36 [Só amigos.]

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Minho decidiu voltar para o Reino porém não quis se despedir de mim, apenas pediu que Mike me avisasse sobre sua partida. Eu entendia que ele estava chateado, mas aquilo me machucou. Tentei não me importar tanto, como eu sempre faço, mas era quase que impossível.
O trabalho na ponte continuava a todo vapor, com muitos dos nossos focados em terminar o quanto antes. Já o restante, trabalhava nas hortas e na segurança dos muros em Alexandria.
No final do dia, nos reuníamos a mesa para o jantar. Minha mãe, Daryl, Melissa, Mike e eu. Era tão estranho, e eu não deixava de me sentir uma estranha. Por outro lado, Melissa parecia feliz com a minha presença.

— Mamãe, posso brincar com a Mads depois do jantar? — Melissa pediu encarando nossa mãe, acabei sorrindo com a forma como me chamou.

— Se a Madison quiser, pode sim. — minha mãe respondeu me encarando.

— Mads, você pode brincar comigo depois do jantar? — a pequena pediu me encarando com as pupilas dilatadas.

— Claro. — respondi sorrindo levemente e a vi comemorar.

Quando eu era pequena, sempre sonhei em ter uma irmã. Me lembro de pedir diversas vezes para minha mãe me dar uma irmãzinha. Nunca pensei que depois de tudo eu realmente ganharia uma irmã. E Mike estava certo, Melissa é uma criança adorável. Não tem como não se encantar por ela.
Pelo que Mike me contou, Ellen e Daryl já estavam meio que "juntos" na fazenda. Quando Lori descobriu que estava grávida, minha mãe começou a suspeitar de que também estava. Só teve certeza depois de um tempo na estrada, depois que nos separamos.
Diferente de Lori, ela teve a sorte de ter um parto normal em um dia "tranquilo". Judith e Melissa tem diferença de apenas duas semanas.

— Mads, você gosta de bonecas? Eu tenho duas que o papai encontrou para mim. Mas se não gostar de bonecas, podemos desenhar. — Mel dizia quase sem fazer pausas.

Era engraçado, ela conversava tanto. Nem parecia que ela e Judith tinham a mesma idade, a irmã de Carl quase não falava. Mas ela sorria bastante, e era um sorriso tão fofo. Parecia tanto com o dele. Mas que porra, o que estou fazendo pensando em Carl?

— Pode escolher, Mel. — forcei um sorriso.

— Vou pegar os lápis! — disse correndo até uma das gavetas.

— E então, o que está achando? — Mike questionou sentando ao meu lado no sofá.

— Ela é bastante tagarela. — respondo o encarando. — Mas como você disse, não tem como não amá-la.

— Ela puxou você. Quando você tinha essa idade também era uma tagarela. — meu irmão disse soltando uma risada em seguida, logo voltando a ficar sério. — Você ainda está pensando em ir embora?

— Eu não sei. Passar esse tempo com a Mel tem sido bom, mas ainda me sinto uma intrusa. Acho que aqui não é o meu lugar.

— Você vai embora, Mads? — ouvi a voz de Mel e a encarei.

Ela soltou os lápis de cor, os pincéis e as tintas, deixando tudo cair no chão. Seus olhos esatavam marejados, apontando que iria chorar. Foi de partir o coração. Antes que eu pudesse responder, a pequena saiu correndo em direção ao seu quarto.

— Desculpa... — Mike disse se levantando. — Eu falo com ela...

— Não, eu vou. — me levanto passando por ele.

Subi as escadas e segui até o quarto de Melissa, que era o último do corredor. Bati na porta e avisei que estava entrando, abri de vagar, checando se estava tudo bem eu entrar. Me aproximei da cama, onde a pequena estava deitada com os olhinhos marejados.

— Hey, está chorando? — me sento na beirada da cama, acariciando as bochechas da pequena.

