Capítulo 12

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ATENÇÃO: menção de abuso sexual neste capítulo (nada gráfico).


Chris já estava tremendo quando a campainha do apartamento soou pela sala, o buzz suave ecoando como os últimos momentos antes de uma sentença que mudaria vidas inteiras para o bem ou para o mal. Quase no automático em meio ao próprio nervosismo, ele apertou o botão que deveria liberar o portão, mal conseguindo processar a passagem de tempo que houve entre isso e as batidas hesitantes soando à porta.

Annie, Noah e Oliver tinham saído juntos para o café do outro lado da rua, de onde poderiam monitorar a chegada e a saída de Maxwell e, desse modo, saberem quando deveriam voltar para o apartamento para o caso de Chris precisar deles, sem atrapalharem a privacidade necessária para a conversa que ele teria com o pai naquela tarde. Por isso, talvez, o apartamento parecesse vazio demais, silencioso demais, fazendo com que ansiedade rastejasse sob a pele de Chris, sibilante, sem dar sossego ao garoto.

Quando ele finalmente abriu a porta, revelando Maxwell com sua usual camisa escura e calças pretas, no entanto, toda aquela ansiedade pareceu murchar dentro de Chris como um balão soltando ar rapidamente — algo completamente anticlimático, na opinião dele, mas Chris não reclamaria de barriga cheia naquele momento. Em vez disso, ele se concentrou em Maxwell.

O pai, em geral, não parecia particularmente mudado depois de nove meses, mas aquilo não era uma surpresa — Chris sabia que o estado mental de uma pessoa podia não se refletir em sua aparência normalmente: aquilo acontecia principalmente quando uma pessoa se cansava de esconder ou perdia a capacidade de se enxergar realmente. E ele não achava que Maxwell conseguia aguentar não se esconder do mundo.

— Chris. — O pai dele respirou, piscando lentamente, como se estivesse em um sonho e não pudesse acreditar no que estava acontecendo. Como se ele não esperasse que aquilo fosse real.

Chris engoliu em seco, se aprumando no lugar: só porque sua ansiedade parecia ter retrocedido, isso não queria dizer que ele não se sentisse extremamente nervoso.

— Pai. — Ele cumprimentou Maxwell formalmente, saindo de frente da porta para que homem pudesse entrar, respirando fundo quando ele fez exatamente aquilo. — Vamos conversar na sala. É por ali.

Maxwell assentiu, deixando que Chris os guiasse até a sala sem tentar iniciar qualquer tetê-à-tetê — algo que fez com que Chris suspirasse internamente, aliviado. Ele não achava que podia aguentar ouvir Maxwell falando com ele como se não houvesse nada de errado e aquilo fosse apenas uma visita social e não algo completamente fundamental para finalmente colocar um basta nas perguntas em aberto do relacionamento entre eles — só o pensamento fazia com que algo rastejasse sob a pele de Chris.

— Pode sentar. — Ele murmurou, se sentindo cada vez mais estranho naquela situação toda.

Quando Maxwell o obedeceu quase imediatamente, quase se largando na poltrona, como se fosse um alívio poder descansar, Chris começou a suspeitar que havia algo de errado, já que nunca vira o pai se portar de outro modo que não sua comum rigidez militar. Mas não foi até o momento seguinte que Chris teve certeza de que havia algo de muito errado:

Antes de ir até o café com os outros dois, Noah havia preparado chá para os dois, caso houvesse necessidade de acalmarem os ânimos. Chris ofereceu a bebida ao pai e, ao oferecer a xícara ao pai, observou discretamente, mas com assombro, enquanto a mão de Maxwell tremia incontrolavelmente sob o peso ínfimo da xícara cheia, quase fazendo com que ele derramasse o chá mais vezes do que Chris pôde contar antes que Maxwell apoiasse o recipiente com a outra mão também. Chris reconheceu rapidamente no rosto de seu pai o mesmo olhar de vergonha que costumava tomá-lo quando a fratura em sua mão era ainda recente e difícil de manejar.

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⏰ Última atualização: Nov 25, 2023 ⏰

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