01 | Perseguição da alegria

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   Café era minha única salvação, o que me mantinha acordada em plena madrugada de uma quinta-feira. Meus olhos grudavam e sentia meu raciocínio ir pra longe enquanto escrevia um relatório enorme que deixei pra depois e cá estou eu.

  25 anos e podia ter certeza que meu espírito era de uma idosa trabalhando a anos em uma condição péssima. Não era verdade. Mas estava me sentindo assim.

  Meu celular ao lado do notebook que eu tanto prestava atenção, ligou indicando uma nova notificação.

— Lydia cadê você??? São literalmente duas da manhã e você nem sai a festas para ta transando na casa de alguém!

  Já era a terceira mensagem de Harley que eu via, mas não lia direito.

  Bebi mais um gole do café frio e voltei a colocar pontos e vírgulas no Word2010, concluindo mais um dia de trabalho totalmente jogado para mim.

  A verdade era que eu precisava ir para casa as nove da noite, quando todos foram também. Mas uma das minhas "colegas" de trabalho simplesmente faltou por conta de uma ressaca e seu trabalho veio todo para mim.

  Não sou acostumada com isso e sem querer, dormi uma hora com a cara na mesa do escritório e por isso estava tão tarde agora.

  Suspirei quando fechei o notebook, aliviada.

  Mas esse sentimento logo se foi quando meu corpo se levantou e me fez lembrar de salvar o arquivo.

— Ah, não acredito que fiz isso!

  Falei enquanto via o aparelho reiniciar e quando fizesse já não estaria nada do relatório do dia de hoje.

  Bufei irritada e me sentei novamente, enchendo o copo com mais café e voltando a escrever na força do ódio.

  Aqueles gritos de alegria, que não deveriam estar ali, começaram a falar algo como "Que vença a ditadura!"

  Meu corpo em si estava dolorido, e só me dei conta que dormi quando acordei. 

  Olhei para o suposto relatório e ele estava ali, o mesmo de ontem. Foi só um sonho de cansaço.

  Me levantei ajeitando aquela saia formal que era obrigada a usar e me apressando para receber meu chefe. Um gordo sem pescoço que tinha como favorita as estagiárias que usavam um decote ousado.

— O relatório de ontem, Senhor Callangham.

  Entreguei o que parecia um pilha de papel e ele analisou arqueando as sobrancelhas. Como eu amava trabalhar pra ele.

  Não faz nem um ano que estou ali, formada em jornalismo, mas não faço nada sobre. Todos os dias um relatório e correções, faltava uma investigação de verdade e ele me tirava essa oportunidade.

— Dormiu aqui, Lydia? Isso explica essa cara amassada e essa baba no canto da sua boca.

  Ele riu apertando os olhos e apenas sorri falso, limpando o local e ajeitando os cabelos, apressando o passo para sair o mais rápido da sua sala.

  Harley! Ela deve estar uma fera depois que não a respondi, e não duvido que colocou meu nome nos desaparecidos da cidade.

  Liguei para ela sem pensar duas vezes, quando não estava no trabalho, que era dançar, estava em casa fazendo as unhas ou compras.

— Lydia você é louca? Sua louca! Eu fiquei exatamente 30 minutos te ligando e você não me atendeu. Quase chamei a polícia!

  Ela nem sequer ouviu meu oi, e minhas especulações estavam certas.

— Desculpa, Harley. Eu dormi aqui no escritório sem querer. 

— Aí garota, você tem que parar de trabalhar tanto.

— É fácil você dizer.

— Hoje vamos sair e você não tem escapatória.

  Suspirei fundo e sabia que quando Harley colocava uma ideia na cabeça ela não tiraria mais. Era uma loira de gênio forte que se entregava toda pelas amigas. E isso era uma ajuda sua, não ia poder nem recusar.

— Vou sair mais cedo, de qualquer jeito.

  Ela soltou um gritinho de felicidade e desligou falando que compraria roupa para nós duas.

  Dei um sorriso bobo antes de desligar e voltei a me sentar.

  Não demorou muito para mesma meliante que faltou no dia anterior chegar, usava uma encharpe vermelha que não combinava nada com seu look e mascava um chiclete.

— Fez meu relatório, docinho?

— callaghan já recebeu.

  Falei tentando me desviar e voltando a fingir que anotava algo super importante no papel em branco.

  Senti passos pesados pelo local e subindo os olhos viram callaghan com um sorriso maligno. Ele chegou bem perto e sabia que vinha mais uma onda de trabalho me esperando.

— Lydia Paz! — Ele falou alto e pude sentir seu hálito de cigarro e café, nada agradável — Sabes que é a única aqui com uma formação que preste em jornalismo.

  Já ia começar a subornar, mal esperava pelo trabalho escravo.

— E as editoras estão me cobrando o que os jovens gostam. Você é novinha ainda, não? Então pode fazer uma matéria sobre as músicas da atualidade. As bandas e esses meninos bonitos. Persegue eles, faz entrevista com as famílias e descobre as fofocas. Preciso de bomba.

  Era possível isso? Ele finalmente me dando um trabalho que estudei para. Uma matéria sobre fofoca que provavelmente pararia naquelas revistas teen, mas era algo.

  Um sorriso cantou nos meus lábios e ele apertou os olhos sorrindo, como sempre fazia.

— Sabia que ia gostar! Agora vai logo que amanhã você vem mais cedo.

  Ele falou um pouco mais rígido, mas sentia que estava dando certo. Peguei minha bolsa e saí dando pulinhos disfarçados. Agora mesmo que eu iria sair com Harley.

  Segui rumo ao nosso apartamento modesto que pagávamos dividindo. Era grande, porém bem precário de móveis. Mas nós vivíamos bem lá e isso que importava.

  Meu saltinho fazia um barulho satisfatório no asfalto da comercial e pensava seriamente em algo: Qual roupa eu usaria hoje de noite?

WET STAGE - 𝑨𝒍𝒆𝒙 𝑻𝒖𝒓𝒏𝒆𝒓Onde histórias criam vida. Descubra agora