One Shots ( BSD)

Velhice Precoce

"Um dia, há seis anos, um arco-íris delicado e esmaecido desenhou-se no meu peito, e muito embora não se tratasse nem de amor nem de bem-querer, à medida que passavam os meses e os anos, esse arco-íris foi carregando as suas cores com grande beleza, e, até agora, jamais o perdi de vista. O arco-íris que surge no céu limpo depois de uma chuva tem existência efêmera e logo se apaga, mas o que nasce no coração da gente parece que não. Por favor, peço-lhe que o interpele. O que acha realmente de mim? Será que me tem em conta de um arco-íris depois da chuva? Que se apagou já há muito tempo?"

_____Dazai Osamu

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A vida é uma situação complexa e contínua. Estar vivo e viver são coisas diferentes e esse conceito não é novidade, muitas pessoas costumam falar "minha vida nem começou", ao par de que estão vivas há anos e ainda assim, parece que o fôlego de vida não foi, de fato, lhes concedido.

Existem momentos, geralmente curtos, em que você entende o real significado de "viver", como se o universo tivesse se alinhado para que uma luz de compreensão clareie seu interior, e então o mundo parece real, o vigor e o prazer de existir lhe rasgam o rosto num sorriso, ou talvez lhe transborda os olhos em lágrimas, seja isso causado por bons ou maus motivos. Circunstâncias onde, as sensações são tão pesadas e palpáveis que você pensa, "essa é a vida", ou então "viver é isso", como se houvesse uma necessidade profunda de suas emoções o confirmarem que de fato, você existe, o tempo está passando, as coisas estão acontecendo, a vida está seguindo como um grande maquinário.

Quando o tempo passa, as pessoas ficam velhas, coisas, notícias, tendências, ficam velhos e passam a ser gradualmente esquecidos até que só sejam relembrados em seu fim definitivo, ou em sua volta triunfante. O novo é sempre mais agradável para a maioria, principalmente objetos, mas há um consenso de que pessoas novas não são tão agradáveis assim, ainda mais se estiverem na categoria "adolescente". Dazai também não gostava muito deles apesar de, até pouco tempo atrás, ter feito parte dessa espécie de ser humano imaturo.

Pessoas imaturas trazem irritação, problemas, e principalmente, acarretam uma atenção maior. Apesar de imaturidade, com o passar dos anos, ter se desvinculado aos poucos da idade dos indivíduos, ainda há uma verdade implícita e cotidiana que mantém os estereótipos firmes em seus fundamentos. Um desses estereótipos sobre gente nova, é o fato de não levarem a vida á sério e curtirem como se o amanhã não trouxesse suas marcas.

O que significava "levar a vida á sério", Dazai não sabia dizer, mas sabia perfeitamente que era algo que, em seus 18 anos existindo, não fazia, nem pretendia começar a fazer em momento algum.

Sua vida toda, até aqui, tinha sido uma mera existência, não passava de um ser vivo desperdiçando o que o mundo lhe dava, como um parasita inútil no grande organismo da vida. Osamu não gostava daqueles momentos onde sentia-se, de verdade, vivo. Tais momentos o traziam um desespero e agonia que transbordavam em seu peito, e a vontade de morrer se tornava gritante, sentir-se vivo o lembrava que era um fracasso de ser humano, o fazia perceber que ele tinha infinitas possibilidades de transformar sua existência em algo significante, e tal pensamento o aterrorizava ao ponto de perder o ar dos pulmões.

Saber que você está vivo, o tempo está passando e você não está fazendo nada com sua existência, era aterrorizante. Entender que sua vida dependia de suas decisões diante das circunstâncias, e até agora tudo o que fez foi passar dia após dia e ano após ano apenas existindo, era sufocante tal qual um estrangulamento. Osamu odiava esse sentimento e fugia dele como o diabo foge da cruz.