34 [O passado ainda importa.]

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O caminho até Alexandria foi um tanto quanto constrangedor. Minho não parava de interrogar Carl sobre coisas nada haver, e eu já estava me arrependendo de não ter o amarrado em seu cavalo e pedido para Ryan o levar embora. Mas Carl por outro lado parecia se divertir respondendo as perguntas do garoto.

— Então vocês se conhecem a bastante tempo. — Minho disse encarando Carl rapidamente. — Como a Maddie era quando criança?

— Era incrível, não muito diferente do que ela é hoje. — o garoto respondeu me olhando pelo retrovisor do carro, lançando um meio sorriso. — Ela sempre foi ótima com arco e flecha, e muito corajosa.

— Então ela sempre foi assim? — Minho sorriu minimamente. — Não me surpreende que você tenha se apaixonado por ela.

— Será que a gente pode ficar em silêncio? — pedi já sentindo minhas bochechas arderem de vergonha. 

Minho e Carl acabaram rindo, porém eu permaneci séria. O restante do caminho foi até que tranquilo, mas senti um frio na barriga assim que coloquei meus pés em Alexandria. Desde aquele dia em que recorri ao Rick, nunca mais havia visitado a comunidade. Já havia se passado mais de um ano desde aquele dia, e até então, nunca mais tive notícias de Negan.
Eu sentia falta dele, óbvio, mas estava chateada. Ele me abandonou, como todo mundo. Ele prometeu que nunca me deixaria sozinha, e deixou. Isso é uma droga, mas parece que é assim que funciona para mim. Sempre sou deixada para trás. As pessoas que eu amo sempre se vão, de um jeito ou de outro.

— Tudo bem, Maddie? — Carl questionou chamando minha atenção. Olhei para o garoto que parecia preocupado, só então percebi que meus olhos estavam marejados.

— Estou ótima. — respondi passando por ele.

Segui direto para a casa de Rick, afim de evitar encontros indesejados. Assim que entrei, senti o olhar de Michonne e do Grimes mais velho sobre mim. Judith estava com a atenção fixa em seu prato de comida, mas assim que me aproximei a garotinha me encarou com um sorriso, que eu logo retribui.

— Ela se parece tanto com a Lori. — disse ainda sorrindo. — Sinto falta dela.

— É, todos nós. — Carl disse parando ao meu lado.

— Ah, Rick, este é o Minho. Ele é meu amigo, um dos queridinhos do Ezequiel. — disse apresentando o garoto.

— É um prazer conhecê-lo. — Rick disse apertando a mão do garoto. — Não sabia que teríamos visitas, mas sejam bem vindos. Espero que goste de Alexandria, Minho.

— Te mostro tudo amanhã. — Carl disse para Minho, que assentiu.

— Estão com fome? — Michonne questionou. — Acabamos de jantar, mas fiquem a vontade.

Deixamos nossas coisas em um dos quartos e voltamos para a cozinha. Após o jantar, Minho subiu para o quarto com a desculpa de estar muito cansado, mas eu já sabia que ele queria dar privacidade para Carl e eu conversarmos. E não demorou muito para ele começar aquela conversa ridícula, o mesmo papo que eu ouvi a pouco tempo atrás.

— Sinto sua falta, de uma forma não muito saudável. — disse me fazendo rir. — Maddie, é sério.

— Já assisti esse filme antes, Carl. O final foi uma merda. — me levantei pronta para sair, porém fui barrada. — Sério, eu não quero passar por essa merda de novo.

— Madison, eu sei que pisei na bola com você...

— Não, Carl. — cortei o garoto. — Você me magoou para caralho, nem faz ideia do inferno que me fez passar. Eu confiei em você, traí meu pai por sua causa, e olha só o que eu recebi em troca. Eu perdi o meu pai, e eu perdi você. Quer dizer, você nunca foi meu para início de conversa. Só estava jogando comigo e eu deixei que você fizesse isso, mas não dessa vez.

