Harry
DEPOIS DAQUELA NOITE MALUCA, NICOLA VOLTOU A SE FECHAR EM SI MESMA. Mesmo depois de combinarmos em esquecer que aquilo aconteceu. Mas não insisti muito e a deixei tranquila, entendia que ela podia estar envergonhada.
De manhã, antes do curso, ela ia a praia comigo. E à tarde, quando eu terminava de trabalhar e ela de estudar, passávamos um tempo juntos na varanda lendo, ouvindo música ou apenas compartilhando o silêncio. Apesar de não termos nos evitado, mal conversávamos.
Foi uma semana complicada. Foi como se não estivéssemos ali. Estávamos lá atrás, no beijo, no seu corpo nu, em seu olhar magoado. Me concentrei em diminuir o trabalho acumulado e terminei algumas encomendas, mas não consegui deixar de me sentir inquieto. Isso me assustou. Me assustou tanto que achei melhor ignorar.
Eu a observei de rabo de olho, a alguns metros de distância. Pegou um pincel, abriu a tinta preta e respirou fundo antes de permitir que o que estava em sua cabeça começasse a sair. Eu a observei maravilhado, atento aos movimentos suaves de seus braços, à força com que seus dedos agarravam o pincel, aos ombros tensos e à testa franzida, à energia que parecia levá-la a desenhar um traço e depois outro e outro mais.
Quando vi que ela estava misturando tintas e criando diferentes tons de cinza, controlei a vontade de me levantar para ver o que estava fazendo. Quando Nicola terminou, eu me levantei.
— Posso ver? — perguntei.
— Está horrível — me advertiu.
— Tudo bem, acho que consigo suportar. — Um sorriso escapou do canto de sua boca quando me aproximei e observei o quadro.
Tinha um ponto no centro, redondo e sozinho, estático no meio de um redemoinho de tinta girando ao seu redor, a bolha e o resto do mundo seguindo seu curso. Pela primeira vez, não prestei atenção só no conteúdo, mas também na técnica, em como ela tinha capturado o movimento circular; tão real, tão ela.
— Gostei. Vou ficar com ele.
— Não! Este não.
— Por quê? — Cruzei os braços.
— Porque para você... eu vou fazer outro. Um dia. Não sei quando.
— Não. — Me espreguicei. — Quero este, considere como um pagamento por morar aqui.
— Mas não é justo! — ela respondeu indignada.
— Querida, você vai ver que nada na vida é justo.
Eu ia continuar falando quando ela me entregou o quadro.
— Tome então, seu pagamento. — e passou por mim com um sorriso no rosto. Segui seus passos com o olhar até ver a gata tricolor sentada do lado da porta de trás, na varanda, sem entrar em casa, como se respeitasse meu espaço e quisesse estabelecer limites.
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Amore proibiti | H.S
Fiksi Penggemar#shortfic Nicola foi aprovada para um curso de verão com uma artista renomada e terá que passar uma temporada na Itália. Harry, o melhor amigo do seu irmão mais velho, concorda em deixá-la morar com ele. Então tudo está prestes a mudar. Nicola semp...