Amarelo É A Cor Mais Quente

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💜 Esse conto se passa no universo canônico de Hp (e tá 100% completo tutstuts confetes) 💜

**Recomendo q leiam ao som da música Vilarejo, da Marisa Monte. É mais pela sensação esperançosa q ela traz.

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Escócia, outubro de 1976

A tarde estava quente. Tediosa. O ar ao redor estava parado. Todas as folhas secas alaranjadas e avermelhadas no chão permaneciam imóveis. Nem uma única brisa sequer balançava minimamente uma árvore. Nada de brisas frescas ou calorentas. Nem ventos fortes ou fracos. De tarde ou de noite. De outono ou de verão.

O sol brilhava tão ardente e cruel sobre todos os cantos que, quando tentava olhar para a superfície transparente do Grande Lago que rodeava Hogwarts, os raios solares se refletiam sobre aquelas águas cristalinas com tanta voracidade que Remus tinha de desviar os olhos imediatamente, para não machucá-los.

A lula gigante, velha moradora do Lago, devia estar submersa bem lá no fundo do regato, onde a água é sempre refrescante, já que Remus não conseguia avistar nem mesmo a ponta de seus tentáculos para fora do aquífero.

"Certa ela", o Lupin de dezesseis anos pensava consigo.

"Se eu fosse um animal marinho, também ia passar essa tarde sem graça dando voltas pelo lago até enjoar. Ia brincar de encontrar pedrinhas coloridas e cavernas subterrâneas."

Mas ele era apenas um bruxo. Um bruxo cansado que tinha tido uma péssima noite.

A lua cheia idiota havia finalmente ido embora. A madrugada anterior fora a última do ciclo e, pelo menos, agora ele tinha mais um mês de calmaria e paz. Até o próximo ciclo chegar e a lua cheia assumir seu lugar no céu outra vez. Idiota e malvada como sempre.

No entanto, embora por agora ele estivesse livre, as dores e os ferimentos da transformação mais recente estavam espalhados por todo seu corpo como nuvens espalhadas por todo o céu num dia de tempestade.

Seu abdômen, no momento protegido pela camisa azul-escura e casaco marrom que ele vestia, estava cheio de novas cicatrizes produzidas pelas garras do lobo na madrugada anterior. O lobo que, claro, era ele mesmo.

Suas pernas, envoltas por suas calças jeans rasgadas e remendadas e também por bandagens e curativos feitos com cuidado pela habilidosa Madame Papoula Ponfrey, também tinham arranhões profundos. Bem como seus braços e até seus pés, que ele tinha descalçado dos tênis que usava para mergulhá-los nas águas puras do lago. Talvez aliviasse um pouco a dor.

Mas só um pouco.

A noite passada tinha sido tão difícil para ele que, pela manhã, quando foi levado para a enfermaria por James, Sirius e Peter debaixo de um céu azul-muito-claro e árvores desfolhadas, numa manhã fria que disfarçava muito bem o calor que faria pela tarde, assim que o viu a bruxa mais velha correu a preparar uma forte poção feita com casca de sicômoro, pétalas de crisântemo e asa de besouro morto há dez dias (especificamente dez. Nem mais, nem menos. Senão não faria efeito).

"Beba de uma vez. Num gole só. Vai amenizar a dor, querido. Eu prometo." Ela explicara.

"Também vai te deixar um tanto quanto sonolento. Deixe o sono te levar. Permita-se descansar. Será bom."

Ele tinha obedecido, e a última coisa de que se lembrava era de Sirius Black acariciando seus cabelos e ajeitando o edredom que Madame Ponfrey colocara sobre ele. Então, os braços esfumaçados do sono o puxaram delicadamente para si e seu mundo de estrelas, mares e sonhos calmos.

- Durma bem, meu Moony. - Padfoot sussurrara em algum lugar distante.

***

- Moony? - a voz rouca chegou sem pressa ou afobação até os ouvidos de Remus. Chegou tranquila, bem como um canarinho pousando no galho de uma jaboticabeira.

Então, Moony deixou de lado as lembranças daquela manhã na enfermaria e voltou para o lago, o calor e a tarde silenciosa.

- Quê foi? - ele perguntou enquanto Sirius já se abaixava para sentar ao lado dele, compartilhando o tapete de folhas secas e grama fofa.

- Como você tá? A poção pra dor funcionou? Tá melhor? Eu queria ter ficado lá com você. Eu devia ter ficado! Mas a Madame Ponfrey começou a gritar comigo. Disse que eu só atrapalharia seu descanso e que ia me jogar uma azaração, daí eu disse que se ela fizesse isso eu ia azarar ela de volta, daí ela chamou a professora Minerva e... Bom...

- E o quê, Six?

- Eu meio que recebi dois meses de detenção pela suposta "ameaça" que fiz contra a Madam...

- DOIS MESES?

- Pois é! É um absurdo, você não acha? Ela que me ameaçou primeiro!

- Você é doido! - Remus falou escondendo um sorriso pelo comentário infame de Padfoot. - Você devia ter obedecido, Paddy. Ter ido embora assim que ela mandou.

- Não! Eu devia ter ficado lá com você, pra garantir que o edredom não fosse sair de cima de você caso você se mexesse muito. Pra te ajudar a se levantar quando você acordasse. Pra te acalmar caso você tivesse pesadelos. Pra te dizer bom dia quando você abrisse os olhos. Pra te fazer companhia!

- Six... - Remmy chamou, lembrando-se de que ele havia sido dispensado das aulas do dia por ainda estar machucado, mas que era para Sirius estar assistindo aula de Transfiguração naquele exato instante. - Você não devia estar aqui, devia?

- Não. - Padfoot respondeu simplesmente, descalçando as botas e fazendo companhia para os pés de Moony dentro do Grande Lago. - Definitivamente eu não devia estar aqui. - Remmy se aproximou alguns centímetros de Six, inalando seu aroma de grama molhada e chiclete de cereja.

O Black retribuiu a aproximação e, então, com seus corpos quase aninhados na beira do rio, falou:

- Mas um mês de detenção à mais não mata ninguém. Ficar sem ter notícias sua desde a manhã é que tava me matando.

Moony escondeu com uma das mãos o sorriso que brotou em seus lábios enquanto o Black começava a perguntar quais sonhos ele tinha tido pela manhã e algumas pétalas se desprendiam do ipê-amarelo que ficava na beirada do lago e se deixavam cair na superfície cristalina de suas águas feito gotas de ouro.

Dimensão [Wolfstar]Onde histórias criam vida. Descubra agora