4.

149 24 104
                                    

Reparei que esqueci de mencionar no primeiro capítulo: a ex do Killua é um personagem do anime, apesar dela provavelmente ter tido menos de dez segundos de tela e ser literalmente uma das cartas de Greed Island.

"Dourado" é apelido de Kinpun Shōjo (garota pó de ouro).

Boa leitura, e foi mal pela provável confusão :P

~

As linhas de cansaço estendidas durante o curto espaço de tempo pareciam se prolongar e escrever uma mensagem longa e tediosa numa língua desconhecida ㅡ e as linhas eram quebradas por cada movimento do seu corpo tombando para sempre; tornavam-se algo parecido com código morse, continuamente escritas pelo barulho brando da sua testa caindo em cima do livro aberto pela escrivaninha. As linhas se enrolavam na fumaça do café que havia acabado de coar, ao redor do seu corpo, em seus dedos ansiosos e pernas inquietas cada vez que levantava da cadeira para zanzar no quarto repetindo para si mesmo o mesmo mantra.
A prova era amanhã, e Gon absolutamente não podia falhar ㅡ qualquer coisa abaixo de cinco e meio já lhe seria literalmente irrecuperável.
Ele suspirou ㅡ tudo bem que não estivesse como um completo idiota inútil durante as explicações de Killua, que conseguisse acertar todos os exercícios que faziam juntos e a maioria daqueles que buscava fazer só, mas era diferente fazer isso no conforto da biblioteca da cidade e fazer na penumbra de seu quarto, com só aquela lamparinazinha lhe iluminando de forma digna a um filme de terror.
Era estranho, mesmo, como sentia que sua vida estivesse em jogo ㅡ e seu coração pesava dolorido, porque aquele medo irreal de ver a decepção no rosto de Killua quando, inevitavelmente, falhasse, seria terrível.

Gon não era o cara mais confiante do mundo, nunca foi, apesar da falsa impressão que podia passar mesmo sem perceber ㅡ ele era uma pessoa determinada, oras! Iria tentar até o fim, mesmo que não estivesse muito confiante dos resultados.
O cerne da sua inquietação, porém, era dado por mais do que o fato de já estar caindo de sono e há bons minutos errar multiplicações simples e subtrações bobas ㅡ caramba, Gon tinha conseguido dividir cem por dois e de alguma forma chegar em vinte e cinco décimos. Era que ontem, durante a aula de educação física, o moreno teve uma conversa preocupante.

Zushi estava com cólica, e por isso pediu para ficar nas arquibancadas ㅡ Gon não quis deixar o amigo sozinho encarando os outros jogando aquela partida de vôlei, então decidiu fazê-lo companhia. Estavam deitados no topo das arquibancadas, encostados na parede conversando sobre o futuro, e Zushi mencionou que Gon não deveria estar se preocupando tanto em provar sua inteligência, porque mesmo se ninguém conseguisse perceber seu cérebro, o pior dos cenários seria aquele em que o Freecss se tornaria um "esposo-troféu".
O problema era que o rapaz queria ter seu intelecto apreciado, queria porque a melhor experiência humana que teve ㅡ a melhor relação que construiu com alguém ㅡ foi com um garotinho que lhe achava único e apreciava suas ideias. Por isso apertava sua xícara favorita com um ímpeto vigoroso ao invés de dar um gole no café amornando, por isso seus pés estavam inquietos naquela noite.
Gon não queria desapontar uma das únicas pessoas que via valor intelectual em si.

Deus, ele ainda lembrava do quão Killua havia ficado animado, no nono ano quando tinham começado a planejar essa viagem.
Estavam sozinhos no auditório, faltando a aula de educação física ㅡ estavam sozinhos, e as luzes estavam desligadas, a porta trancada (um dos benefícios do seu melhor amigo ser o representante), a lanterna do seu celular apontava para o teto e ambos cochichavam baixinho sobre suas familias e o que planejavam fazer quando crescessem. Era dois mil e dezenove, e eles estavam escutando The Neighbourhood, porque os dois tinham entrado de cabeça na fase rebelde da adolescência ㅡ ainda que o conceito de "rebeldia" significasse coisas bem diferentes para Gon e para Killua ㅡ, então em meio a uma bobagem o Zoldyck disse que gostaria de fugir para bem longe, nem que fizesse isso apenas uma vez na sua vida ㅡ uma só vez, um só dia longe de tudo, sem ser controlado pelos seus pais, bastaria para ele.
Acabou que estenderam esse "dia" para semanas, porque enquanto o moreno rebatia veementemente que Killua não deveria se contentar com um futuro que não havia escolhido, o platinado dizia que já não era mais criança para poder pensar assim ㅡ ele disse que estavam crescendo, a realidade em algum instante iria bater à porta, e não podia mais se enganar. Gon queria mais tempo, porque sabia o que significava para si Killua viver uma vida que não era dele ㅡ iriam para faculdades diferentes, talvez até em estados diferentes, e um dia iriam parar de se ver.
Então não, só um dia não era o suficiente.
Gon sugeriu passarem uma semana longe da civilização, só os dois ㅡ não importava onde fosse, contanto que estivessem juntos.

TESTES [📄] ; killugon ˎˊ˗Onde histórias criam vida. Descubra agora