— Não quero que você vá embora, eu gosto de ter uma irmã. — respondeu manhosa.

— Eu também gosto de ter uma irmã. — sorri levemente. — As coisas são complicadas.

— Eu sei, você tem problemas com o Carl. Ouvi o Mike falar sobre isso. — suspirou me encarando com tristeza. — Não pode ignorar ele e ficar com sua irmãzinha?

Soltei uma risada leve, puxando a pequena para um abraço. Não era algo que eu poderia prometer, mas disse que tentaria me adaptar a minha nova casa por ela.

🏹

Naquela noite, sonhei com meu pai. Ele estava feliz, com uma nova família, sem mim. Talvez não seja apenas sonho, talvez ele realmente tenha encontrado um novo lar, uma nova família. Bem, meio que eu voltei para a minha antiga. Não posso culpá-lo se ele estiver seguindo em frente.
Tentei ignorar aqueles pensamentos, me levantei e tomei um banho rápido. Vesti algo confortável e desci as escadas, tendo a visão do café da manhã perfeito de uma família perfeita. Minha mãe fez panquecas, e estavam com um cheiro ótimo.
Em uma ponta da mesa ela estava sentada vestindo um belo vestido florido, na outra ponta, Daryl vestia seu colete de sempre. Ainda não entendo como os dois acabaram juntos. Em sua cadeirinha, Melissa saboreava as panquecas com o rosto já cheio de mel. Ao lado de Mike, que usava garfo e faca, e ria de algo que Daryl estava falando.
E eu, estava sobrando como sempre. Mas me aproximei mesmo assim, e senti que o clima meio que acabou com a minha presença. Porém Mel estava feliz, e era tudo o que importava por hora.

— Querida, eu fiz as panquecas que você adora. Receita da vovó. — Ellen disse me encarando com um sorriso.

— Obrigada. — forcei um sorriso, colocando um pedaço em minha boca apenas para não ter que falar mais nada.

— Você quer ir a escola hoje? — Mike questionou e eu apenas dei de ombros. — Eu sei que você não precisa de aulas de matemática, mas as vezes é bom sair um pouco, ver rostos diferentes.

— Se a Mads não for para a escola eu quero brincar com ela no lago! — Mel disse imediatamente.

— Prefiro essa programação. — encarei minha irmã com um sorriso, e a vi bater palminhas de felicidade.

Assim que terminamos de comer, Daryl e Mike saíram juntos. Ellen foi dar banho em Melissa e eu fiz a minha parte para a organização da casa arrumando toda a bagunça da cozinha.
Depois de limpa, Mel veio me cobrar o passeio, então a levei para desenhar na beira do lago. Por sorte — ou azar, ainda não sei — Carl também estava lá com sua irmã.

— Parece estar se dando bem com ela... — pontuou enquanto as duas estavam entretidas em seus desenhos abstratos.

— É só por ela que eu ainda estou aqui. — respondi.

— Então vai ignorar os seus sentimentos por mim assim na cara dura? — perguntou em tom de sarcasmo.

— Você sabe que não daria certo. — finalmente o encaro, me arrependendo de imediato.

— Madison, você não precisa ter medo. Eu sei que fiz as coisas erradas da última vez, mas dessa vez estamos do mesmo lado. Você sabe que pode dar certo. — insistiu.

Suspirei, cansada. Realmente estávamos do mesmo lado agora, e aquele sentimento era impossível de ignorar. Eu iria vê-lo todos os dias querendo ou não, talvez fosse a hora de levantar a bandeira branca e dar um voto de confiança.

— Podemos fazer isso com calma? Sem pressão? Começamos como amigos de novo, até você recuperar minha confiança será somente isso. — proponho.

— Tudo bem. Só amigos então.

— Só amigos.

Thᥱ Othᥱr Sιdᥱ ᵗʰᵉ ʷᵃˡᵏᶦⁿᵍ ᵈᵉᵃᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora