Capítulo 09

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Enviei mais um e-mail para os meus chefes, com as fotos da quinta loja que eu visitei. Acho que me empolguei demais visitando tantas lojas vazias e agora meus chefes estavam indecisos. De qualquer forma (ou infelizmente), para mim, a loja de Ulisses continuava sendo a melhor.

— O que você acha? — Mercedes perguntou. Estava se referindo ao décimo vestido que experimentava. Esse era preto com bordados.

— Ainda prefiro o lilás. — Respondi.

— Eu também. — Lorena concordou comigo. Ela já tinha escolhido o vestido dela.

— Todo mundo aqui prefere o lilás. — Minha irmã terminava de vestir o seu quinto vestido preto. Tentamos outras cores, mas nenhuma delas combinava com seu humor mórbido.

— Eu prefiro o vestido cinza. — Lea estava em dúvida em qual dos vestidos escolher.

— Você é sempre do contra. — Lorena foi ajudá-lo. — Essa aqui combina mais. — Ela pegou a gravata verde-escura.

— É, concordo. — Lea pegou um vestido com tons pasteis de laranja.

— Vou ficar com o lilás. O voto popular venceu. — Mercedes deu uma última olhada no espelho antes de se trocar. — Você não vai mesmo escolher nada? — Perguntou a mim.

— Eu não vou nesse evento, para que escolheria um vestido que não vou usar?

— Pode acontecer imprevistos, amiga. — Lorena alertou.

— Exatamente. Ainda falta um mês, quem não garante que um de nós não morra até lá? — Lea sentou do meu lado.

— Meu marido que o diga. — Mercedes riu baixinho. Ela tinha uma mania estranha de fazer piadas obscuras com sua própria tragédia.

— MERCEDES! — Lorena jogou uma sandália nela.

— Você nos bota em cada situação, hein. — Ameline tentou manter a pose, mas estava rindo também.

Eu só balancei a cabeça e voltei a mexer no meu celular.

Ficamos em uma única loja por mais de três horas, mas todas escolheram seus malditos vestidos e Lea o seu terno chique com gravata chique. Foi bom ajudá-los. Mesmo assim fiz uma nota mental de nunca mais fazer esse tipo de coisa.

— O que vamos fazer agora? — Lea questionou.

— Podemos tomar um café. — Ameline respondeu. — Um café bem forte. — Ajeitou os óculos escuros no rosto.

— Eu topo. — Mercedes sacudiu suas sacolas.

— Eu também. — Lorena apertou sua sacola contra o peito. — Você vem, Mada?

— Não, pretendo correr no parque.

— Tem certeza? Tem um tempão que a gente não sai pra tomar um café junto. — Ameline indagou.

— Tenho, quero manter minha rotina de exercícios.

Passamos em frente a cafeteria e evitei olhar para dentro. Só Deus sabia o quanto eu não queria encarar Filipe. Despedi dos meus amigos e voltei para o casarão. Troquei de roupa e fui até o parque correndo. Minha resistência estava muito melhor. Se eu continuasse assim, poderia correr uma maratona. Quem sabe.

Quando estava passando em frente a Cofi, novamente, atravessei para o outro lado da rua. Esse pequeno gesto evitou que eu olhasse quem estava lá dentro. Suspirei e corri mais rápido. Quanto mais longe melhor.

Passou-se duas semanas desde o incidente que eu carinhosamente apelidei de "O incidente da fada borboleta". Não sei o que eu tinha na cabeça para ficar horas andando por aí com uma criança que eu tinha acabado de conhecer. Filipe não brigou ou disse nada ofensivo a mim, mesmo que eu merecesse. Ele só pediu meu número de telefone e explicou o porquê. Pedi mais desculpas do que era capaz e fui embora.

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