Me perdoe padre, mas eu pequei...

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Me perdoe padre, mas eu pequei...

A noite fria lhe batia contra o rosto, os sons da noite se misturavam aos seus saltos golpeando o asfalto negro, encarava a lua vez ou outra preocupada, mas deslizava pelas ruas em um rumo fixo. Aquele azul que permeia as ruas escuras, vindo da lua cheia, deixava o bairro enevoado, como se estivesse sobre um encanto, algo místico banhava a cidade, e aquela luz fazia seu coração palpitar mais forte, como se a partir daquele momento suas batidas do coração tentassem sincronizar um relógio para lhe lembrar de que seu tempo estava se esvaindo. 

Bateu o punho violentamente contra a porta, após a campainha não fazer efeito algum, ela esmurrava a porta, ouviu passos, sabia que havia movimentação na sala, mas só não sabia porque não era atendida.

– Eu já sei que não são horas. – Levanta a mão quando a porta é aberta e uma enorme interrogação se abre no rosto de Dorian.
– Que porra... – Exclama indignado. – Pandora?

Ela o empurra entrando em sua casa olhando em volta, era de se esperar mesmo que ele tivesse uma casa tão fina como a de Aurora, com um pé direito gigantesco e tudo coberto por mármore branco. A lareira estava acesa, provavelmente eram esses os estalos que Pandora ouvia da porta, e a sua frente um tapete de pelos, embolado, reparou então, em uma calçinha ao chão.

– Você não está sozinho? – Vira o corpo para ele surpresa.
– São quatro horas da manhã, o que você está fazendo na minha casa? – Rebate indignado com a naturalidade dela. – Toda molhada!
– Eu preciso conversar com você. – Da os ombros voltando a analisar o ambiente inspirando o cheiro de sexo e dexando escapar um sorriso no canto do labio.
– E você não podia esperar mais três horas? – Altera seu tom de voz.
– Não é a Aurora que está aqui, é? – Questiona se apoiando em uma parede para tirar os saltos. – Achei que vocês não estavam se falando.
– Pandora! – Exclamou irritado exigindo uma explicação.
– Tá bom. – Resmunga vencida. – Eu tenho pensado, te observado na verdade, já faz algum tempo... o jeito como você se comporta... tem algumas coisas que prenderam minha atenção. – Ele ergue as sobrancelhas para que ela continue com aquelas frases completamente vagas. – O que você está sentindo em relação a Aurora? E não tenta me esconder nada, eu posso te obrigar a me contar. – Tira dos pés os saltos encharcados.
– Você está de brincadeira né. – Murmura cobrindo o rosto com as mãos e esfregando as palmas nos olhos.
– Você vai querer do jeito fácil ou do difícil? – Levanta as sobrancelhas.

Deixando as mãos caírem, ele a encara por certo tempo, a desafiando, mas começa a contabilizar os fatos em sua mente, de como aqueles cortes tinham se aberto no corpo de Aura e sumiram como mágica pelas mãos de Pandora pelo que tinha entendido, e a sensação de ser manipulado a beijar a garota inconsciente, aquela sensação de ser compelido, ele nunca esqueceria.

– O que você quer saber exatamente? – Cruza os braços, deixando claro não estar aberto a aquilo.
– Vamos começar com seus sentimentos por ela. – Sorri ironicamente. – Me dê uma toalha?
– Por aqui. – Indica com a cabeça.

Encaminha Pandora a um quarto de hóspedes, a deixando na suíte do quarto indo em busca de alguma roupa seca de sua mãe para dar a garota. Retorna ao vasto quarto monocromático em que a tinha deixado, encontrando a garota no meio do quarto usando apenas uma lingerie que não só era transparente, como estava molhada. Prende a respiração e lhe entrega o vestido que tinha pego no quarto da sua mãe.

– Sentimentos. – Ela o incentiva colocando o vestido sobre a lingerie molhada. 
– Pandora, gosto dela, transamos, foi isso. – Cruza novamente os braços.
– E aquele escândalo que você fez quando ela acordou? – Ela ri o irritando. – Você diria que gosta quanto? – Franzi a testa. – De zero a dez?
– Eu achei que a gente estava tendo alguma coisa, mas aparentemente ela tem alguma coisa com muitas pessoas. – Vira os olhos. – Você acha que eu deveria ter ficado quieto? Com quantas pessoas ela não está fazendo isso? 
– Realmente eu tenho que concordar que o padre foi um pouco demais. – Pan ri sentada na beira da cama. – Mas ela é uma mulher livre Dorian, você achou que estava tendo algo? O que exatamente, estava apaixonado?
– Qual a finalidade disso tudo?
– A finalidade é você me responder, agora! – Impõe firme. – De zero a dez, Dorian, não é tão difícil.
– Oito. – Quase engasga com sua resposta sentindo o mesmo que sentiu ao beijar Aura, como se tivessem enfiado a mão em sua garganta e puxando as palavras para fora. – Dez...
– Nossa. – Ela sussurra para si mesma.
– Pelo menos me fala o porquê dessas perguntas. – Implora se sentindo humilhado por ter dito aquilo.
– Me ajude a tirar os grampos do cabelo. – Ela vira as pernas para dentro da cama levantando os braços em direção ao cabelo preso em um coque, Dorian respira fundo e se aproxima passando as pontas dos dedos nos cabelos molhados atrás de grampos. – Sabe o feitiço do guardião que falei para vocês?
– Sim, o que colocou a Aurora na situação dos cortes. – Afirma puxando um grampo para fora do cabelo.
– Você está envolvido nele, creio que você não está em um estado normal, para gostar dela como gosta. Existe um termo que usamos, cupido cego, você está obcecado por ela.
– Eu não estou obcecado por ela. – Protesta de imediato a interrompendo.
– Dorian todas as vezes que eu te vi perto dela, você parece um cão, você fica atrás dela, olhando para ela como um idólatra, e toda vez que algum homem se aproxima dela você fica em alerta, como um bicho e se tocam nela você surta, gritou e ameaçou o Evan, ele é o pai dela, e em momento algum passou pela sua cabeça, que você tem interferido nas decisões dela? Ficar com o Miguel foi decisão dela. – Abre um sorriso largo no rosto e se levanta.
– E você acha normal um cara de quase quarenta anos se envolver com a namorada de vinte anos do irmão mais novo? – Esbraveja ficando vermelho. – Você acha que eu não deveria ter quebrado o Ramon na porrada quando ele tentou matar ela? – Pandora se vira para ficar de frente a ele mantendo seu sorriso.
– Viu, um cão. –  Ela ri vendo as veias da testa de Dorian saltando. – Você não dorme, porque ela invade sua mente e dança a noite inteira dentro de você, você quer ver ela o tempo todo, quer ser o único que a toca, o único que a entende, quer devorar ela e a mente dela . – Arqueia as sobrancelhas. – Você está obcecado, e ela por você. 
– Acho que sim. – Sussurra refletindo, relaxando seu corpo do ódio que estava previamente. – Mas o que o feitiço tem com isso Pandora?
– É o feitiço do guardião que está fazendo isso com você, te deixando louco.
– Como eu estou envolvido nisso? Eu nem sabia dessa história de feitiços. – Da de ombros, Pandora se vira novamente de costas e ele volta a tirar os grampos de seu cabelo, com a cabeça da garota na altura do seu queixo.
– A esse ponto achei que você já saberia. – Ela ri indignada. – Você é um dos guardiões Dorian.

Coração LascivoOnde histórias criam vida. Descubra agora