Capítulo 07

16 1 0
                                    

Acordei mais cedo que o habitual. Não consegui dormir direito pensando na loja vazia. Encontrei Ameline sentada à mesa da cozinha de braços cruzados com uma cara de pouca amizade.

— Bom dia? — Cumprimentei com medo de levar uma mordida.

— Parece um bom dia para você? — Tomei minha mordida.

— O que há com você? — Sentei de frente para ela.

— Meu projeto de moradia foi paralisado até o governo liberar a verba. Agora a ONG me redirecionou para um abrigo de animais. Vou ter que cuidar de um monte de cachorros e gatos.

— E isso é ruim? — Cuidar de algumas pulgas me parecia bem melhor do que uma reunião de duas horas com um monte de homens.

— Eu sou engenheira civil, Madalena, não veterinária. — Ela conseguiu ficar mais emburrada ainda.

— Mas é temporário, não é?

— Sim, mas... mesmo assim... — Ela bufou. — Não estava nos meus projetos cuidar de animais. Não que eu não goste deles, mas queria mesmo trabalhar na construção das casas daquelas famílias pobres.

— Sei disso. — Levantei. — Sabe o que você está precisando? De um café amargo sem açúcar. — Peguei uma chaleira e enchi com água antes de colocá-la no fogão.

Tínhamos cafeteira, mas gostávamos de fazer o café à moda antiga.

Ouvi passos meio estranhos e olhei para a escada. Lorena descia com dificuldades apoiada no corrimão. Ela se arrastou até a mesa e sentou onde antes era meu lugar. Estava com uma cara horrível, mas não parecia tão brava como minha irmã.

— Bom dia! — Cumprimentei.

— É né. — Murmurou.

— Ah meu Deus! Mais uma mal-humorada. — Ergui os braços.

— Como você quer que eu fique? O bar estava lotado. Cheguei em casa às três da manhã só para descobrir que meu remédio tinha acabado. Não preguei os olhos e agora parece que um elefante passou por cima do meu corpo.

— Meu Deus! Que caras são essas? — Lea desceu as escadas. Ao contrário das meninas, ele não estava com cara de quem ia mudar de emprego ou que tivesse dormido mal.

— O remédio de Lorena acabou e a Ameline vai cuidar de cachorros.

— Isso é motivo para mau-humor? — Lea pegou uma xícara e parou na minha frente esperando que eu o servisse. Fiz careta para ele e enchi a xícara. Fiz o mesmo para minha irmã e ela bebeu um gole.

— O Cofi tem vários tipos de café, mas nenhum é tão bom quanto esse. — Ameline comentou com uma cara melhor. (Café alimenta almas).

— Porque esse café tem amor de irmã. – A abracei por trás e dei um beijo no topo da cabeça dela.

— Nossa! Que coisa mais gay! — Lea sentou a mesa e bebericou o dele.

— Vai querer também? — Perguntei a Lorena.

— Não. O que eu preciso é de algo que me faça dormir. — Ela esfregou as mãos no rosto.

— Se quiser eu bato com aquela frigideira na sua cabeça, tenho certeza de que vai apagar bem rapidinho. — Lea piscou para ela.

— Eu passo. De agressão já basta as que eu sofri do meu ex.

— Bleh! — Ele deu de ombros e encarou Ameline. — Não sei o porquê dessa cara feia. Eu mesmo lido muito melhor com animais do que com pessoas.

— Mas você lida muito bem com a gente. — Lorena observou.

— Porque vocês são as minhas cadelas. — Lea piscou para nós.

Íntimo Onde histórias criam vida. Descubra agora