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Quem lhe dera ter garantida a capacidade de estar bem com aquela situação, compreender em sua totalidade um momento tão inerentemente complexo, quando o que sabia sobre toda aquela história se estendia de forma tão rasa quanto a margem do mar em que o conhecera. Gon sabia o básico, considerando que seu amigo não gostava de falar muito sobre essas coisas ㅡ e nem na época havia lhe dito.
O moreno tinha noção, apenas, de que a relação partilhada entre eles havia se iniciado quando Killua ainda tinha treze anos e estudava numa escola diferente da sua; fora lhe dito que ele inicialmente tinha sido atraído pela garota pelo estilo de roupas apagadas que ela usava ㅡ pelo quão quieta era e o fato dela sempre se manter distante das outras pessoas da sala. Ela gostava de marrom, seus cabelos quase sempre estavam presos em dois coques, sua voz era tão doce e suave que ele se sentia bem perto dela ㅡ Killua disse que não estava acostumado a falar com pessoas que o tratavam com tanta delicadeza e ternura, como se fosse um animalzinho frágil precisando de remendos, e por isso encontrar conforto no tom dela era fácil.
Então, por mais que aparentemente os dois estivessem em turmas diferentes (ou na mesma, Gon nunca realmente conseguiu compreender essa parte), eles passaram a se encontrar escondidos na biblioteca, pois era um lugar quieto em que podiam compartilhar segredos sobre suas vidas e falar com alguém que realmente entendia o que era passar por uma situação como aquela ㅡ Kinpun, assim como Killua, tinha pais extremamente exigentes e opressivos; contradizer normas conservadoras impostas a eles era algo que tinha os unido. Mas dois anos depois, em dois mil e dezenove, o platinado tinha enfim conseguido convencer seu pai a mudá-lo para sua escola, por isso ele e a garota pararam de se ver com tanta constância.
Gon lembrava de vê-lo trocando mensagens no instagram com ela, ainda durante aquela época, mas o tempo os afastou.
Até dois mil e vinte um, no segundo ano do ensino médio, quando ela coincidentemente foi para a mesma escola que Killua estava ㅡ e um dia apareceu na porta da sala, segurando a barra de um novo moletom marrom e com bochechas vermelhas, parecendo meio abobada ao perceber que o Zoldyck estudava ali também.
Eles voltaram a se falar, por vezes Gon era deixado só pelos corredores porque ele ía para o pátio com ela ㅡ escondiam-se num lugar que o Freecss nunca conseguiu achar, todavia também nunca teve coragem de procurar. Levou menos de duas semanas para começarem a namorar.
Na época, Gon considerou esse passo como algo surpreendentemente rápido (até apressado), até seu melhor amigo revelar que eles tinham um pouco de história ㅡ e o moreno conectar os pontos.

Por isso, por nunca ter tido os culhões para indagar como diabos a relação dos dois havia se tornado algo romântico, Gon estava completamente perdido ao ouvir a explicação de Killua sobre os acontecimentos recentes.
Ele sabia apenas, por um ímpeto de curiosidade que não conseguiu segurar, que o rapaz havia terminado com ela por sentir culpa.
Gon nunca quis de fato perguntar para ele sobre seu relacionamento, e mesmo as pequenas coisas que havia descoberto lhe assombravam durante a noite ㅡ qualquer que fosse a tamanha "culpa" que Killua sentia, pelo sentimento de estar usando-a, o moreno não desejava entender a matriz.
Contudo, ao que o viu ali, ombros trepidando e lábios tremendo, entendeu que a dor que havia sentido ao ouvir sobre o relacionamento dos dois nunca seria nada comparada à de vê-lo sofrer daquela forma.
Killua quem havia terminado, e ele gostava de deixar claro isso, afinal não sentiu arrependimento por ter finalizado aquele namoro, mas a situação se invertia e virava outra coisa totalmente distinta quando ele falou que a própria família havia descoberto há pouco desse relacionamento ㅡ que o pai de Kinpun também estava ciente, e os Zoldyck conversavam com os Shōjo em conluio; que aquilo havia sido apenas mais um motivo para diminuírem e invalidar o garoto ao ponto dele ter passado aquela semana desanimado.
É claro que não era culpa de Dourado ㅡ e Killua afirmava veementemente que não ㅡ, mas se tornava um pouco difícil não se sentir frustrado com ela quando havia sido o pai dela a recolher gravações dos dois para mostrar a Silva e Kikyou.
Segundo ele, nem ela sabia que estava sendo gravada ㅡ e quem é o maluco que espiaria a própria filha dentro de casa?

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