A torre negra
Sobre o reino
Furando o céu carmesim
Em terra, a igreja
Missas em latim
E no castelo
O soberano
Em seu trono
Cor marfim.
A corte do Rei Escarlate.
Vestia-se:
Imponente cetro
Tiara reluzente
A capa rubra
Vermelho quente.
Tochas alaranjavam a majestade
Em seu semblante torturante
A coroa de espinhos
Cravada no crânio
Áurea auréola
O demônio na cabeça
Cefaleia épica.
Em seu cerne
Via-se bobo da corte
Em seu sonho
Via-se lobo da noite.
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Neste reinado de nada
Fortuna inútil
Que traz-me apenas lazer
E me tira o prazer
Cultura fútil!
Para que tanto poder!
Se não posso ter-me
Para que tanto ouro
Se não posso ser-me!
Basta!
Somente eu conheço
Os monstros em minhas masmorras
As trevas de minhas depressões
A escuridão em minhas cavidades
Somente eu sei
O quanto quero que morra
Esta insanidade!
Prendo-me neste castelo
Fortaleza de pedra
Encarcero a liberdade
Em nome da supremacia
Sacrificaria o horror noturno
Pela luz do dia.
Ah, como eu queria ser eu
Correr nas ruas como plebeu
Jogar o ouro no lixo
Rasgar as vestes
Tornar-me bicho.
E ao lado de meu trono
Berço de excremento
A rainha escatológica
De coração de gelo
Me mostra os dentes
Brutalidade nórdica.
Primeiro vieram votos de amor
Depois os anos de terror
Ao lado desta sádica
Somente o escorrer
De amargura hemorrágica.
Sobre os súditos
Beija minha mão
Em decúbito
Diz que não
E de súbito
Trata-me como um cão.
E nas íris da imperatriz
Impera a atriz
Em disfarçada crueldade
Instinto assassino
Maldita meretriz!
Na cozinha
O piso xadrez
A rainha avança
Pronta para o abate
O sangue tinto em minha garganta
Xeque-mate!
Brumas sobre o rei
Turvação
Devora o nobre
Homem que, de tão rico
Tornou-se pobre.
Seria alvo dos menestréis
O rei que morreu cedo.
"Vão-se os anéis
Ficam os dedos..."

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Poesias para deprimir...
PoetryDepressão, pessimismo, melancolia, tristeza... Sentimentos comuns a todos os seres humanos. Mergulhe no lado obscuro da poesia, encolha-se num cantinho escuro e aprecie a obra, ou deprecie...