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O que se ouve é nada mais que alguns cochichos aqui e ali. Para não atrapalhar os arqueiros, a plateia é bem comedida e não cria grandes comoções durante as movimentações dos atletas.

Ochako assiste com atenção enquanto o Todoroki ergue o arco acima da cabeça antes de ajustar a posição e atirar a flecha, é tão rápido que é quase como se ela tivesse sumido por mágica, teletransportada até o alvo a uns 20 metros de distância, bem no meio.

Ela não tinha noção de que era assim. Ochako nunca esteve num torneio de arco e flecha, e fez um pouquinho de pesquisa na noite anterior só pra entender o básico. Tudo o que estava descrito no site aconteceu aqui, a apresentação dos competidores, e seus arcos, os trajes tradicionais, mas assistir pessoalmente faz tudo parecer ainda mais fascinante. Hipnotizante até.

E assim como ler sobre o esporte não é nada parecido com assistir ao torneio de fato, observar o Todoroki assim é bem diferente de vê-lo na escola ou trocar mensagens com ele. Não é que ele pareça outra pessoa, sua expressão ainda é séria e sua postura é altiva como o de costume, mas... tem algo bem diferente. Talvez seja o traje tradicional, ou o jeito como ele está focado, mas... mal dá pra acreditar que é mesmo garoto que queria discutir em público sobre seu papel como cupido para ela e o irmão dele.

Falando nele, o Natsuo assiste a cada movimento com a mesma atenção, apenas balançando com a cabeça como se nem tivesse ouvido quando a irmã dele, Fuyumi, cochicha alguma coisa discretamente antes de também voltar a assistir ao irmão mais novo.

Por um breve momento, Ochako sentiu uma pontinha de decepção quando viu que o veículo parado na frente de sua casa algumas horas antes não era a moto do Natsuo, mas sim um carro. Ele estava sentado no banco do carona, quem estava ao volante era uma moça absurdamente linda de cabelos brancos com pontas avermelhadas e olhos cor de chumbo. A garota rapidamente a reconheceu: era a moça das fotos na notícia do site da escola sobre o Todoroki, era a irmã mais velha deles, que amistosamente se apresentou como Fuyumi e destravou a porta de trás do carro para que ela pudesse entrar.

Não, ela não ia até o local da competição na garupa da moto do Natsuo, que... que besteira ter fantasiado com isso! Ochako lutou contra a sensação de frustração, e acabou sendo uma luta surpreendentemente fácil, porque ela está feliz com a presença da Fuyumi aqui. Ela é igualmente simpática e gentil como o Natsuo, mas tem um jeito mais calmo e doce, e o jeito como foi lhe explicando de porque o irmão mais novo não tinha vindo com eles e lhe perguntou um pouco sobre a escola, sem um pingo de estranhamento com a presença dela ali, trouxe uma tranquilidade que Ochako sabe que não estaria sentindo se tivessem vindo só ela e o Natsuo. Ela está genuinamente grata.

Mas isso não muda o fato de que a garota está, sim, um pouquinho nervosa sentada ao lado do Natsuo. Ele assiste a cada rodada com avidez e mal olhou pra ela desde a hora que a competição começou, mas... ainda assim, Ochako se sente ultra consciente da proximidade dele.

- Não precisa ter medo, Uraraka-chan, ele fica assim mesmo quando o Shouto tem competição. - a Fuyumi sussurra e sorri amistosamente.

- Hum? - Ochako pisca em surpresa.

- Ele faz uma cara feia quando tá sério, né? O Shouto também é assim, mas o Natsuo fica meio assustador.

- Ah... - Ochako dá uma risadinha nervosa, sem saber o que responder. Uma porque ela não concorda e não acha que a cara dele está feia, muito pelo contrário. Duas porque... que vergonha! A Fuyumi percebeu que ela estava encarando o irmão dela!

Decidida a parar de dar bandeira, Ochako balança a cabeça e volta a focar na competição. As regras são simples, e é tudo feito numa ordem bastante específica, quase como num ritual.

por enquantoOnde histórias criam vida. Descubra agora