00| act i: via láctea.

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"A Via Láctea é uma galáxia espiral, da qual o Sistema Solar faz parte

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"A Via Láctea é uma galáxia espiral, da qual o Sistema Solar faz parte. Vista da Terra, aparece como uma faixa brilhante e difusa que circunda toda a esfera celeste, recortada por nuvens moleculares que lhe conferem um intrincado aspecto irregular e recortado."

MINSK, BELARUS, EUROPA.

— Como é voltar para casa? Devem te perguntar sobre como é estar lá em cima ou no outro planeta, mas como é conseguir voltar? — Leontine perguntou, ignorou o aviso de não falar sobre a missão espacial e seguiu seu instinto.

— Estranho. — Lana meneou sua cabeça em direção ao gramado e passou a língua sobre os lábios. — Sinto que não vivo mais a mesma vida, tudo muda. Desde a maneira com que respiro até as pessoas ao meu redor, ninguém me enxerga como humana, pareço ser apenas algo diferente e muito estranha.

— Bom, se te consolar, consigo te enxergar muito bem — murmurou a francesa.

— Me enxerga porque você precisa.

— Talvez eu só queira fazer isso, Lana.

Leontine revirou os olhos e tentou entender o que ela precisava de verdade. Lana foi a comandante de uma viagem espacial, um marco histórico, seu nome estará marcado em todas as próximas gerações, dinheiro e reconhecimento não são um problema, mas ela não parecia feliz ou esperançosa com nada disso. Pode ser uma figura histórica, entretanto, ao mesmo tempo, é apenas uma garota, talvez a mais inteligente delas, mas isso não importava muito, não naquele momento. O ser humano só pode viajar a Marte a cada dois anos, por ser um alinhamento nas órbitas do planeta Terra com o vizinho, isso não significa que seja simples.

Rusak criou um projeto que possibilitou uma viagem de exploração tripulada, antes dela, apenas robôs conseguiam chegar ao planeta vermelho. A missão foi viabilizada pela união de quatro países: Belarus, Rússia, China e Índia, parecia uma nova corrida espacial sendo erguida aos olhos da nova geração, sem as sanções econômicas diretas e um muro dividindo um país inteiro em duas partes. Cora nunca foi muito interessada em geopolítica, esse era um dever que seu pai exercia com mais vontade, ela gostava mais da parte econômica da coisa e se lembrava vagamente dos bilhões investidos nessa empreitada.

Era muito dinheiro, um número que acabaria com a fome de diversos países somados, a régua moral não parecia se aplicar muito bem nesse assunto, na verdade, ela não se aplicou em situação alguma. Cora sentia que algo incomodava a bielorrussa e estava bem embaixo de seu nariz, só precisava tocar no ponto correto e alcançaria o pote de ouro, mas estava difícil, afinal de contas, elas não se conheciam. Poderiam ser parecidas, ter vivido uma infância similar, mas não sabiam nada profundo de verdade, talvez fosse esse o problema. O mordomo serviu as duas xícaras na mesa e se retirou ao receber um sorriso grato da francesa, ela encarou a porcelana e a fumaça que sai discretamente dela.

— Odeio estar ociosa assim, não posso aceitar nada e é ridículo dizer que fiquei enciumada quando vi você entrando pela minha porta. Todos eles te olhavam com respeito, te obedecem sem questionar e mesmo que detestem receber ordens, ainda as cumprem, é uma sensação tão boa — confessou a engenheira.

— Então me diga sim e eu crio uma equipe inteira para você. 

— Leontine...

— Sabia que você é a última aposta do meu pai? Há dois anos ele tem esquecido de certas coisas, mês passado ele não se lembrou que Carla Bruni é casada com o Nicolas Sarkozy, chegou a sugerir que seriam um casal bonito juntos, eles são um casal há quinze anos e ele sempre foi próximo dos dois. Se esqueceu que a Angela Merkel não está mais no cargo de chanceler da Alemanha, mas ele se lembra de você, ou melhor, de vocês.

— De nós?

— Sim, ele sempre teve um apreço pela astronomia e acompanhou ferozmente todos os momentos. Tenho uma irmã de doze anos e a missão de vocês foi a última coisa que eles conseguiram acompanhar juntos de verdade, é algo pessoal. Claro que a Red Bull adoraria te ter na equipe, mas isso significa muito mais do que eu gostaria de admitir. Quero dar a eles uma última memória boa, se o seu carro cruzar a linha de chegada e entregar-nos um novo campeonato, esse vai ser o maior orgulho da minha carreira.

Leontine apoiou seu queixo no ombro e encarou o jardim florido, controlou seu corpo e exigiu que ele não derrubasse as lágrimas chatas, elas já deixavam claro que queriam descer, mas não cairiam. Lana abaixou sua cabeça e suspirou, não esperava nada daquilo e foi doloroso ouvir, ao longo dos meses, ouviu histórias sobre o quanto tudo mudou desde a sua partida, a vida já não era mais a mesma e nunca seria, contudo, certos impactos nunca foram fáceis de se prever. Esse foi um deles, a engenheira tentou formular uma resposta, mas nada pareceu suficiente ou adequado.

— Preciso que me diga o que quer e eu moverei os céus e todas as montanhas que precisar, posso bajular e pagar quem necessitar, mas a verdade é que farei qualquer coisa para dar a última boa memória deles, Lana. Você é extremamente inteligente, muito esperta e sei que tomará decisões corretas, tomou a primeira delas, quando decidiu torcer para essa equipe e nós queremos muito que goste de ser parte dela agora. Só me diga sim e eu marco uma reunião do meu pai com o seu chefe, acredite, ele consegue qualquer coisa.

— Sim, Cora. — Lana Rusak tinha um tom firme em sua voz, dava para ver que sua decisão fora tomada e há bastante tempo, seu desejo mais profundo. Duas palavras soltas de maneira gutural.

Phobos e Deimos| Max Verstappen.Onde histórias criam vida. Descubra agora