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Acordo abruptamente quando sinto uma mão ao redor de meu braço.

Memórias voltam.

Memórias que eram pra estar guardadas no fundo da minha alma.

Meu corpo arrepia, minha boca seca.

Quando olho pra cima relaxo, Eva está parada em pé na minha frente me esperando para sairmos do avião.

Levanto e olho ao redor, somos as únicas lá.

- Com fome querida ? - Eva pergunta.

Quando vou responder que não meu estômago protesta.

- Sim, muita, meu estômago está fazendo uma rebelião contra meu cérebro, que constantemente recusa comida.

Sua risada me contagia e sorrio também.

***

Eva está dirigindo ao som de uma cantora bem ruinzinha que não tenho ideia de quem seja.

Meu corpo está dolorido e exausto, mas não paro de sorrir.

Tudo é novo, as pessoas, as coisas, as casas, e os lugares.

Me sinto leve.

Não sei para onte estamos indo, e não me importo.

Bom, talvez um pouco, vai que ela me sequestra e vende meus órgãos no mercado negro.

Improvável? Sim, mas não duvido de nada.

Em uma fração de segundo meu corpo se projeta pra frente com a parada abrupta do carro.

- Mas que merda foi essa Eva ? - sopro meus cabelos que caíram em meu rosto.

- Olha o palavrão garotinha - disse saindo do carro - Que foi ? Vamos precisamos fazer compras.

A fuzilo com o olhar, mas pelo visto foi em vão, pois ela já está andando.

Saio do carro e me apresso para ficar ao seu lado.

- Aquilo foi você estacionando um carro Eva? - gesticulo com as mãos apontando pro carro em cima da guia - Primeiro, você não dirige mais, vai que eu sofro algum acidente, eu sou nova demais pra morrer, segundo, minhas costelas tão doendo, e terceiro, não tenho ideia de onde estamos indo.

Ela não me responde, só ri.

- Que rude Eva, pensei que era mais responsável, PRINCIPALMENTE COM UMA VIDA EM SUAS MÃOS.

Mais gargalhadas.

- Não sabia que era engraçada assim Lilith.

- Ótimo.

Paramos de andar e entramos em uma loja.

- Preparada querida ? - diz arqueando uma sombrancelha pra mim.

- Bom, na verdade não, mas adiantaria eu falar?

- Não.

- Entendi, então vamos né - digo em lamenta.

- É isso mesmo garota - um sorriso radiante sai de sua boca.

***

- JÁ SE PASSARAM 3 HORAS EVA !!! Minha barriga tá pedindo por socorro - falo enquanto ela me entrega mais uma pilha de sacolas com roupas em minha mão.

- Você comeu faz 5 minutos Lilith - para e olha pra mim como sinal de repreensão.

- Minhas pernas tão protestando contra sua atitude consumista que agride o meio ambiente, então são três contra um !

- Três ? - diz sorrindo.

- Sim, três - digo - eu, minha barriga e minhas pernas.

- Ok querida, vamos pra casa.

Fico sem reação, nunca tive uma casa, na verdade eu tive, mas eu não tive um lar, um lar de verdade.

Volto a realidade e a acompanho.

A ajudo a colocar as 20 sacolas de roupas no porta-malas e entramos no carro.

- Nãooooo, dessa vez eu coloco a música, você não tem gosto.

- Tudo bem Lilith, mas só pra te avisar - a interrompo colocando um funkão, e não escuto o resto da frase que ela falou.

- BALANÇAAAAAA NÃO CANSAAAAA EU QUERO VER VOCÊ DANÇAR IGUAL TU TR***.

Assim que Eva para de dirigir eu novamente quase sou arremessada da janela do carro.

Desligo o som pois está muito alto.

- Que isso Eva, ce não tá manobrando carro de boi não.

- Carro de boi Lilith? Que expressão é essa? E por falar nisso, qual é o significado daquela música? Eu falo português, mas só o básico, quer saber? Melhor eu nem descobrir mesmo.

- Fala sobre o amor mútuo de duas pessoas - contenho um sorriso em meu rosto.

- Claro, agora levanta e me ajuda a pegar as roupas no porta-malas do carro.

***

Assim que estou acomodada em meu novo quarto que é muito maravilhoso de caro, resolvo tomar um banho pra relaxar.

Eva me mostrou onde fica tudo, me sinto em casa, pela primeira vez.

Uma lágrima sai involuntariamente de meus olhos.

Passo a mão em meu rosto secando a lágrima e vou ao banheiro.

Tiro a roupa de hospital e entro no chuveiro quente.

As gotas quentes caem por meu corpo e me fazem relaxar como nunca havia relaxado.

Passo uns dez minutos curtindo minha paz.

Desligo o chuveiro e me seco com a toalha.

Saio do banheiro e envolvo a toalha em meu corpo.

Assim que saio do banheiro vou direto ao guarda-roupa.

Pego um top e um short de lycra.

Jogo minha toalha na cama e me visto.

Deixo meu cabelo amarrado em um coque, estou exausta para o autocuidado

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Deixo meu cabelo amarrado em um coque, estou exausta para o autocuidado.

Estou morrendo de fome e o cheiro da cozinha está me seduzindo de uma forma incomum.

Caminho até o lado direito da cama e coloco meus chinelos nos meus pés.

Um vento gelado vindo da janela arrepia meu corpo.

Caminho para fechá-la.

Quando me apoio na janela noto que tinha um quarto de frente ao meu.

A brisa fria acaricia meu rosto, aproveito esse momento.

Quando saio do transe e estou prestes a fechá-la,  um garoto aparece do outro lado.

- Oi - falo simpática

Ao invés de ser retribuída com um oi por educação de volta, o estranho filha da putinha fecha a janela na minha cara.

- Marditinho safado- falo em português e saio de lá.

Desço para a cozinha e já sinto o cheiro de comida invadir meu olfato.

Estou no paraíso.

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