Sinestesia E Dia dos Namorados

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💜 Esse conto se passa num universo alternativo sem magia 💜

*Sei q na Inglaterra o correto seria Valentine's Day, mas deixei Dia dos Namorados por licença poética kkkkk

*Recomendo q leiam esse conto ouvindo a música She's A Rainbow, dos Rolling Stones

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Inglaterra, 14 de janeiro de 2023

O som delicado da ponta do lápis em contato com a folha de papel era música para os ouvidos de Sirius Black.

Geralmente, aquela melodia tão graciosa do grafite riscando a folha era capaz de arrancar qualquer pensamento ruim da mente do garoto com cabelos cumpridos e encaracolados bonitos como a primavera e macios como algodão-doce colorido.

Seu rosto ficava sereno, o olhar se tornava distante e o garoto da mente tão criativa permitia que o som de uma nova ilustração sendo feita o levasse direto para uma terra encantada em seus pensamentos. Muitas vezes, ele ficava tão distraído que o lápis em sua mão parecia e ir conduzindo -o pelo desenho.

Entretanto, naquele dia nem mesmo aquela música graciosa era capaz de tirar o menino dos olhos cor de cinzas das lembranças terríveis da tarde anterior.

Quando fechava os olhos de longos cílios, ele ainda conseguia ver o olhar azul de Adam encarando-o com a delicadeza de um soco no estômago.

Creio que você, querida, já ouviu alguém dizer que "os olhos são a janela da alma", não?! As pessoas costumam dizer bastante isso. Pois, se for verdade, naquela tarde o jovem Black sentiu que os olhos de seu - agora ex - namorado davam vista para um rio congelado. Frio até o último suspiro.

Sirius se lembrava bem da cena: ele estava na sala do pequeno apartamento que dividia com Adam, sentado no tapete de pelinho lilás com as pernas cruzadas e um mar de canetas de glitter e lápis-de-cor espalhados ao seu redor. À sua frente estava uma mesinha de centro feita de madeira e, sobre ela, uma folha de papel que lentamente deixava de ser branca e ganhava vida com a ilustração que o Black dos cabelos em caracol pintava.

Aos poucos, seu desenho ganhava forma:
Dois garotos. Um mais alto, outro um tanto mais baixinho. Ambos estavam de costas, olhando de mãos dadas para um pôr do Sol dourado, rosa e alaranjado que ainda estava sendo colorido.

Sob seus pés, uma ponte de pedra decorada com todo tipo de flores, de girassóis à cravos e, sob a ponte florida, havia um rio pintado de azul turquesa.

Talvez, querida, agora você esteja pensando que o garoto dos cabelos encaracolados e nome de estrela era um maldito apaixonado que passava seus dias pintando casais de namorados. Veja bem, não é bem assim.

Ele podia, de fato, estar profundamente caído de amor por Adam Carter, mas não era por isso que fazia aquele desenho.

Tratava-se de uma encomenda de seu novo trabalho. Ele tinha conseguido, há poucos dias, um emprego em uma papelaria no centro da enorme, movimentada e sempre tão cinza cidade de Londres. O menino tinha vindo de uma cidadezinha no interior do país, na tentativa de acalmar o fogo que ardia nele e lhe implorava por uma aventura, por algo novo. Ele odiava o silêncio, a ausência de cor, de vida, e sabia que seu tempo na silenciosa e pálida cidade onde nascera tinha chegado ao fim.

Sirius já era, naturalmente, uma estrela. E, inevitavelmente, ele estava em chamas.

Assim, ele foi parar em Londres. E assim, encontrou um trabalho que lhe permitia fazer o que amava e terminar suas noites com os dedos manchados de toda cor de tinta, com manchas que iam do azul claro ao verde incandescente e estavam em cada linha das Palmas de suas mãos, feito um arco-íris na própria pele.

Dimensão [Wolfstar]Onde histórias criam vida. Descubra agora