Capítulo 4

16 1 0
                                    

Acordei com o corpo quente e o ronco suave de Markus no meu ouvido, estávamos completamente emaranhados com o cobertor e nossos membros, pisquei tentando entender o que estava acontecendo e percebi que do lado de fora já estava escuro.
Com calma me desvencilhei e fui para o banheiro, lavei meu rosto e voltei pro quarto alcançando meu celular na mesa de cabeceira.
Assustei.
Era quase de madrugada, olhei ao redor tentando entender o que tinha acontecido e sai do quarto, desci as escadas e encontrei todos na sala assistindo Lua Nova com baldes de pipoca passando.
- Olha só - Lindsay me saldou sem desviar os olhos da tv enquanto sorria - aí está nossa Bela Adormecida.
- O que aconteceu? - cocei minha cabeça finalizando o caminho pro sofá - eu apaguei!
- Sim - ela riu e os outros também - se fossem ursos, eu diria que era o início de uma hibernação.
- Eu não sei o que aconteceu... - ainda estava confusa.
- É normal - Tâmara estava apoiada na lateral de Rogue que tinha um braço sobre seus ombros - parceiros recém conectados que não finalizam o vínculo podem ficar extremamente cansados, vocês precisavam dormir e deixamos.
Meu estômago roncou alto enquanto eu bocejava.
- Seu prato está na geladeira - Rogue falou sorrindo - basta esquentar e comer.
- Obrigada - gratidão me invadiu e eu caminhei para a cozinha.
A comida estava divina, estava na metade do meu enorme prato quando Markus entrou no ambiente parecendo tão bagunçado e cansado quanto eu.
- Boa noite - ele falou preguiçosamente e depositou um beijo no topo da minha cabeça antes de pegar seu prato e se sentar ao meu lado - dormiu bem?
- Melhor do que eu imaginava - sorri balançando e o empurrando com a lateral do meu corpo de brincadeira - não vai esquentar?
- Nah - ele deu de ombros.
Comemos em silêncio por alguns instantes, quando finalizamos ele levou nossos pratos para a lava louça, Brian entrou na cozinha e acenou antes de falar:
- Precisamos conversar.
- Me atualize - Markus pediu voltando a se sentar ao meu lado.
- Amanhã o Conselho estará aqui, encontraram outras partes daquele torço que estava sem descrição - ele pausou - é uma menina de 15 anos que estava desaparecida.
- O Conselho está ciente? - Markus perguntou
- Sim, eu os avisei de manhã quando a informação chegou a mim - ele coçou a garganta - está tudo pronto para a iniciação da Rebeca.
- Ótimo - ele se esticou - o Conselho só deverá chegar de tarde, podemos iniciá-la quando a lua estiver alta no céu, tudo bem por você?
- Claro - eu sorri.
- Ótimo - Brian ainda parecia animado como criança - mais uma coisa.
- Sim? - Markus perguntou já indo em direção a sala.
- Alguns de nós queriam dormir na floresta, em nossa forma lobo, após a iniciação - ele quase atropelava as palavras.
- Claro - Markus deu de ombros - só cuidado, não queremos ser vistos e notados.
- Sim, senhor - ele sorriu correndo porta afora.
Markus se sentou em uma poltrona larga que eu tinha ao lado do sofá e como num movimento involuntário, me sentei sob seu colo, me emaranhando nele.
Suas sobrancelhas levantaram e minhas bochechas coraram.
- Relaxa - Racan falou sem tirar os olhos do monitor - quanto mais tempo juntos, mais confortável vão ficar.
Pensei em sair mas as mãos de Markus me impediram, ele passou seus braços por mim e nos acomodou melhor, ficamos todos assistindo aquele filme até perto da meia noite, o horário da iniciação.
O clima na sala mudou quando Markus arrumou sua coluna e me guiou para fora de seu colo, ele se pôs em frente a mim e olhando nos meus olhos começou a falar enquanto os outros também se levantavam:
- Rebeca, sua iniciação a minha matilha irá começar e ninguém terá permissão para te machucar, você será guiado pelos lobos até mim e então eu vou ordenar sua submissão. Faça o que seu coração mandar, deixe seu lobo te guiar e que a lua veja a conexão de todos nós se formar, um vínculo forte, precioso, não uma família de sangue, mas de alma, sua única função nessa alcateia será proteger e amar seus iguais, você entende?
- Eu entendo.
- Ser da alcateia significa que você será protegida, amada e aceita e que todos nós daremos a vida para guardar, mas também significa que você será fiel a nós, nos amara e nos aceitará, nos protegerá com sua vida se for necessário, você entende?
- Eu entendo.
- As regras do Grande Alfa irá te limitar e as minhas regras irão te guiar, a partir de hoje você estará proibida de revelar seu lobo aos humanos e proibida de expor o mundo sobrenatural, você deve caçar animais para comer e não sangue humano e acima de tudo, você não irá se rebelar, o que os alfas oficiais falam é lei, você entende?
- Eu entendo.
- Então você está pronta - seus olhos vermelhos eram intensos me analisando - corra e iremos te encontrar.
Corri para os fundos da casa arrancando a minha camisa no processo, adrenalina líquida corria por mim, eu podia ouvir as batidas do meu coração saltar. Eu não sabia o que estava fazendo, mas meu lobo me guiava, retirei as últimas peças de roupa no limite da residência e saltei me transformando em loba numa corrida para a mata.
A luz da lua me iluminava, cada batida das minhas patas no chão eu me conectava mais com tudo ao meu redor, meus instintos estavam aguçados, selvagens, prontos, podia ouvir as patas de outros lobos ao meu redor, aos poucos eles se tornaram muitos próximos a mim, corríamos juntos de maneira rítmica.
O vento nos meus pelos, o cheiro da floresta no meu focinho e aquela sensação de pertencer me dominavam.
Corremos em formas juntos por algum tempo até a atmosfera da floresta mudar, alguns animais se calaram, as árvores pareciam inclinar em sua presença, a realeza da cadeia alimentar, tudo ao nosso redor sabia que o maior predador estava lá.
Como Markus disse seus lobos me guiaram até ele em um espaço arborizado, ele estava no topo de uma pedra grande, imponente e majestoso, seu rosnado cortou o ar e me obrigou e me afastar, ele desceu lentamente em minha direção, seu rosnado se tornando cada vez mais forte, mais alto, meu focinho desceu para a terra e mostrei meu pescoço em sinal de submissão, todos ao meu redor estavam abaixados, observando com cautela.
Ele estava sob mim, a baba descia de seus caninos e eu só podia choramingar em resposta.
Até ele me morder.
Quando os dentes de Markus se afundaram no meu pelo e encontraram minha pele cores saltaram na minha vista, fogos explodiram em mim, vozes de todos ao nosso redor estavam na minha mente, falando um por cima do outro, celebrando, ele me soltou tempo o suficiente para que eu agitasse meus sentidos a vida.
Seu uivo alto para a lua foi tão visceral, em uma harmonia poderosa todos ao meu redor uivaram e eu podia sentir, meus pelos se eriçaram e eu uivei com eles, a nossa alegria, a nossa tristeza, a nossa preocupação e nossa dor, tudo ali misturado, eu os sentia em mim, era sabor de vida, de casa.
Quando os olhos vermelhos de Markus me atingiram novamente, eu estava a ponto de chorar.

Bem vinda, Rebeca! - Todos em coro me saudaram.

Conectada ao AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora