Coração Lascivo

Tempos de insanidade

Tempos de insanidade

Tristan não conseguia responder nenhuma pergunta, de ninguém, e a única pessoa que não lhe fez nenhuma pergunta foi Aurora, não que ela não quisesse saber, mas pelo olhar no rosto dela, Tristan entendeu que ela já sabia, eles já tinham visto Ramon em brigas antes, mas sempre havia alguém para separar. Bufou a julgando inúmeras vezes, seu ódio por ela fervilhava, burra, Tristan a achava burra. E não só burra, imprudente também, pois toda aquela aquela situação, e situação em sua mente era um termo bem abrangente, era culpa de Aurora, culpa de alguma de suas estúpidas decisões baseadas em absolutamente nada além de narcisismo. Ele sabia naquela festa, como sua birra contra Amanda a tinha feito com que ela e Ramon brigassem, como ela tinha subido naquela mesa para dançar, unicamente com o objetivo de provocá-lo. Sentia como se fosse o único que enxergava como Aurora parecia acreditar que o sol, os planetas e o universo orbitam ao seu redor.

Mas ainda era chocante demais saber do que Ramon era capaz, ele teria matado o próprio irmão se tivesse chegado minutos mais tarde, ele tinha genuinamente tentado matar Aurora. Fazer aquilo com Miguel... era um passo que ele nunca imaginou que Ramon daria, mas estava claro que as capacidades do homem que todos chamavam de amigo e colocavam dentro de suas casas, iam muito além do que acreditavam. Tristan refletia profundamente sobre o que tinha dito, visto e escutado, enquanto observava Ametista ensinar Aurora a fazer um unguento simples para ferimentos como aqueles que Miguel tinha. Se arrependia de algumas coisas que tinha dito a Ramon, não por ele em si, mas porque dizê-las em voz alta o fez perceber coisas, que não fazia ideia que pensava, coisas sobre Aurora, que ele preferia continuar no escuro sobre. Em geral, ele odiava qualquer coisa que se relacionasse a ela, mas principalmente, seus próprios pensamentos.

– Você está bem? Ele te machucou? – Aurora perguntou a Tristan trazendo da cozinha gelo enrolado em um pano o tirando de seus pensamentos.
– Eu estou bem. – Afirmou sem encará-la.
– Posso? – Ela levantou o gelo, e ele balançou a cabeça dizendo que não. – Está ficando muito roxo. – Justificou insistindo. Ele negou novamente, mas ela se aproximou encostando gentilmente o gelo no olho roxo dele,  não reclamou, apenas ficou em silêncio deixando ela passar o gelo por todo seu olho.
– Ai. – Reclamou quando ela passou um algodão molhado em álcool em seu lábio.
– Obrigado Tristan. – Disse finalmente afastando o algodão da boca dele.
– Pelo que? – Perguntou ofendido, não tinha feito nada para ela.
– Você sabe.
– E eu ia fazer o que? Deixar o Ramon matar ele? – Fechou a cara. – Não fiz nada por você, e você não deveria ter tido um caso com o irmão dele.
– Mas você continua aqui. – Ela insiste.
– Minha irmã está aqui. – Rebate friamente.
– A gente precisa conversar depois Tristan, muito sério. – Ela sussurra colocando gelo na mão dele ao ver Dorian se aproximar.
– A gente colocou ele na cama. – Dorian declara seguido por sua sombra idêntica observando friamente a proximidade de Aurora e Tristan.
– Ele vai ficar bem logo Aurora, já usei isso muitas vezes, esse unguento é perfeito, duas ou três horas e ele estará novo em folha, nem vai perder a missa de domingo. – Edgar diz rindo, Ametista acerta o punho discretamente em seu estômago o repreendendo pela piada.
– Ele vai ficar bem. – Ametista afirma. – Não há motivo para não voltarmos a dormir, está todo mundo cansado e principalmente você deve descansar Aurora, nós teremos um dia cheio amanhã.

Ametista obrigou todos a irem deitar, mesmo com as súplicas de Aurora, era essencial que todos estivessem descansados, mas Aurora não gostou do que percebeu, na ausência de Pandora, era Ametista que regia a todos e ela odiava obedecer, mas por algum motivo, colabora mesmo que vermelha de ódio, ela tinha medo. Não era um sentimento que estivesse habituada a sentir, ou pelo menos não daquela forma, olhava de forma diferente para Dorian e Tristan, quase com culpa, mas mais perturbação, já tinha visto do que Dorian era capaz, mas e Tristan? Do que ele seria capaz. Aurora apenas decidiu respirar fundo pedindo um remédio para dormir a Ametista, ela só precisava desligar naquele momento e Dorian entendeu a levando de volta ao quarto em silêncio. Dessa vez Tristan tinha recebido um quarto, e ficou agradecido ao poder de deitar em uma banheira quente fumando.