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A quantidade extensa de palavras que escapavam pela boca de Killua pareciam se perder no ar ㅡ Gon parecia mais interessado, e vidrado, em observar os lábios do jovem descolando e colando. Vermelhos pelo estresse, exauridos do tanto que ele o prendia entre os dentes ou o comprimia ㅡ Killua passava a mão pelos cabelos em momentos de exaustão e lhe encarava de uma maneira que fazia seu coração pular uma batida.
O moreno tentou se concentrar, ele jurava que tinha tentado, mas se fosse ser honesto entendia pouco desde que corrente elétrica foi mencionada ㅡ faltavam poucos dias para a prova, e ainda que os Freecss não fossem conhecidos por ser desistentes, ele pensou um pouco se deveria ou não falar para Killua retirar logo o depósito do Chalé. A dona era legal, durante todos aqueles anos planejando com ela, tinham se tornado amigos. Ela entenderia, Gon estava certo disso ㅡ que senhorinha de sessenta e seis anos não compreenderia problemas universais como aqueles? Oras, ela deveria já ter sido proibida de sair de casa por sua mãe por conta de uma nota ruim.
Não, Gon não podia desistir.
Estavam há quatro anos planejando isso! Quatro anos economizando, sonhando, procurando locais acessiveis e legais que queriam visitar. Por isso Killua estava se esforçando tanto em tirar a carteira de motorista, tinham até ganho permissão da sua tia de usar o carro caso tudo desse certo!
(Também tinha sido por isso que Gon consertou e renovou a moto velha do seu pai, além de adquirido uma habilitação há pouco tempo atrás, mas Killua se recusava a passar quatro horas colado em si viajando para o interior.)

Os dedos de Killua pareciam mais bonitos naquela iluminação. As unhas pintadas de preto batucando na mesa enquanto ele explicava, naquela feição concentrada de sempre, como havia surgido com uma fórmula.
Ele não era um desenhista muito bom ㅡ apesar de definitivamente ser melhor que Gon ㅡ, e os traços simplistas que o grafite riscava contavam isso, mas nenhum movimento poderia ser mais fascinante do que o arrastar da palma da mão dele naquele pautado. Mirou os anéis de coco nos longos e magros dedos do rapaz, contendo-se em não pegar um e ficar girando-o até que ficasse com cãibra. Levantou o olhar para a camisa de Killua ㅡ o casaco xadrez de flanela azul aberto mostrando a camisa preta com a estampa de uma das bandas favoritas do rapaz, o jeito que o tecido apertado ficava ao agarrar bem todos os músculos do amigo (bendita fosse a Academia Central de YorkShin, deviam metade da sua resistência física à instrutora, Bisky), a calça jeans folgada presa por três cintos aos quadris estreitos, o jeito que os cabelos platinados ficavam amarelados na iluminação calorosa da biblioteca, que ele era contornado por um halo e parecia ficar perfeitamente bem naquele cenário, apesar dos piercings prateados em sua orelha e o singular brinco pendendo mesmo sem uma tarracha.
Voltou as íris para o rosto dele, por um segundo, e encontrou os olhos azuis afiados do rapaz observando de volta.

ㅡ Você sequer prestou atenção no que eu falei?

Semicerrou os olhos, pensativo.

ㅡ... Prestei ㅡ retrucou, mas seu tom de voz questionável entregou que era uma mentira descarada.

É claro que não tinha prestado, não é como se física lhe fosse mais atraente que o jovem na sua frente.

ㅡ Puta que pariu, Gon, isso é sério! ㅡ ele sussurrava de volta, áspero e rígido. ㅡ Você precisa passar de primeira nessa merda.

Abaixou a cabeça.

ㅡ Eu sei... Desculpa.

ㅡ Ei... ㅡ A mão dele sobrepôs a sua, acariciando-a. ㅡ Não fica assim. Preciso de você comigo... ㅡ Ele olhava no fundo de seus olhos, parecendo buscar algo que Gon não entendia a profundidade, mas o olhar dele era tão penetrante que lhe hipnotizava. A mão de Killua apertou a sua novamente. ㅡ Tenta, por nós, ok? Prometo que não vou me irritar se der errado.

A garota na mesa da frente tirou os olhos do computador, franzindo o cenho e se apressando para passar quinhentos jenis para a menina sentada ao lado dela ㅡ essa, sorria sacana aceitando o dinheiro.
Elas realmente estavam apostando se eram namorados?
Gon segurou o urge de revirar os olhos e afastar sua mão da de Killua, mas o amigo não pareceu compartilhar do mesmo autocontrole, pois lhe soltou.
Odiou como sua mão parecia ter esfriado rapidamente sem a dele por perto. Virou-se para ele.

TESTES [📄] ; killugon ˎˊ˗Onde histórias criam vida. Descubra agora