Capítulo 06

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Agora que eu tinha internet de novo, pesquisei um pouco sobre a Cofi. A cafeteria simplória de Milus era só uma das 17 filiais espalhadas pelas montanhas. Filipe abriu a primeira aqui na cidade quando tinha 25 anos. Ele adotou uma estratégia diferente para fazer seu negócio crescer. Ao invés de ampliar para as cidades grandes, optou por criar uma rede de cafeteria em todas as cidades da montanha. Além de Milus, outras quinze cidades próximas daqui tinham sua própria Cofi.  Três anos depois, Filipe era uma das pessoas mais ricas e influentes de Milus e apareceu até no ranking nacional como um dos jovens mais sucedidos do país.

Na minha primeira visita à Cofi, a cafeteria ainda era recente, com apenas alguns meses desde a inauguração. Eu me lembro bem de Luca, mas, curiosamente, Filipe não fazia parte do cenário. Se minha memória não me engana, Filipe não estava na cafeteria nesse dia. Se ele estivesse, evitaria o mico que paguei hoje cedo.

"Minha mãe sempre reclamou que na nossa cidade não havia uma cafeteria decente, então eu vendi meu carro e montei a minha." Foi o que ele disse em uma entrevista.

Torci o nariz. Ele tem 28 anos e é muito mais bem sucedido que eu com 29. Balancei minha cabeça e fechei o notebook. Tudo o que eu menos queria era ter inveja de alguém que acabei de conhecer.

Olhei no relógio, passava um pouco das 17 horas. Apertei minha barriga e suspirei. Filipe foi um idiota quando me questionou para onde ia toda a comida que eu devorava, mas em certo ponto ele tinha razão. Há tempos eu não fazia exercício. Desde o divórcio, na verdade.

Nunca fui exatamente uma atleta, mas fazia pilates. Depois que meu ex me traiu, perdi minhas forças. Foi difícil me recompor, consegui juntar meus pedaços e ir embora daquele lugar, mas ainda faltava muito para me reerguer completamente. Talvez voltar a praticar exercícios fosse uma dessas partes que faltavam em mim. Levantei da cama e vesti uma legging. Decidi fazer uma caminhada.

O parque de Milus era perfeito para isso. Poderia caminhar por ali até o pôr do sol e depois voltar para casa.  Passei em frente a Cofi e olhei pela vidraça. Luca conversava animado com os clientes a mesa. Ele era um amor de pessoa com todo mundo, não era à toa que a cafeteria vivia cheia. Bem diferente do chefe dele.

Balancei a cabeça de novo. Não ia pensar naquele rude-amante-de-canela. Cheguei ao parque e fiquei animada em ver tanta gente por ali. Pelo visto tiveram a mesma ideia que eu. Eu comecei a caminhar devagar, não queria me cansar tão rápido e nem ter uma câimbra. Dei duas voltas controlando minha velocidade. Reparei nas arvores e no gramado ao meu redor. Descobri que o crepúsculo deixava o parque muito mais bonito.


Passei em frente a academia e torci o nariz. Eu nunca gostei de academia. Caminhar e correr eram muito melhores. Meu corpo não era definido ou musculoso como de quem fazia academia, mas não era de se jogar fora. (Na minha cabeça eu era/sou uma incrível gostosa e é o que importa). Cheguei até a Cofi e olhei para aquela loja fechada em frente a ela. Não tinha reparado antes, havia um papel colado na porta com algum aviso.

"Nos mudamos para a rua 32." Ler aquilo me deixou feliz. Isso significava que a loja estava livre. Suspirei chateada porque não havia mais nada informando a respeito. Olhei para o outro lado da rua e vi Luca sentado atras do balcão. Talvez ele soubesse de algo.

Mal entrei na cafeteria e aquele cheirinho gostoso de café invadiu meu nariz. Era tentador demais entrar ali e não saí com pelo menos um copo de papelão cheio daquela bebida quente ou gelada.

— Olá senhorita, veio tomar um café? — Ele perguntou todo sorridente.

— Eu só queria uma informação, mas não vou resistir.

— E o que vai querer?

— Bebida de morango com chocolate.

— Sem canela?

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