— Eu sei que te machuquei, sei o quanto eu fui horrível com você, mesmo depois de você ter enfrentado o fogo para me salvar na fazenda. Nunca vou me perdoar por isso, mas eu realmente sinto sua falta. Sinto falta do que nós éramos antes, no acampamento e depois na fazenda. Eu sinto muito que você tenha ficado para trás, e sinto muito que tudo tenha acontecido como aconteceu. Mas não me peça para passar o resto da minha vida longe de você, Maddie. — Carl soltou de uma vez, suspirando com o meu silêncio. — Eu sei que não confia em mim, só quero uma chance para recuperar sua confiança novamente. Não quero forçar nada.

— Eu não sei. — respondi. — Não sei se eu consigo te deixar entrar de novo.

— Eu entendo. — disse parecendo chateado. — Quando estiver pronta então, pode ser?

— Não posso prometer. — respondo passando pelo garoto.

🏹

Na manhã seguinte, acordei bem cedo. Acabei esbarrando com Rick, e ele me pediu para ajudá-lo em uma busca. Estava doida para voltar para casa mas aceitei acompanhá-lo. Mike apareceu logo em seguida, se oferecendo para vir junto. Nem preciso dizer que foi uma viagem constrangedora. Rick hora ou outra fazia perguntas sobre minha adaptação no reino, e Mike me encarava pelo retrovisor ouvindo calado todas as minhas respostas.

— Meus amigos se adaptaram bem, acho que todos encontraram seus respectivos lugares na comunidade. — disse forçando um sorriso.

— E você, não encontrou seu lugar? — Rick questionou.

— Ainda é um pouco estranho para mim. — respondi parando alguns segundos para pensar em uma boa resposta. — Eu sinto saudades, sabe? Não de toda a violência, ou das coisas ruins que eles faziam. Sinto falta de me sentir em casa, de ter pessoas que me amam. Eu não me sinto bem vinda no Reino, justamente por ser quem sou. Filha do Negan.

— Você não é filha dele. — Mike disse parecendo zangado. — Será que pode parar de chamá-lo de pai?

— Você nunca entenderia a minha relação com o Negan, Mike. Você não foi deixado para trás como eu, não sabe o que é sentir a morte cara a cara com você. Te pressionando contra a parede, cheirando a álcool, quase te engolindo mesmo você sendo apenas uma criança. — dizia segurando as lágrimas, sentindo o olhar de Rick sobre mim pelo retrovisor. — Se Negan não tivesse me encontrado, se ele não tivesse arriscado a vida por mim, eu estaria morta agora. E só Deus sabe o que mais aquele homem poderia fazer contra mim.

— Madison... — Mike parecia chocado, e realmente aquilo era pesado. — Eu não fazia ideia...

— Negan salvou minha vida, e eu não estou dizendo que ele é um santo por isso. Mas ele me salvou e ele cuidou de mim como se eu fosse filha dele. E eu só estou aqui por causa dele, então não me julgue por amá-lo. Não me julgue por sentir falta dele. Ninguém sabe o que o Negan foi para mim.

— Maddie, eu sinto muito. — Rick disse após parar o carro. Se virou e segurou minha mão, me encarando com compreensão. — Espero que um dia me perdoe por ter te deixado, eu sinto muito mesmo.

— Eu também espero um dia conseguir te perdoar cem por cento, Rick. — respondi e sai do carro em seguida.

As vezes me sentia egoísta por amar alguém que, para o resto da minha família, era uma pessoa horrível. Mas o que eu poderia fazer? Eu não escolhi nada do que aconteceu comigo depois da fazenda, e estou cansada de ter que dar explicações. Negan é meu pai, é minha família, foi ele quem cuidou de mim depois que fiquei sozinha. Mesmo ele tendo me deixado, eu ainda sinto sua falta. Eu espero que ele volte. Talvez um dia, quem sabe. Vou estar esperando.

Thᥱ Othᥱr Sιdᥱ ᵗʰᵉ ʷᵃˡᵏᶦⁿᵍ ᵈᵉᵃᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora