Capítulo 7

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Annie não bateu a porta de seu quarto ao entrar, apesar de sua raiva sussurrar a sugestão em seu ouvido como uma provocação apelativa. Ela se controlou, no entanto, ainda que frustrada por nunca poder simplesmente estourar, como tantas outras pessoas faziam quando estavam muito sobrecarregadas com as próprias emoções.

Às vezes, Annie sentia falta da sensação de simplesmente se permitir explodir de uma vez em vez de se permitir cair em seu instinto natural de se retrair até que todos os sentimentos dela implodissem. Era tão frustrante que houvesse tantos sentimentos dentro dela que Annie não poderia apenas deixar fluir que ela precisou lutar para segurar o choro.

Infelizmente, chegar ao seu quarto também não ajudou, porque a visão das cartas abertas em sua escrivaninha só fez aumentar ainda mais toda a frustração que Annie estava sentindo naquele momento: tanto por Chris, por causa de seu pai, quanto pelo que Daphne falara do relacionamento dela com seus garotos, mas principalmente — como sempre — por causa de seu pai, Elliot Wood.

Ela deveria saber, Annie pensou amargamente, não pela primeira vez.

No ano retrasado, bem antes de sua mudança, Annie havia decidido cortar tanto contato com seu pai quanto podia depois de descobrir que ele havia mentido sobre estar guardando dinheiro para a faculdade de Annie e da irmã mais velha dela, Ellen. Embora aquela não fosse a única razão para sua decisão, a descoberta da mentira de Elliot e, posteriormente, a distorção dele dos acontecimentos para que ele ficasse numa luz muito melhor, foram o cúmulo que Annie precisava para finalmente fazer a decisão que ela vinha querendo tomar há muito tempo na época.

Mesmo assim, o contato com Elliot não estava completamente cortado como Annie fizera com sua mãe, Loren, quando ela se divorciara de seu pai. Com Elliot morando em Taigh Hill, a propriedade da família de Annie no norte da Escócia, junto com seu tio Elijah e a esposa dele, Caroline, e todo o resto da família que Annie amava, a relação deles era apenas tão distante quanto ela poderia fazer com que fosse. Isso, infelizmente, significava que Annie não podia simplesmente parar de falar com Elliot.

No fim das contas, então, Annie era constantemente forçada a estar no mesmo ambiente que seu pai e, embora este fato não a deixasse tão ansiosa quanto um dia fizera, isso ainda fazia com que ficasse mais difícil para Annie simplesmente evitá-lo. Em mais momentos do que Annie gostaria ou mesmo estava confortável em admitir, a saudade do relacionamento que ela um dia compartilhara com seu pai era completamente opressora, fazendo-a esquecer — ou melhor, minimizar, tudo aquilo que Elliot lhe fizera de ruim naqueles anos todos que levaram para que Annie finalmente batesse o pé contra um contato próximo.

Nesses momentos, ela era incapaz de seu impedir de se sentir culpada e terrivelmente mal por ter decidido se afastar do convívio de Elliot, e esses eram os momentos mas perigosos — seus momentos de fraqueza, em que Annie não podia evitar uma última tentativa de fazer as pazes e construir uma relação melhor com o homem que tanto admirara durante toda sua infância. Fora o motivo pela qual ela mandara uma carta para ele na semana retrasada — embora, agora que Annie tinha finalmente caído em si, ela se lembrasse que Elliot não havia, desde que ela saíra de Taigh Hill sete meses atrás, mandado mais do que cinco cartas para ela, nenhuma delas excepcionalmente paternal.

Claro, como seria de se esperar, a carta de resposta de Elliot, embora imensa, poderia se resumida em uma única frase, uma que Annie não ficou surpresa de ouvir de seu pai, porque ela deveria ter esperado aquilo dele: Você precisa virar adulta e encarar seus problemas. Depois de tanto tempo tentando, era frustrante que Annie ainda esperasse, mesmo em meio a seus arroubos de fragilidade, que Elliot fosse lhe oferecer um mínimo de consolo — isso não era do feitio do pai de Annie, nem nunca seria.

Mas ao mesmo tempo, ela não poderia deixar de imaginar se ele não estaria certo. Depois que a guerra acabou e Annie se viu jogada no mundo universitário e na vida adulta, havia tantas pessoas ao redor dela que pareciam simplesmente fixadas na ideia de que ela era uma adulta e deveria começar a agir como uma — fosse lá o que isso significasse —, mas ao mesmo tempo olhavam para ela como se Annie não fosse nada mais que uma criança que acabara de descobrir que o céu é azul.

Aos Poetas Decadentes - Volume 3Onde histórias criam vida. Descubra agora