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A depressão tem estágios.

O primeiro é a negação, onde você não acredita que está permitindo que isso entre e te domine.

O segundo é o vazio, onde você não sente nada, não vê nada, se permite entrar em um limbo, o qual você não vive, e sim sobrevive a medida que consegue.

O terceiro é a dor, onde a cada momento algo se quebra dentro de você e te revira do avesso, fazendo com que você perca sua essência e desacredite que tem como sair dessa.

O quarto é a esperança, onde você se vê e acredita que pode mudar, que pode ser mudado, entretanto a esperança é esmagada pela dor novamente, te prendendo no mesmo ciclo vicioso.

E dói, muito.

Até que um dia você olha pra sua estante ou a pia do seu banheiro e foca a sua atenção na lâmina tentadora e brilhante que te chama, e te faz milhões de promessas, e então quando percebe, o sangue escorre por seus braços ou pernas, causando uma anestesia momentânea na dor intensa da alma.

E você sorri, pela primeira vez em tempos você sorri porque não sente mais aquela dor esmagadora, e então aos poucos seus olhos se fecham e você consegue dormir sem ser acordada por terríveis pesadelos onde você se sente esmagada, afogada, e violada.

Entretanto, quando tudo passa você se sente estúpida o bastante por acreditar no conto da lâmina tentadora que te enganara, pois a dor volta, e muito mais  intensa do que antes, mas agora com a presença das eternas cicatrizes marcadas em sua pele te lembrando pelo resto da sua vida o quão fudida você já foi.

Volto ao cenário atual quando encaro uma hannah chorona em posição fetal em minha cama.

Seu corpo está molhado e seu rosto vermelho como nunca pelo choro incessante de um coração quebrado.

Toco em seu rosto gélido e a faço o erguer em minha direção, seus olhos lacrimejados me encaram com medo do que pode ser encontrado em minha alma, seu choro cessa enquanto tem a sua atenção presa em meu rosto inexpressivo.

- Não vale a pena amor - minhas palavras a acertam em cheio - Você vai ficar aí enfiada em minha cama enquanto a dor te domina ? Seja uma vadia e revide, quando você receber um tapa, acerte um soco de volta, para de deixar eles te derrubarem assim.

- Você não entenderia - ela consegue pronunciar em um sussurro em meio a soluços.

- Ah - estalo a língua em som de desaprovação - Se eu te contasse quantas vezes já apanhei da vida e me deixei jogada no chão pra chuva levar você não acreditaria.

Ela consegue erguer seu corpo e levantar da cama ficando de frente a mim.

- Boa garota - digo - agora vai tomar um banho, você fede a cachorro molhado.

Escuto uma risada esganiçada e arqueio o canto de minha boca em um sorriso.

Olho para minha cama encharcada de lágrimas e água da chuva.

- Deveria ter te deixado na chuva pra ser atropelada por algum carro garota - passo a mão em meu rosto em um falso arrependimento.

- Vai se fuder - ela diz em um tom abafado.

- Vai soar esse nariz sua catarrenta, não tomou nem um banho e tá aí xingando os outros.

Levanto e vou até o armário pegando uma toalha limpa e jogando em seu rosto.

A vejo sumir de minha visão quando a porta do banheiro se fecha.

Minutos se passam quando escuto a maçaneta girar e ela surgir da fumaça que o calor do banho formou.

Aponto para uma de minhas camisas enormes no outro extremo de minha cama, e a vejo caminhar com receio até ela.

- Tem pó de mico não minha filha, eu não seria burra de gastar dinheiro com isso justamente com uma fodida igual a você - sorrio de forma meiga.

Uma gargalhada soa de seus lábios e é a melhor coisa a ser escutada, sinto vontade de ter todos os seus sorrisos pra mim.

- Primeiro, o que caralhos é pó de mico ? E segundo, não é nada disso sua vadia.

- É um pó que faz você ficar se coçando pra caralho - explico.

Em segundos minha expressão congela, a toalha que contornava seu corpo está no chão, e tenho uma visão contemplada do monumento que é Hannah. Não tem como odiar essa vadia.

- O gato comeu a sua língua? - uma risada sapeca escapa de seus lábios e sorrio.

- E eu vou comer a sua se não continuar bem quietinha - faço questão de varrer todos as curvas de seu corpo com meus olhos - Não esperava que você fosse se trocar aqui - explico.

- Nós não somos amigas? - pergunta como se fosse a pessoa mais inocente do mundo.

- Amigas não transam - respondemos em uníssono, a encaro e reviro os olhos - Vadia gostosa do caralho.

Rimos juntas e abro um espaço para que ela deite em meu lado, que não pensa duas vezes a respeito para pular em mim.

- Quieta o rabo piranha - digo em português.

- O que você falou?

- Que você é apaixonada por Henrique - digo em tom sarcástico.

Sinto arder em meu braço assim que a mão de hannah se choca contra meu braço.

- Ai garota - reclamo passando a mão no local.

- E você é apaixonada por Connor - semicerro os olhos em sua direção e ela simplesmente dá de ombros.

- Cala a boca e presta atenção no filme que eu coloquei - a chego mais perto de mim e a envolvo em meus braços.

Poucos minutos se passam e escuto sua respiração pesada ao meu lado, sorrio e bocejo.

Aos poucos meus olhos vão ficando mais pesados e fica difícil mantê-los abertos, então adormeço sentindo o cheiro doce de Hannah e o barulho da televisão.









Comentem e votem por favor galera, senão eu fico desmotivada de escrever🥺

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⏰ Última atualização: Jun 20 ⏰

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