nordeste.
— Partiremos daqui há 3 dias. — Pontuei. — Virão conosco?
— O novato irá. — Lobo olhou para o aluno, que estava descontente. — Eu e Ícaro precisamos agir por debaixo dos panos. Ainda somos humanos para estar na vanguarda. E também... preciso aprender como essa criatura funciona?
— Criatura?
— Oi, Roma! — Aquela voz.
— Heket? — Olhei para o canto da mesa. Ela saiu do meio das sombras de arquivos mortos. — O que está fazendo aqui?
— Eu iria embora. Mas encontrei um homem com cheiro da vingança outra vez. — Ela pulou no ombro do Lobo. — Ele tem o cheiro do Pavlov.
— Lobo. O contrato com ela requer a perda de...
— Eu sei. — Respondeu. — Não toquem um dedo no Barão. — O olho dele fervia de sangue. — Ele é meu.
— Perdão me intrometer. — Ícaro tomou a palavra. — Mas eu estudei esse cara. E você acredita mesmo que vai ser capaz de matar ele?
Sorri para ele. Por um momento de piscar de olhos, não me fiz mais presente no lugar. Não se era necessário responde-lo. Ele teria de saber a resposta de uma maneira física. Convicções em meio a uma guerra são inúteis.
Eu precisava falar com uma pessoa.
— Ela se teletransportou? — Ícaro perguntou ao Novato.
O rapaz apenas balançou a cabeça em afirmativo.
— Não perguntou a ela? — O Novato encarou Ícaro. — Ela deve ter ido lá, confrontá-lo.
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DEUSES DE SANGUE - VOLUME 2
FantasiaLivro final da duologia Deuses de Sangue. Após a vitória de Heliel, Roma se tornou a maga mais poderosa do Rio de Janeiro. O título, contudo, veio com um gosto amargo da morte de milhares de inocentes durante a operação ao Complexo da Maré. Agora R...