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Sinto meu corpo ser puxado para longe. Para ser mais exato como se estivesse aparatando sem minha autorização. O que não faz sentido já que não podemos aparatar em Hogwarts. Talvez fosse algum problema da minha visão, mas quando tudo volta ao "normal" não estou mais em Hogwarts, nem no Salão Principal, estou em algum tipo de campo de futebol trouxa levando uma bolada na cara.

Tá, a bola não foi na minha cara já que um arame do capacete a segurou, mas com o simples susto dela vindo na minha direção foi o suficiente para me fazer cair. Onde eu estou?

— Neil — uma voz feminina aparece ao meu lado — Você tá bem?
— Que? — pergunto.

Mais pessoas começam a vir em minha direção e começam a falar todos de uma vez.

— Do jeito que o Neil é, se cair mais uma vez ele quebra — Um garoto que parece ter uma pele escura por trás do capacete fala.
— Cala a boca, Nick! — a voz feminina fala novamente.
— Ei! Seus vermes, o que está acontecendo aqui? Eu saio por um minuto e quando volto estão todos parados — Um homem agora mais velho e com tatuagem nos braços aparece.
— O Neil caiu, mas já estamos voltando, treinador — de pouco em pouco todos vão saindo e indo para uma posição diferente enquanto eu continuo ali parado.
— Ei — o homem mais velho fala — Vai ficar aí parado?

E com apenas o olhar me levanto rapidamente e pego uma espécie de bastão com uma rede. E puta merda, que coisa pesada. Essas pessoas parecem ser trouxas normais, até agora não vi nenhum índice de magia. Estou começando a ficar desesperado.

Tá, uma coisa eu já sei. Que meu nome é Neil. Agora só falta saber onde eu estou.

— Neil — alguém me chama e aponta para o lugar que provavelmente é o meu — Vamos logo, não temos o dia inteiro.

Se no começo já estava horrível, depois só piorou. Fui acertado com esse bastão umas três vezes e levei bolada umas cinco, e para ser sincero achei esse jogo bem violento (ou talvez seja pelo fato de já estar cansado de ficar correndo).

Pelo lado bom eu não sou o único que é péssimo nesse jogo, o goleiro (ou seja lá como falam) não conseguiu pegar uma bola sequer, o que acabou fazendo o tal treinador e um dos jogadores gritar a plenos pulmões.

— ANDREW SEU ANÃO PSICOPATA! JOGA DIREITO! — o treinador grita, estou quase pedindo para que ele se acalme.

Trinta minutos depois essa droga de jogo acaba, mas antes de podermos sair daquela quadra o tal treinador junto com mais dois jogadores me obrigam (junto com o Andrew) a esperar mais um pouco. "Prometo comprar flores bonitas para o funeral de vocês" Nick fala. Ele parece ter um humor bem caótico, acho que Sirius iria gostar dele.

— Posso saber porquê os dois idiotas estão sendo mais idiotas do que o normal?
— Calma — Andrew fala — Quer um chá de camomila? Dizem que ajuda os trouxas a se acalmar — encaro o garoto.
— Primeiro: enfie no seu rabo o seu chá de camomila. Segundo: me chama de trouxa de novo e faço você correr em volta desse campo até minha próxima encarnação — o treinador fala e então respira fundo — Seja lá que merda acontece aqui, se acontecer de novo vocês dois ficam no banco, principalmente você — ele aponta para mim.

Vejo o treinador sair do campo, sendo seguido pelos dois jogadores. Nós dois ficamos parados, continuo encarando o garoto loiro que ainda está ao meu lado. Como vou descobrir se esse garoto é um bruxo também? Quer saber? foda-se.

— Ei, qual o seu nome?
O garoto loiro olha pra mim e demora bastante para responder.
—  Andrew?
— Tem certeza? É que... pode até parecer um pouco estranho, mas meu nome é Remus Lupin — Se eu estiver errado e ele só for um trouxa normal, provavelmente estou fazendo papel de um idiota.
— MOONY? — ele grita e literalmente pula em cima de mim — É o Padfoot!
— Sirius? — grito também.
Eu nunca fiquei tão feliz em ver esse cabeça oca.

Continuamos gritando por no máximo três minutos quando percebi que parecemos dois loucos.

