No terraço

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Não tem como o dia ficar pior.

É bem verdade que teria como, sim. Podia estar chovendo, ela podia estar gripada, seus pais poderiam ter perdido o emprego, muitas coisas piores poderiam estar acontecendo. Porém, nada disso apaga essa sensação ruim em seu estômago que se instalou duas noites atrás e segue cutucando-a sempre que Ochako se lembra do que aconteceu na lojinha de conveniência na qual nem trabalha mais.

E isso por si só já seria motivo para deixá-la ainda mais perdida, porque a verdade é que ela nem está triste pelo emprego que perdeu, Ochako odiava trabalhar lá na maior parte do tempo, só não detestando por completo por causa... dele, e de como ansiava pelas breves e nada importantes interações com ele.

Todoroki Natsuo. O rapaz bonito e meio atrapalhado que engasgou na sua frente e teve a cabeça jogada contra uma geladeira por puro descuido dela. Ochako queria ajudá-lo, mas acabou piorando tudo, e agora ela só pode agradecer por ter perdido o emprego, pois isso significa que não corre o mínimo de risco de reencontrá-lo na lojinha de conveniência, caso ele não tenha criado um justificado pavor de pôr os pés lá de novo.

— Aqui. — a Tsu chega com duas garrafinhas de suco, colocando uma em sua mesa antes de abrir uma das garrafas e se sentar ao seu lado.

— Obrigada, Tsu-chan. Depois te pago.

— Não se preocupa com isso.

— Você sabe que eu não vou relaxar. — ela acena com a cabeça decididamente — Até o fim da semana eu te pago.

— Bom, eu sei que até lá você já vai estar se sentindo melhor e com um emprego novo, então por mim tudo bem.

— Você acha mesmo?

— Lógico! Eu e a Mina vamos te ajudar a procurar hoje, tá bom?

— Vocês são incríveis, de verdade.

— A gente só não quer te ver tristinha por causa de algo tão... — ela segura a palavra "bobo", sabendo que Ochako lhe contestaria imediatamente sobre isso ser bobo — Isso vai te ajudar a esquecer essa história.

— Eu acho que nunca vou esquecer disso.

— Pode ser, mas daqui a alguns anos você talvez ache graça. Passar vergonha na frente de um rapaz por quem você tem uma paixonite é uma coisa bem comum, até onde eu sei.

— Eu não passei só vergonha na frente dele, Tsu-chan. — Ochako murmura.

A tentativa de acalmá-la pelo que deve ser a milésima vez desde ontem é interrompida pela Mina entrando na sala como um furacão.

— Aí está você, Mina. Eu já não sei mais como tentar convencê-la de que o fim do mundo não está pra acontecer. — a Tsu diz em um tom meio cansado.

— E eu adoraria ajudar nisso, maaaas... não sei se isso é verdade. — a Mina soa um pouco desculposa.

— Por quê? O que foi?

— Ochako, lembra que você disse que o nome do moço era Todoroki Natsuo?

— Lembro, sim.

— Pois é. Aí eu disse "Todoroki? Igual ao gatinho da Turma A?" e você disse "É, assim que eu ouvi o nome, lembrei desse menino também." e eu perguntei "Nossa, já pensou se eles são parentes?" e aí a Tsu disse "Todoroki é um sobrenome bem comum, quais são as chances de esse ser o caso?". Pois então, Tsu-chan... QUAIS SÃO AS CHANCES?

Ela fica em silêncio e as olha incisivamente.

— Você... você quer mesmo que eu calcule as chances?

por enquantoOnde histórias criam vida. Descubra agora