— Cara, você é péssimo nesse jogo! — Sirius diz rindo.
— Você também!
— Eu sei! — ele diz e nós dois rimos.
— Ei! — Uma menina com cabelos coloridos grita aparecendo na quadra — Vocês não vão vir?

Eu e Sirius nos olhamos e vamos em direção a menina, enquanto andamos em um corredor branco e laranja, a menina olha para nós dois e dá vários sorrisos.

Ela aponta para uma porta com a placa "CAVALHEIROS" e entra em outra porta. O lugar está cheio de vapor quente e cheio de conversas dos garotos, o tal Nick abre uma bebida amarelada e bebe como se fosse água.

Os garotos parecem ter acabado de tomar banho, já que estão com cabelos molhados e uma toalha enrolada na cintura.

— Você tá bem? Foi péssimo no jogo hoje — Um garoto negro e super alto aparece ao meu lado.
— Estou bem — Não estou nada bem.
Nick solta uma risada.
— Acho melhor você mudar o disco, já ouvimos isso antes.
— O que? — pergunto.
— Anda logo — um garoto loiro aparece, que com toda a certeza é irmão de Andrew/Sirius — Quero voltar para o dormitório.

Olho para os armários laranjas e branco e então para minha própria blusa vendo um "10" e é assim que descubro qual o meu armário. Me viro para Sirius que pedia para experimentar a bebida de Nick.

Abro o armário pegando a primeira roupa que vejo, tiro a blusa laranja e a primeira coisa que encontro são cicatrizes por toda a minha barriga, toco em uma que está na região do estômago pra ver se ela é real, e sim, ela é.

— Tem certeza que está tudo bem, Neil?
— Já disse que estou bem — coloco a blusa o mais rápido possível e termino de vestir o resto das roupas.

Quinze minutos depois estamos em estacionamento, o grupo se divide indo para carros opostos enquanto eu e Sirius ficamos parados sem saber para onde ir.

— Vamos logo vocês dois! — o gêmeo grita.
Kevin é o primeiro a entrar, o mesmo fica em um dos bancos da frente enquanto Nick e o irmão de Andrew vão para o banco de trás, deixando somente eu e Sirius do lado de fora.

— E agora? — pergunto com um sussurro.
— Sei lá — ele diz.
Os três garotos encaram Sirius.
— Eu… — Sirius remexe seus bolsos e de lá sai um bolo de chaves — Não quero dirigir.
— DEIXA EU?! — Nick sai apressado do carro.

Sirius olha para mim e dá apenas um piscar de olhos e dá as chaves para um Nick alegre.

O caminho se resume em eu e Sirius ouvindo as conversas que os garotos tinham em completo silêncio. Os três garotos tinham um gosto de conversa diferente um do outro, Nick gosta de falar de festas e safadezas, Kevin gosta de falar de Exy (nome do jogo) e manobras para Exy e Aaron (descobri o nome dele agora) não fala com ninguém, e quando fala é para xingar o Nick.

Olho para Sirius que parece atento à conversa. Quando chegamos a uma torre laranja que com certeza daria para enxergar do céu. Os meninos saem do carro indo em direção a torre enquanto eu e Sirius permanecemos parados, ainda ao lado do carro.

— Esse negócio coça — ele diz de repente e começa a coçar seu braço esquerdo, Sirius começa a mexer na braçadeira e como se tivesse se materializado, uma pequena faca bem pontuda cai de seu braço. Olho para as minhas próprias braçadeiras e me pergunto se tem uma faca ali também. Espero que não.

Sirius pega a faca do chão novamente e sem saber o que fazer com ela, dá para mim.

— O que fazemos agora? — Sirius pergunta.

Não faço a mínima ideia, talvez se James estivesse aqui ele nos ajudaria ou pelo menos estaríamos os três juntos. Não estou reclamando de Sirius, estou muito feliz dele estar aqui, mas se conheço Sirius, logo ele irá começar a enlouquecer e acabar fazendo besteira.

— Precisamos descobrir como voltar para Hogwarts — digo.
— Será que esses dois garotos estão em nossos corpos?
— É possível, já ouviu falar em algum feitiço para trocar de corpo?
— Não. Como vamos voltar? Estamos em um mundo trouxa e pior: nos Estados Unidos.

Isso é um pesadelo. Como Sirius disse: não temos magia, a única coisa que temos é uma faca e um maço de cigarros quase vazio que Sirius tenta acender.

Don't Forget Where You BelongOnde histórias criam vida. Descubra agora